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23 DE ABRIL DE 1940 49

Ver-se-á o grande número de pequenos, pequeníssimos proprietários rurais que existe entre nós e o extremo a que chegou em Portugal, nalgumas regiões, a pulverização da terra 24.

No Brasil, disse, em 1929, o engenheiro agrónomo Sr. Emídio Inso, no Jornal do Comércio e das Colónias, existiam em 1923, pertencentes a portugueses, cerca de 9:500 propriedades agrícolas, com uma superfície superior a 3 milhões de hectares.

Não tenho dúvidas: muitos proprietários rurais do continente iriam, com a sua experiência e com os seus capitais, para Angola e Moçambique se soubéssemos preparar o meio para os receber e se os auxiliássemos, como devíamos, ma liquidação do» seus haveres na metrópole, nas suas passagens, na sua instalação em África, na exploração das suas fazendas durante os primeiros tempos e na venda dos seus produtos, não se lhes faltando também com o credito indispensável, propulsor da sua actividade.
Certo é, porém, que nada se tem feito e nada se faz para os atrair.
Tudo está pois em se orientar o problema nesse sentido, fazendo a tempo uma conveniente e inteligente propaganda.

O confronto das facilidades que se prometem no projecto «tos colonos da colonização dirigida com as que se prometem no mesmo projecto aos da colonização livre c de molde a afastar, e não a atrair, os que, emquanto a mim, seriam os bons colonos para Angola e Moçambique.

Dentro da orientação que defendo, e visto que o sucesso de uma obra de colonização agrícola depende, em grande parte, dos colonos escolhidos, incumbiria dessa escolha - bem entendido, de entre os que se apresentassem com um capital mínimo e reunissem certas condições - a Junta de Colonização Interna, onde existem funcionários muito competentes e sabedores e que se estão especializando nos problemas da colonização interna do continente.
Talvez ainda fôsse mais longe na cooperação a pedir a êsse organismo para a colonização agrícola de Angola e Moçambique, dado que este problema é no fundo um grande problema técnico e que não abundam entre nós os técnicos desta ciência.

Avanço até à afirmação de que a colonização agrícola no ultramar se deveria fazer, pelo menos de início, aproveitando os conhecimentos e a experiência dêste interessante organismo do Estado. Vejo cousa semelhante na Itália pela cooperação na Sociedade Promotora da Colonização da Cirenaica de um organismo de colonização interna daquele país.
De resto não deverá esquecer-se que um problema de colonização agrícola, quer seja no Alentejo quer seja em Angola, é sobretudo um problema agrícola.

Reatando o fio das ianhas considerações, ocorre ainda preguntar: se nada está feito para tomar viável a colonização livre, como poderá vingar a colonização dirigida?
Se o crédito agrícola, por exemplo, falta para uns, que garantia pode haver do sucesso dos outros?

Colonos inteiramente desprovidos de recursos não os querem os países do novo mundo, onde é grande a experiência em matéria de colonização agrícola; não os querem as colónias de África vizinhas de Angola e Moçambique onde se faz povoamento europeu; não os quere, tampouco, o país muito rico que é a África do Sul. Tudo isto seria fácil provar se tivéssemos tempo e espaço.
Não os querem também as nossas colónias, posso assegurá-lo, pois dizem que esses colonos acabarão por ir engrossar o número de brancos pobres nelas existentes, que já não é pequeno.

«Os brancos pobres, sem trabalho, desgraçados, miseráveis, em terra de pretos, disse alguém, são o último degrau da escala social».

«O tempo do emigrante que como riqueza levava o seu braço e como ciência a simples vontade de fazer fortuna parece ter passado», disse Armindo Monteiro.
Segundo aquele antigo Ministro, para as colónias, «colonos com recursos e com saber agrícola que constitua uma formação profissional» 25.

A Comissão de Colonização do Império Britânico, durante a conferência imperial de 1923, acentuou que a simples transferência de indivíduos da Grã-Bretanha para os Domínios não resolvia o problema da colonização. Disse mais que só sistemas de colonização maduramente estudados e cientificamente estabelecidos poderiam ter sucesso.
E recordou também que os movimentos emigratórios são sobretudo activos em períodos de prosperidade geral, quando há abundância de capitais 26.
A isto pode acrescentar-se que é de todos sabido que os antigos domínios não aceitam immigrantes senão com algum capital 27.

Até nas colónias africanas da Itália do norte de África, onde a mão de obra indígena por vezes falta para certos trabalhos, se exige aos próprios immigrantes italianos, candidatos ou não a colonos, a quantia precisa para o seu eventual repatriamento 28.
Fala-se muito da colonização dirigida, promovida pelo Estado italiano, nas suas colónias do norte de

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24 Anuário de 1988:
Colectas (cada colecta um prédio) relativas a prédios rústicos, por escalões, até à de 50$ e superiores:

Até 3$ ................... 90:051
De 3$01 a 5$ ............... 110:157
De 5$01 a 10$ ............ 183:777
De 10$01 a 20$ ............. 221:908
De 20$01 a 50$ ............. 301:616
907:569
De mais de 50$ ............... 475:205

Total correspondente ao número ___________
de conhecimentos ........... 1.382:774

Isto emquanto a prédios. Emquanto a contribuintes, encontramos 343:829 pequenos proprietários de prédios rústicos, isentos, por serem os seus rendimentos colectáveis inferiores a 15$.

No concelho de Cuba, cm pleno Alentejo, existem, segundo a planta cadastral, 2:863 prédios rústicos com menos de 1 hectare.
No do Mogadouro existem 92:629 prédios, ocupando 76:058 hectares, seja com uma superfície média também inferior a 1 hectare.
25 Discurso na 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, transcrito no Boletim Geral das Colónias n.° 109, de Julho de 1934, p. 248.
26 Chronique mensuelle des migrations, Bureau International du Travail, transcrição no Boletim Geral das Colónias n.° 21, de Março de 1937, p. 235.
27 Informação do agente gemi das colónias de Portugal em artigo publicado no Bulletin Périodique de la Société Belge d'Études et d'Expansion, transcrito ao Boletim Geral das Colónias n.° 51, de Setembro de 1929, p. 216.
28 Georges Guyot, L'Italie devant le probléme colonial, p. 178.