144 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 95
deixar de fazer sinceros votos por que o Governo inscreva no orçamento u verba necessária para a construção dessa cidade universitária.
A Universidade de Coimbra tem desempenhado sempre um papel proeminente na orientação do pensamento português. Ocupa um lugar de relevo na nossa cultura e que se não limita apenas a vida interna, mas que tem a sua projecção na vida externa, visto que se prolonga para além das fronteiras o brilho com que a Universidade de Coimbra tem desempenhado a missão que lhe compete. Ele é por sua natureza a Universidade tradicional de Portugal; tem os seus créditos e a sua tradição já firmados. É pois, para desejar que esta Universidade de Coimbra não se coloque num plano inferior às demais Universidades do País. Considero que nisso vá até o interesse nacional.
Mas, Sr. Presidente, todos nós, os que passámos e os que conhecemos Coimbra, sabemos que a Universidade se encontra com instalações inteiramente diferentes para a extensão do ensino e para bem desempenhar neste século XX a função que lhe compete. Há, de facto, uma certa desordem na distribuição dos estabelecimentos de ensino em Coimbra. Assim, por exemplo, na Faculdade de Direito, que parece que devia ter todo o seu edifício a ela reservado, existe uma sala na Faculdade de Matemática. Na parte destinada à instalação da Faculdade de Ciências existem instaladas as aulas de medicina e a Maternidade fica já fora do perímetro e está afastada do centro de ensino da Universidade de Coimbra; fica longe.
De uma maneira geral, todas as instalações universitárias são hoje completam ente deficientes para nelas se ministrar o ensino, tal coimo hoje deve ser ministrado em Portugal.
A Faculdade de Letras, que é um edifício há pouco acabado de construir, é hoje inteiramente deficiente para nela se ensinar tudo quanto é possível, porque se aproveitaram os alicerces do Teatro Académico para deles se fazer uma Faculdade. É uma Faculdade sem alicerces. Precisa de ser ampliada.
Há outros problemas, hoje, a considerar.
Relembro a minha vida de Coimbra e vejo que na realidade havia nesse tempo, de facto, o ensino profundo, eficiente, nas aulas.
Os mestres das Faculdades de Coimbra dedicara-se inteiramente a sua missão de ensinar e vivem, bem pode dizer-se, só para essa missão, até com sacrifício de tudo quanto um homem da categoria intelectual de um lente pode aspirar na vida.
Mas, fora do aspecto pedagógico propriamente dito, estudante universitário tinha uma vida que não era inteiramente conforme o objectivo que se tem em vista quando se prepara um universitário.
Quero dizer com isto que a nossa vida era dispersa. Só as aulas constituíam propriamente a parte da nossa formação. Mas a acção educativa propriamente dita, mas o preenchimento dos momentos que nós tínhamos livres das aulas, não estava devidamente organizado. Não se cuidava da cultura física dos estudantes da Universidade. Não tinha sequer nesse tempo a Universidade uma associação académica, que hoje já tem, embora também dentro de um espaço restrito e acanhado, com amplitude que não é aquela que importa que seja para os tempos que vão decorrendo, em que é necessário preparar integralmente o estudante, que há-de ter depois, na vida, uma função de orientador que há-de pertencer às elites de um país, que são elas que conduzem e fazem progredir os povos.
Com a construção da cidade universitária dar-se-ia novo vigor à Universidade de Coimbra, colocando-a no nível que ela deve ter e que todos nós desejamos que ela tenha.
Se nas obras a realizar os dinheiros orçamentais se desviarem só para as outras Universidades, se as suas instalações materiais não acompanharem este ritmo do progresso e da vida, indiscutivelmente que a Universidade de Coimbra há-de colocar-se numa situação de inferioridade em relação às outras; e eu entendo que ela deve manter-se no nível mais alto das nossas Universidades, porque o seu definhamento só resultaria em prejuízo para a Nação.
Foi nomeada uma comissão incumbida de apresentar ao Governo o programa das obras da cidade universitária. O Governo tem certamente um plano dessa construção e sabe já o que se pretende fazer, qual a orientação que se deseja imprimir aos trabalhos a realizar.
Se o Governo, na lei de meios, fixou como despesa obrigatória verbas para os hospitais de Lisboa e Porto, estabelecendo ainda para esta última cidade a construção de um aeródromo, eu felicitar-me-ia, e felicitaria a Nação, se visse também aqui uma disposição que obrigatoriamente levasse o Governo a inscrever uma verba para a construção da cidade universitária de Coimbra.
Apoiados.
Assim não é, e, como eu ontem disse aqui e repito, o momento em que vivemos é realmente propício para a elaboração dos grandes planos de reconstrução nacional. E se o momento é propício, todos nós deveremos desejar que Coimbra comparticipe desta obra de reconstrução nacional, que ela beneficie naquilo a que tem direito e a melhoramento correspondente àquele que se vem constatando em todo o PUÍS. E mal é que se percam os oportunidades para se conseguir determinado objectivo na vida. Mal é, pois, se porventura, e por qualquer circunstância se não possa realizar em Coimbra, e neste momento, a cidade universitária. Suponho que a verba necessária para êsse efeito não será superior à que vem a despender-se com as Universidades de Lisboa e Porto. Quero crer, mesmo, que a verba que a Comissão propõe para n construção dessa cidade universitária será até inferior.
Entendi, por isso, que devia vir aqui fazer estas considerações em defesa da cidade universitária de Coimbra, para que ela possa desempenhar cabalmente a função que lhe compete, que tem desempenhado no passado e que continuará a desempenhar no futuro, como todos ardentemente desejávamos.
Tenho dito.
Vozes:- Muito bem, muito bem!
O Sr. António de Almeida: - Sr. Presidente: encontro-me agora nesta tribuna com o intuito de apreciar, com o desenvolvimento que merece, o alcance extraordinário das intenções proclamadas no artigo 7.° da proposta de lei orçamental; refiro-me à execução do plano da rede de escolas de instrução primária e à construção da cidade universitária de Coimbra.
Sr. Presidente: um dos maiores objectivos do Estado Novo tem sido o combate ao analfabetismo; esta preocupação é novamente posta em realce no orçamento de 1941.
Para tal fim teve de conhecer-se, primeiramente, o Minero global de crianças do País em idade escolar; os trabalhos de recenseamento iniciaram-se em 1935 em todo o Continente e Ilhas Adjacentes.
Labor tom moroso e exaustivo foi realizado por comissões de recenseamento, formadas pelo presidente da Câmara ou da Junta de Freguesia (conforme a localidade), conservador ou ajudante do Registo Civil e pelo professor mais antigo do lugar, auxiliado por todos os seus colegas restantes.