146 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 96
as 375:167 crianças do sexo masculino e para as 354:151 do sexo feminino, tantos quantos são os portugueses metropolitanos em idade escolar; só então o desaparecimento do analfabetismo entre nós será um facto real e concreto.
r. Presidente: quando, em outro discurso, enumerei o conjunto de obras de grande envergadura e interesse nacionais a que o Govêrno tem em mira dar efectivação no ano de 1941 -e que serão para o futuro os melhores padrões materiais da Era de Salazar- apelidei de cúpula maravilhosa de tam vasto e grandioso plano de construções a execução dos trabalhos destinados à criação da cidade universitária de Coimbra. E, na verdade, assim é.
Filho espiritual da Universidade de Coimbra, que muito se honra de o confessar aqui, foi com justificado júbilo e com o coração inundado de alegria que recebi esta fagueira notícia. Não a considero simples aspiração, que, aliás, de bem longe vem, mas promessa segura e iniludível - como todas as do Governo do Sr. Dr. Oliveira Salazar - cuja efectivação prática não tardará muito em revelar-se com todo o desenvolvimento e grandeza.
Da douta e sapientíssima Universidade de Coimbra - o centro científico e cultural mais antigo e prestigioso da Nação e dos mais considerados do mundo - era grande devedor o Estado Novo, que dela parecia ter-se esquecido.
Enquanto as outras Universidades portuguesas - onde não há uma única escola em que não preleccionem, enaltecendo-as brilhantemente, professores ou antigos alunos da Universidade de Coimbra- recebem ou lhes prometem grandes dotações permitindo-lhes construções ou melhoramentos importantes como o Instituto Superior Técnico, a Escola Superior de Medicina Veterinária e o Instituto de Oncologia, Reitoria e Faculdades de Letras e de Direito e um grandioso Hospital Escolar em Lisboa, e Faculdades de Engenharia, de Medicina e de Farmácia, Maternidade Júlio Diniz e o Hospital Escolar no Pôrto - a Universidade-Mãi, quási abandonada dos Poderes Públicos, escassa ou nenhuma verba obtinha para valorizar as suas instalações ou, ao menos e no interesse do património da Nação, obstar ao desmoronamento, lento mas progressivo, de algumas das suas dependências, ainda que condenadas higiénica e pedagogicamente, mas cujas deficiências materiais têm sido supridas pela abnegação sem igual, carinho e paixão ilimitados dos seus eminentes Mestres.
O Arquivo da Universidade, que é, simultaneamente, distrital, por insuficiência de compartimentos, dispersa os seus exemplares por todos os espaços livres, com risco de se perdurem, encontrando-se já na impossibilidade de receber as publicações que, por lei, são obrigatoriamente para lá enviadas.
Na Biblioteca Geral, centenas de milhares de volumes de raro valor estão prestes a inutilizar-se pela acção dos agentes meteóricos ou parasitários.
Na Maternidade Dr. Daniel de Matos, muito primitiva, há deminuto número de camas, motivo por que, e a exemplo do que se passa nos restantes hospitais da Universidade, por ser vulgar o excesso da sua limitada lotação, têm de acomodar-se muna só cama duas ou mais doentes!
As portas de alguns edifícios, por velhas e deteriorados, já não se fecham, as janelas, sem pintura, desconjuntam-se, e, devido á arcaica e ultra-primitiva instalação eléctrica, as instalações da Universidade estão na contingência de se incendiar, mal tanto mais de recear quanto é verdade que nenhuma das suas instalações nem o respectivo equipamento se encontram protegidos pelo seguro!
Os laboratórios e outras instalações de investigação científica não possuem material conveniente, e o que têm está velho e inutilizado ou já condenado pelas modernas técnicas; por esse motivo o ensino coimbrão tem sido acoimado de teórico e livresco, não por culpa dos seus professores - dos mais actualizados e competentes que Portugal se orgulha do ter- mas, símplesmente, porque o seu saber e probidade, por carência de elementos de trabalho prático, a mais não podem conduzir nem chegar.
Desde as instalações dos serviços gerais da Universidade até às das Faculdades, pode afirmar-se, sem receio de errar, que todas são deficientes e, por vezes, impróprias.
A Reitoria e a Vice-Reitoria, como a Secretaria Geral, não têm acomodações condignas nem podem corresponder bem aos seus fins; o rendimento dêstes serviços ressente-se grandemente da distância que os separa, e, no caso particular da Secretaria Geral, as suas dimensões são de tal modo limitadas que é impossível trabalhar com ordem e método, mas sim tumultuáriamente, sobretudo no princípio c fim do ano lectivo - quando se trata de abertura e de encerramento das inscrições.
A Biblioteca Geral, além dos males de que enferma, por se tratar de uma obra de arte, não pode continuar a ser casa de trabalho, mas deve destinar-se a Biblioteca Histórica e Monumental.
E é doloroso ver que em várias dependências universitárias continuam dispersas e sujeitas a desaparecer ou a desvalorizar-se excelentes obras históricas e artísticas; estas, reunidas em edifício apropriado, constituiriam um magnífico Museu Histórico da Universidade, que bem falta lhe faz e á Nação.
A Faculdade de Letras ocupa um edifício novo, mas, por defeito de origem - iniciara-se com o fim de servir pura Teatro Académico-, não corresponde às necessidades docentes, já que mais de dois terços da área da sua construção se acham substraídos ao fim principal a que deviam ter aplicação.
A Faculdade do Direito carece de alargar as suas instalações, o mesmo acontecendo ao Instituto Jurídico.
As Secções da Faculdade de Ciências albergam-se em instalações dispersas e nem sempre bem adequadas.
A Escola de Farmácia, instalada na «Casa dos Melos», não possue dependências necessárias, razão por que os seus laboratórios só encontram muito afastados da sede.
Sr. Presidente: se guardei a Faculdade de Medicina para o fim das minhas considerações sobre as necessidades mais urgentes das instalações universitárias coimbrãs é porque ela é, de todas os escolas superiores coimbrãs, aquela que mais carecida está de dependências, quer privativas quer hospitalares, pois o estado actual das que possue, em verdade, está muito abaixo do mínimo indispensável, tamanha é a sua pobreza e dispersão.
Porém, Sr. Presidente, no lado dos melhoramentos propriamente escolares que acabo de apontar, absolutamente indispensáveis à execução do plano por que o Governo vai interessar-se imediatamente, para que a cidade universitária seja uma realidade completa e possa alcançar inteiramente os seus objectivos, como desejam professores e alunos, impõe-se olhar também para um certo número de realizações para-escolares, de que a Associação Académica ou Casa dos Estudantes, o Campo de Jogos e as Residências dos Estudantes são a mais instante expressão material.
Neste século de egoísmo feroz é consolador verificar que existe uma preocupação mais alta, infatigável e calorosamente defendida pelos Mestres coimbrões, ao afirmarem que os estudantes portugueses tem necessi-