140 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 95
Esta quantia provém dos saldos dos exercícios findos; eis a melhor resposta a dar àqueles que estranham que, subindo a tam alto o somatório dos saldos das contas públicas, não compreendem por que continua a manter-se o imposto de salvação pública, inteiramente destinado a ajudar a manter o equilíbrio orçamental.
Ao contrário do critério até agora geralmente acreditado, e que preconiza a dispersão dos serviços hospitalares por pavilhões, cada hospital escolar constitue um único estabelecimento em que prevalece a disposição vertical das suas dependências, excelentemente ligadas por numerosos ascensores; assim, os serviços poderão dar melhor rendimento, sem necessidade de maior esforço do pessoal.
Cada hospital escolar terá 220 metros de comprimento e 130 de largura, onze andares, dois dos quais abaixo do solo, e mais de 3:000 janelas.
Apesar de ficarem os edifícios maiores de Portugal, excepção feita para o Convento de Mafra, que os excede em 10 metros, o seu aspecto geral, de linhas modernas e elegantes, longe de ferir a nossa vista de ocidentais, agrada e encanta pela grandiosidade, harmonia e equilíbrio das suas partes, inteligentemente dispostas, sendo a altura compensada pelas grandes dimensões horizontais de modo a nem sequer lembrar os arranha-céus americanos.
Cada hospital universitário forma um belo conjunto arquitectónico, no qual se distinguem dois grandes corpos paralelos com os seus eixos na direcção nascente-
poente, ligados por alas transversais orientadas na direcção Norte-Sul.
Nos andares subterrâneos instalar-se-ão, no mais baixo, a casa das máquinas, motores, cozinha, serviço de distribuição de alimentos, etc., e o mais alto é reservado para as policlínicas.
No Hospital Escolar de Lisboa ficarão todos os serviços da Faculdade de Medicina, que ocupará a ala Norte; todos os serviços do actual edifício do Campo de Santana - depois adaptado a outro fim, à Escola de Farmácia, - por exemplo passarão para o novo hospital de Lisboa, o mesmo acontecendo aos serviços escolares dos hospitais de Santa Marta, de D. Estefânia, D. José, Manicómio Bombarda e Institutos Câmara Pestana, Gama Pinto e Ricardo do Jorge.
As clínicas sobrepõem-se em andares ligados por elevadores da vária índole, sem que se verifiquem cruzamentos de corredores; dos elevadores, quinze destinam-se a doentes, três a professores, alunos e visitas, um a animais, quarenta e um a transporte de alimentos e três são para os cadáveres.
O problema difícil e assaz complexo da circulação nos corredores e elevadores - dos doentes, dos alunos, das visitas, dos cadáveres, dos alimentos, das roupas limpas - e das roupas sujas- foi estudado com a mais meticulosa atenção, acabando por ser resolvido sem jamais haver quaisquer cruzamentos ou interferências perturbadoras do sossego indispensável ao tratamento dos doentes. Neste aspecto, os hospitais escolares portugueses, segundo opinião autorizada do seu autor, arquitecto Diesel, possuem uma circulação ideal que de futuro vai ser utilizada nos seus projectos hospitalares; por ser inteiramente original e a melhor até hoje conhecida, o Prof. Francisco Gentil e Diesel, se não fora a guerra, teriam ido apresentar ao Congresso Internacional dos Hospitais, de Toronto, uma tese sobre este importante problema.
A entrada dos alunos e médicos, das visitas e dos doentes faz-se por meio de três rampas de acesso a pisos sobrepostos e inteiramente independentes: os primeiros pela mais baixa, os segundos pela média e os últimos pela superior.
Os cadáveres são conduzidos, através de um corredor subterrâneo, para a capela, habilmente encoberta por árvores e de onde se sai também por uma galeria subterrânea.
As aulas acham-se tanto quanto possível instaladas no rés-do-chão. Ali também ficam os quartos particulares (oito quartos, com uma ou duas camas) em que os professores e assistentes poderão ter doentes particulares mediante as condições a combinar com a direcção do hospital; deste modo pretende-se prender mais intensamente o médico ao hospital e à sua cátedra e evita-se que disperse o seu tempo por clínicas estranhas.
As enfermarias são, umas de cinco camas - as maiores (em cada serviço há quatro camas desta ordem) e outras, de três camas, para isolamento, onde se podem internar mais pessoas em caso de necessidade; no hospital escolar há um isolamento geral, em que, de facto, cada doente está num quarto privativo.
Todos os serviços ficarão admiravelmente instalados; por exemplo, o serviço de neuropsiquiatria possue internamento separado e amplo jardim, em que os doentes terão a impressão de que andam em liberdade.
Os serviços de tuberculose instalam-se nos últimos andares, para facilitar a cura solar, e os serviços operatórios ocupam a parte central do quinto piso; as dimensões das janelas destas dependências, mais amplas e de diferente formato, quebrando a uniformidade monótona das restantes janelas da construção, melhoram-lhe bastante o aspecto geral, assim mais atraente.
Houve a preocupação de desenvolver ao máximo as consultas externas, em prejuízo do internamento - o menor possível, por mais dispendioso e nem por isso mais útil para a administração do ensino ou para melhor assistência médica aos doentes.
Tudo nos novos hospitais está convenientemente considerado e foi objecto de porfiado estudo.
Os sistemas de ventilação e arejamento, de abastecimento das águas quente, climatização e tratamento, equipamento dos cozinhas, comando de temperaturas a distância, sinalização eléctrica, telefones, etc., são os mais aperfeiçoados dos estabelecimentos similares do nosso tempo.
Sr. Presidente: se a construção dos hospitais escolares é bem complexa, não o são menos o seu apetrechamento e direcção administrativa.
De acordo com o pensamento do Governo, o desejo dominante da Comissão Administrativa dos Novos Edifícios Universitários - para quem o estudo e construção dos hospitais escolares constitue verdadeira paixão - consiste em utilizar ao máximo a mão de obra e os materiais portugueses.
Deve confessar-se que a industria nacional não está preparada para produzir por ano 1:000 camas, 10:000 lençóis, anilharas de fronhas, travesseiros, colchões, cobertores, etc., mês poderá consegui-los durante dois ou três anos.
Este problema industrial repercute-se consideravelmente na vida económico-social do nosso povo porque assim muitos milhares de pessoas vão ser empregados, desde a construção civil - cimento, pedra, madeiras, carpinteiros, marceneiros, pintores, etc., as indústria;) metálicas - camas, mesas, cadeiras, etc., - até à indústria de fiação; dos 100:000 contos a despender com o equipamento dos hospitais, apenas o absolutamente indispensável, como raios X, parte do material eléctrico das secções médicas e pouco mais terá de ser estrangeiro.
A Comissão, sempre visando à máxima utilização dos recursos nacionais, já estudou os modelos das diferentes modalidades de apetrechamento e utensilagem hospitalar, trabalhos que o Governo está apreciando já; a mi-