118 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 116
Mais tarde, quando se apresentou em 1938 à Câmara Corporativa o plano de obras hidráulicas, o orçamento da obra do paúl de Magos figurava com a verba de 8:689.00.0$ e veio afinal a custar 9:466.000$, dobrando afinal o custo da obra desde o seu início até à sua conclusão.
É claro que o preço por Hectare, que estava por 8.134$62, passou a 17.000$, números redondos.
A barragem estava calculada para irrigar 720 néctares e passou simplesmente a irrigar 535.
Passemos agora aos campos de Loures. Esta obra teve três preços: o primeiro, por estimativa de uma firma inglesa, Macdonald & Portners, orçado em 2:681.000$. Essa obra previa uma pequena barragem, quê, felizmente para os interessados, se não realizou.
Depois, a Junta apresentou um orçamento de 4:655.000$, quási o dobro, e vindo afinal a custar 9:200.000$, passando o preço por hectare de 6.649$ para 9.200$... A barragem não se construiu, mas, se se tivesse feito, o preço por hectare viria a sei muito mais caro. A obra do paul de Cela foi também orçada pelos mesmos engenheiros em 2:289 contos, pela Junta mais tarde em 3:653 contos, e diz-se nesta plaguette-reclamé que publica a Junta de Hidráulica Agrícola, que custar á 4:740 contos. E diz que custará, porque provavelmente ainda não ficará por aqui.
Finalmente o campo de Burgãis, orçado em 1935 em 1:458 contos, mais tarde em 3:720 contos, deverá custar, diz a mesma plaquette, 4:030 contos.
Sobre a obra de Alvega poucas informações tenho, pois não fui capaz de entender as contas que foram apresentadas e1 por mais comparações que quisesse fazer não as consegui compreender. Mas para não deixar nada em claro direi que o que estava orçado em 2:550 contos passou para 2:860.
Ora, se estas obras foram feitas antes do período da guerra, por que razão haverá tam graúdo disparidade entre os orçamentos apresentados? E então fica no meu espírito uma preocupação maior: como V. Ex.ª sabem, há duas obras que estão em construção, uma a do vale do Sado e outra a da campina da Idanha. A primeira estava orçada em 116:000 contos e, segundo informações que tenho e estas não são da Junta, o custo dessa obra já está em 150:000 contos, o preço por hectare já está em 20 contos e a obra não estará concluída senão daqui a três ou quatro anos. Vejam V. Ex.ª a que preço, vai ficar, apanhando em cheio o factor, guerra.
Sôbre energia eléctrica, não sei dizer absolutamente nada simplesmente me preocupa a idea de que há-de ser d associação de regantes, que naturalmente será for fixada por pequenos agricultores, muito especialmente na Idanha, que terá de cuidar do assunto. Só sei dizer que é uma cousa que desejo ver realizada, pata destruir no meu espírito a convicção absoluta que tenho de que isso se traduzirá num insucesso completo, porquanto reputo esses regantes com a mais crassa incompetência para efectuarem negócios desta natureza. E agora, Sr.ª Presidente, vou passar a Outro ponto dó meu aviso prévio.
Será provável que a taxa de conservação, iguale ou exceda a taxa de beneficiação?
Já vimos, Sr. Presidente, a quanto subiram os encargos do custo da obra. Todavia ainda não vimos tildo.
A taxa de conservação, calculada em limites razoáveis, atingiu números verdadeiramente fantásticos. Eu passo a ler a V. Ex.ª os que encontrar.
Obra de Magos. A despesa de conservação custou, em 1938, 252$ por hectare em 1939, 501$ è, em 1940, 996Ç97. A despesa da beneficiação foi de 708$. .Pregunta-se: neste crescendo onde é que isto vai parar.
Obra de Cela. - A conservação deste paul estava calculada em 53.000$, mas veio a custar, em 1940,380.000$, números redondos?
Obra de Loures. - Estava prevista a importância de 70.000$ para a esta conservação. Em 1939, porém, gastaram-se 326.000$ e «m 1940 despenderam-se 535.000$.
Obra de Burgãis. - A verba prevista era de 36.200$, mas gastaram-se, em 1938, 45.000.$, depois, em 1939, 44.000$ e, em 1940, 55.787$.
Obra de Alvega. - Tinha sido prevista a quantia de 60.000$ para conservação. Porém, em 1939 gastaram-se 56.692$ e em 1940 despenderam-se 372.000$.
V. Ex.ªs compreendem facilmente que tam avultadas verbas de conservação alteram por completo todos os cálculos da Junta. E para não estar a aborrecer V. Ex.ªs continuamente com números, direi apenas o seguinte:
Tomemos por exemplo Cela, em cujas contas a hidráulica agrícola esperava, depois da obra feita, um lucro de 179.000$. Gomo a verba de conservação passou de 53.000$ para 380.000$, isto é mais 327.000$ do que o que estava calculado, torna-se evidente que p tal lucro líquido de 179.000$ se transforma num prejuízo de 148.000$.
São contas de uma simplicidade tal. que qualquer pessoa as pode fazer.
Eu podia continuar a citar números semelhantes para cada uma das obras realizadas. Mas não vale a pena, visto que as verbas são de tal forma chocantes que elas certamente impressionam V. Ex.ª tanto quanto ê necessário.
E, pôsto isto, Sr. Presidente, vamos a outra pregunta do meu aviso prévio: «Será conveniente que o Estado, sem esperar que os regantes se refaçam do abalo económico resultante da passagem da cultura de sequeiro para a de regadio, exija imediatamente quantiosos aumentos de contribuições?».
Parece que seria já suficiente para desanimar os proprietários interessados, nestas obras o excessivo custo da sua conservação, os espantosos aumentos nas obras de conservação, e, todavia, ainda não tinham atingido o cimo da sua tragédia.
Como V. Ex.ª sabem, a passagem da cultura de sequeiro para a de regadio implica um aumento de despesa, que se calcula em quatro ou cinco, vezes. E não é muito difícil compreender porquê. Uma terra irrigada tem muito mais trabalho, carece de muito maiores adubações, e é essa a explicação por que custa b seu trabalho quatro a cinco vezes o que se gastava quando estava de sequeiro. E então V. Ex.ª compreendem que os proprietários sofrem um abalo económico enorme com esse aumento.
Pois, sem se esperar que o proprietário se restabeleça deste abalo, supondo que basta chegar a água à terra para transmudar em riqueza a penúria do proprietário, o Estado cai em cima destes proprietários com exigências de contribuições verdadeiramente formidáveis. No último congresso de hidráulica agrícola em Espanha, realizado em Valladolid em 1934, o Sr. Leopoldo Ridmejo, que é uma pessoa de categoria, em Espanha, neste capitulo, disse o seguinte:
«Ao proprietário põe-se-lhe hoje a água numa vala principal por 50 por cento do seu custo e ainda o Estado lhe adianta a sua parte para pagar em vinte e cinco anus, com o juro de 1 1/2 por cento. Se com esta ajuda ao proprietário capitalista se lhe exige completar ò regadio e a. colonização implícita, a falência é certa, e o mesmo sucede se intenta fazê-lo por sua livre vontade.