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29 DE NOVEMBRO DE 1946 21

A atitude correcta, sensata e firme do novo governador de Goa - honra lhe seja! - e as declarações que fez após a sua posse tiveram pelo menos o condão de fazer renascer a confiança de todo um povo acobardado ante a perspectiva de um mandado de despejo a quem não quisesse submeter-se à bandeira de Além-Gates.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Supunha eu que muitas das frases que vos citei, conquanto pronunciadas por bocas altamente responsáveis, conteriam talvez essa dose de irresponsabilidade que por vezes caracteriza os propagandistas e os visionários em plena obsessão oposicionista.
Não chegava a compreender, por Exemplo, que mentes de juristas se permitissem arguir o nosso executivo das decisões de um tribunal judicial, que em terras com cultura social diferenciada -e na própria índia!- é um poder soberano e independente.
E não chegava a compreender que, se ao governo de uma província vizinha era permitido prender um socialista revolucionário que ia turbar a paz do seu povo com um discurso inflamado, se estranhasse que esse mesmo homem fosse preso na nossa terra, onde vinha declaradamente fomentar a sedição, com pleno assentimento dos leaders indianos.
O último discurso que tenho à mão, pronunciado pela mais alta entidade responsável do governo provisório, define claramente as intenções absorcionistas da Índia vizinha. Ei-lo, na parte que nos interessa:
Foreign possessions - There is no difficulty about French índia, as far as I can see. There is at pre-sent a difficulty about Portugnese índia, which, I regret to say, is in a deplorable condition at the present moment and for some time past now. Obvi-ously, this state of affairs cannot continue long in Goa. It is bad for Goa and bad for the people arbund Goa, but, for the moment, I em not aware of any governmental action to be taken, becanse, obviously, althongh it is a small bit of índia, it raises interna-tional issnes. If an international issne comes on our way, we will have to deal with it, but, for the moment, we have só many big problema to deal with, that an issue which might resolve by itself, needs not be raised by us, as Government. (Times of índia, 27 de Setembro de 1946).

Tradução. - Não há nenhuma dificuldade quanto à Índia Francesa, tanto quanto o posso julgar. Dificuldade há-a no presente quanto à Índia Portuguesa, que, lamento dizê-lo, jaz numa condição deplorável no momento presente e desde há algum tempo. É mau para Goa e mau para o povo à roda de Goa, mas por agora não prevejo nenhuma acção governamental a ser tomada, porque, por motivos óbvios, ainda que se trate de um pequeno pedaço da índia, levanta problemas internacionais. Se uma questão internacional surge no nosso caminho, teremos de a enfrentar, mas, por agora, temos tantos grandes problemas a resolver que uma questão que se pode resolver por si mesma não precisa de ser levantada por nós, como governo.
Não é preciso pôr mais na carta! Uma questão que se resolverá por si mesma. Como? Promovendo sedições no nosso País com agentes estranhos à nossa terra, comissionados para esse fim; absorvendo essa borbulha (pim-ple) sem um tiro (without a shot)
Pelo que vedes, as responsabilidades de governo, a deontologia inter governamental deixem-mo empregar esta expressão -, não acalmaram a sede revolucionária e absorcionista.
Bem ao contrário, para os políticos nossos vizinhos qualquer revolucionário tem o direito de entrar no nosso País e nós devemos andar nesse permanente desassossego de prende na fronteira, põe na fronteira, torna a prender, torna a expulsar», um jogo de escondidas que seria ridículo se não contivesse algo de verdadeiramente grave!
E abertamente, ostensivamente, com grande publicidade em todos os jornais, se anuncia: e Fulano de tal vai a Goa para dirigir a organização da mocidade goesa a fim de lutar pelo estabelecimento das liberdades cívicas em Goa!».
E se o nosso Governo, para garantir a ordem e a paz no nosso território, e em pleno direito de soberania, quiser prender esse desordeiro, não faltará quem, à sombra da sua autoridade moral, mental e mística, diga ao povo: «Vamos agora a ver o que fazem o vice-presidente do governo e o vice-rei da Índia para que a

Anthority there may stop that injnstice». (Times of índia, 3 de Outubro de 1946).

Tradução. - A autoridade aí ponha cobro a essa injustiça.

Injustiça! Prender um intruso que vem roubar a paz da nossa casa! Diga-me o mundo inteiro, da cátedra augusta das melhores tribunas internacionais, se estamos vivendo numa era de razão e de justiça ou se se devem relegar essas expressões ao domínio da psiquiatria, como testes de demência, porque em indivíduos que o mundo venera como protótipos de bondade e de alta cultura mental não posso admitir que sejam manifestações de maldade ou de estupidez.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Basta, que já é longo o sudário que vos expus. Há algumas conclusões que com a máxima sinceridade desejo expor à Assembleia Nacional, à Nação inteira e urbi et orbi, para que todos me ouçam e Portugal marque a linha de conduta a seguir nesta conjuntura, que reputo muito grave!
Ninguém suponha que as minhas palavras encerram um vislumbre sequer de oposição ou de má vontade à independência da grande índia: todos nós fazemos os mais sinceros votos para que a estabeleçam sólida, forte e próspera, digna de um povo que tem uma história e uma cultura imorredouras.
Mas que deixem viver em paz e sossego a nossa pequenina terra, que não quer sujeitar-se nem aos distúrbios revolucionários que mancham de sangue e ódio as ruas das suas formosas cidades, nem ao nosso englobamento e absorção nesse grande colosso que nos quer tragar.
Para o meu espírito, livre de qualquer espécie de tutelas ou de preconceitos, essas conclusões são:

I. - Estamos cercados de uma atmosfera hostil, cuja insólita agressividade nos quer absorver e engolir.
Ainda há quatro dias no discurso presidencial do Congresso Nacional Indiano, se fizeram as seguintes afirmações, que não há uma voz que se permita rebater! Ei-las:
e Se os britânicos abandonarem a índia, como inequivocamente prometeram, é ridículo as autoridades portuguesas proclamarem que Goa faz parte do sen território, encontrando-se a milhares de milhas distante de Portugal». E acrescenta: «Quero assegurar ao povo de Goa que tem toda a simpatia do Congresso na luta por leis e direitos e que a Índia livre jamais tolerará a sua sujeição a uma tirania estranha».
Que estranha, insòlitamente estranha, concepção do direito internacional! Que dementada inversão de papéis nessa deliberada agressividade! Não é o Congresso, com