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64 DIÁRIO DAS SESSÕES -N.º61

mente seleccionados encontra-se mais perto de solução, apesar de não serem raros os casos de ausência total ou quase de bases científicas de trabalho, entregue a produção à rotina de um empirismo que reside a miúdo na receita deixada por um catalão muito entendido que por lá passou há meio século; ou os casos em que tudo se julga satisfatoriamente organizado com um único dirigente qualificado que se ocupa de todas as secções, desde a contabilidade ao laboratório. Mas ainda que não seja assim, ainda que a natureza do ofício ou na existência de quadros técnicos superiores permitam a um jovem operário diplomado fazer uso proveitoso do seu saber, este sentir-se-á quase sempre rebaixado entre companheiros que mal sabem ler, que nem sempre são capazes de compreender uma conta mais complicada, e que o recebem a ele, ainda hoje apagada minoria, com acolhimento nem sempre amigável.
Este tem sido o drama dos diplomados pelas escolas profissionais elementares; se lhe somarmos o pouco interesse que curtos salários industriais despertam nestes homens, possuidores de algumas aspirações, aliás legítimas em quem estudou cinco ou seis anos sobre o exame de instrução primária, acharemos justificação bastante para que muitos deles tenham fugido da carreira para que o seu curso, ao menos em teoria, os indicava.
E certo que a função da escola, como factor de cultura geral, não se perdeu; o fomento da produção pela melhoria do nível da mão-de-obra é que não foi integralmente atingido.
O drama do ensino elementar repete-se, atenuado, nos graus médio e superior; o panorama da organização económica não deixa ao ensino técnico condições de máximo rendimento.
A reforma da indústria é indissociável da reforma do ensino, como partes interdependentes de um todo. Por isso se regista a discordância de se abordar a revisão do ensino técnico, cuja organização actual se não reputa calamitosa, quando o fomento da indústria, estatuído em dois diplomas recentes (decreto-lei n.º 31:177, de 17 de Março de 1941, e lei n.º 2:005, de 14 de Março de 1945) e que justifica bem mais sérias apreensões, não tem avançado satisfatoriamente, para mais numa época em que passou a ser lugar comum referir as necessidades da economia e a vantagem de as suprir, sem perder tempo, pelo recurso ao desenvolvimento de todas as possibilidades industriais ou agrícolas. Do primeiro diploma fez-se pouco uso do segundo, tão largamente estudado e discutido nas duas Câmaras, não se fez nenhum e o flicto permite supor que nem sempre tem havido plena consciência do valor real do aumento da produção e do seu rendimento.
Não interessa a este parecer apontar ou defender critérios de desenvolvimento ou de organização industrial. Sem dúvida, haverá sempre indústrias grandes e pequenas, patrões cultos e ignorantes; sem dúvida também a divulgação do ensino técnico criará automaticamente melhoria da situação, porque será cada vez maior o afluxo de elementos, cultural e profissionalmente preparados, a render os que o tempo elimina. Mas não pode esperar-se grande fruto da lentidão natural com que as coisas marcham por si tal o motivo que leva a Câmara Corporativa a afirmar que sem uma reforma da produção parece não poder tirar-se inteiro rendimento de uma reforma de ensino profissional, cujo fito deve estar em oferecer a essa produção melhores instrumentos para que ela os aproveite em plena utilização.

II - Políticos, industriais e técnicos:

Tem-se falado tanta vez no papel dos técnicos na produção, tem-se apregoado tanto a sua necessidade que alguns menos avisados exageram estas verdades, que já ninguém discute, e passam sem dar por isso da verdade para o erro, quando pensavam alcançar unia verdade mais alta. E assim nasceu a ideia falsa de melhorar o governo dos povos com o advento da tecnocracia; e esta outra ideia, igualmente falsa, de que os técnicos criam a indústria.
Resulta de tais exageros uma confusão lamentável, que faz perder às ideias a clareza que as valoriza e faz ganhar às palavras uma vastidão que as compromete.
O político, o industrial e o técnico são três elementos dirigentes da produção, elementos com funções diferenciadas, que postulam aptidões distintas, mas onde as acumulações são permitidas e até porventura aconselháveis.
O técnico deve nascer de unia vocação ao serviço de uma formação, de uma simpatia a definia uma carreira; o político ou o industrial devem nascer, inversamente, de uma formação ao serviço de uma vocação, de uma inteligência cultivada a dar corpo a uma intuição; porque o primeiro é um profissional que se foi ma pelo estudo (melhor ou pior) e os segundos são (ou deveriam ser) tendências inatas que o estudo, qualquer que ele seja, faz amadurecer.
Daí o não serem simétricas as posições do primeiro e dos dois últimos, porque aquele pertence a um grupo que a escola criou e estes a uma selecção que a natureza fez sem distinção de escola, contanto que tenha havido alguma. Mas da amplitude que se dá ao sentido das palavras nasce o ser algumas vezes chamado ou chamar-se a si mesmo político (e não se ofende com isso a lei, que não regulamentou o título) o indivíduo que tem audácia em vez de formação; e nasce também o ter-se como industrial, ou capaz de o ser, o artífice que só tem habilidade ou o capitalista que só tem dinheiro.
O impulso inato ou a cultura adquirida, donde nasce a visão universal dos problemas realmente sérios, são tidos por dispensáveis. O self-made man americano, que pela Europa tem, justamente, tantos admiradores, é quase sempre mal copiado; porque da sua vida se conhecem os aspectos exteriores e se ignora o caminho, por vezes penoso, do autodidacta.
Num país económica e culturalmente são, os políticos, os industriais e os técnicos (em qualquer dos casos os verdadeiros, é claro) aparecem, por geração espontânea, nas proporções convenientes; mas quando os segundos rareiam (e não parece ousado afirmar que é o nosso caso), não cabe aos técnicos substituí-los como suplentes, porque pode legitimamente faltar-lhes a vocação e lhes falta quase sempre o capital, mas cabe antes aos políticos criar estímulos para que o seu número aumente. E se, com o nome de industriais, aparecem indivíduos que não têm preparação para cumprir como devem o que a Nação deles espera, não são os técnicos de qualquer grau que detêm o poder de os impedir de ocuparem posições que não merecem ou de os afastar de situações já criadas, mas onde se revelam incompetentes; nem sequer lhes cabe a obrigação de pensarem em tais dificuldades ou terem opinião sobre a maneira de as contornar. Contrariamente, ter sensibilidade para ver e resolver estes e outros problemas que estão na base da vida nacional é, por dever de ofício, a alta missão do verdadeiro político; e é por isso, e para isso, que os políticos mandam mais do que as outras pessoas.
Por tal motivo, não parece norma aconselhável, antes se tem por descabelado contra-senso, certa opinião, que às vezes corre, de forçar a criação de técnicos como maneira de activar a vida industrial, porque ao problema inicial, que subsiste, se vem juntar o da inquietação de um excesso de gente sem saída. Pensar que um novo órgão é condição suficiente para que exista uma nova função é desrespeitar a um tempo Lamarck e a lógica. E igualmente destempero supor que a escola, e