O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

10 DE DEZEMBRO DE 1946 65

não a vida profissional, forma o técnico perfeito, capaz de tomar sobre ai o encargo de dirigir; e apontar que não lia técnicos como o mal supremo de um paia onde faltam as actividades que os hão-de treinar é tão ilegítimo como estranhar que não- haja lagares de azeite na Noruega; porque se a oliveira pudesse florir nas terras geladas da Escandinávia, os escassos 3 milhões de rudes noruegueses, que souberam construir uma das maiores frotas mercantes e alcançaram na produção da electricidade o primeiro nível do Mundo, saberiam certamente montar as suas prensas e não teriam necessidade de mandar a azeitona a esta ocidental praia lusitana para que lha espremêssemos à maquia.
Desde Golbert ou Pombal, que procuraram onde os havia os artífices de que precisaram para o arranque dos seus programas de renovação, até aos dias de hoje, em que se rebuscam pela Europa devastada os técnicos da energia atómica - estes porventura com menos liberdade de recusarem o convite do que os seus antepassados de há dois ou três séculos -, sempre se tem julgado mais acertado e mais expedito recorrer aos que tomaram a dianteira e começar por criar com eles a função, deixando a esta a tarefa mais lenta de criar o agente, do que o caminho oposto de pretender começar do nada à custa dos próprios recursos, repetindo todas as diligências, sofrendo todos os reveses, por onde outros já passaram há larguíssimos anos. Outra modalidade da boa solução está em mandar os técnicos aos centros mais avançados, não para irem à escola ouvir dizer como se faz, mas para irem aos locais de trabalho fazer e ver fazer; e na conjugação das duas fórmulas reside por certo a maneira mais segura de ganhar tempo.
A ideia de que o ensino técnico pode preparar e manter em potência uns tantos especialistas, para surgirem como mestres consumados quando certa indústria vier a nascer, não tem a mais pequena consistência. E não é mais sólida esta outra de que o ensino técnico, só por si, é suficiente factor do fomento fabril.
Parece contudo que assim se tem pensado várias vezes. No relatório da reforma do ensino de 1911 (decreto de 23 de Maio) lêem-se estas palavras:
O nosso atraso provém apenas da insuficiência do nosso ensino técnico, insuficiência que ontem era um mal e hoje é um perigo, dada a luta da competência que é preciso suportar na concorrência aos mercados de todo o Mundo.
Anos depois, no relatório da reforma de 1918 (decreto n.º 5:029, de 1 de Dezembro), escreveu-se, com referência ao dever do Estado de promover a expansão das actividades económicas:
A nascente desses afortunados rios de abundância está apenas na escola. E mister organizar o ensino técnico em moldes que o tornem essencialmente prático e útil.
E mais adiante, ao defender a necessidade de desenvolver a indústria, já o mesmo documento dá ao ensino técnico uma posição menos categórica, de preponderância, mas não de exclusivo:
Entendemos que o pior mal poderá provir de não se resolver sem delongas o problema do ensino técnico.
É forçoso reconhecer que estas afirmações são ousadas. £ tendência do homem ver nos temas que lhe são mais gratos a chave de todos os grandes problemas; e com essa tendência se compromete, atribuindo a uma causa simples males de origem mais completa, que depois se verifica não cederem à terapêutica parcial. E foi o que aconteceu neste caso.
O ensino técnico é condição necessária, mas não suficiente, do progresso industrial; e o que é apenas necessário não constitui obrigatoriamente caminho único. Há nos raciocínios de 1911 e de 1918, como no de muita gente de hoje, uma parcela confusa; como a indústria impõe o ensino técnico, supus-se que a inversa também era verdadeira, mas houve nisto precipitação, houve má observação da Natureza, que nos revela a cada passo fenómenos irreversíveis. A prova está em que o diploma de 1918, como os que o antecederam e os que o seguiram, não teve a acção marcada que seria de esperar; houve apenas a lenta e natural infiltração que o desenvolver do ensino técnico tem sempre no desenrolar da produção. Ao fim de tantos anos de se pensar no problema, continuamos a ter má indústria e sofrível agricultura.
O próprio relatório do diploma de 191S emenda-se, um pouco mais adiante, do exclusivismo que deu ao ensino técnico. Diz ele, a propósito da luta de concorrência, para que entende, e bem, dever apetrechar-se a nossa produção:
Quais os meios de resolver um problema de tal gravidade? Criando numerosas escolas e disseminando-as pelo País? Seria um erro proceder assim. É necessário integrar o ensino no espírito popular ... e criar a necessidade da utilização da gente preparada por meio desse ensino.
Ao verificarmos agora, passados trinta anos sobre estes textos, que nova organização do ensino técnico se oferece, desacompanhada de uma acção directa sobre a organização industrial, levanta-se a dúvida sobre se renascem as velhas e desacreditadas ideias quanto à acção decisiva do ensino técnico na economia.
Se as duas primeiras transcrições feitas acima, com seu ar dogmático de verdades, aliás muito discutíveis, em vez de se referirem ao aspecto restrito da escola técnica, se referissem à escola no seu sentido mais geral, outro seria o seu valor. Ao ensino técnico cabe indiscutivelmente a missão de ser o mais intransigente inimigo dessa revoada de conceitos irreais que tornam a ossatura da sociedade portuguesa; mas não lhe assaquemos uma responsabilidade que lhe não cabe e com que não pode. Atribuamo-la, sim, à escola na sua significação mais lata; à escola que ensina os técnicos a prepararem-se para o serem, a escola que ensina os que hão-de ser industriais a subir de plano, à escola que ensina os que hão-de ser políticos a alargarem as ideias para fora de certa roda de temas, que já fizeram o triunfo de Péricles mas sobre os quais passou a revolução da técnica no século XIX, em suma, à escola que faz de um grupo de homens esse conjunto orgânico que se chama uma nação.
Não se nega que há muito que fazer em Portugal no campo do ensino técnico; mas a Câmara Corporativa deseja acentuar esta segunda ressalva: a formação de técnicos de qualquer categoria não supre a escassez de industriais ou a falta de iniciativa dos políticos, nem dispensa o recurso da colaboração alheia.

III - Forma e matéria:

Vem dos alvores da civilização grega, desse remoto Tales de Mileto, que, com a fricção do elektron, ganhou direito ao título de primeiro electricista, a preocupação de explicar as transformações incessantes de quanto nos rodeia; e depressa se chegou ao dualismo de potência e acto. como quem diz matéria e forma nas coisas materiais.