O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

24 DE JANEIRO DE 1947 355

com efeito, um pouco fatigado, pois tinha feito a viagem de Coimbra directamente para a Assembleia Nacional.
Aproveito a oportunidade para testemunhar a V. Ex.ª o meu apreço e estima pessoal e a minha muita admiração pelas inegáveis e superiores qualidades de V. Ex.ª
Posso resumir o que ontem disse da seguinte forma:
Anelaremos bem avisados fugindo, no ensino técnico preparatório, ao enciclopedismo teórico, rejeitando a unificação da cultura geral que se pretende estabelecer. Entendo que devem ser incluídas no curso preparatório disciplinas de cultura geral e de cultura profissional, estas últimas podendo ser também óptimos elementos da cultura geral do futuro operário.
Houve ontem aqui um quiproquó por causa dos trabalhos do Bottai, o qual não indica as disciplinas que fazem parte do curso preparatório, o que não se deu com Rava.

O Sr. Marques de Carvalho: - Simplesmente, Bottai fez uma «carta do escola», ao passo que Ba vá fez um discurso o um trabalho num congresso, o que é diferente.

O Orador: - Não foi um discurso num congresso. Rava sintetizou o que se fazia na escola em matéria de ensino industrial.
É uma exposição simples e clara do ensino industrial na Itália, ensino que compreende os seus diversos graus o indica as disciplinas que fazem parte do curso preparatório dessas escolas.

O Sr. Marques de Carvalho: - Mas nesta exposição nada está em contradição com a acarta da escolas.

O Orador: - Por isso lhe chamei quiproquó.
Disse no meu discurso do ontem quais eram as disciplinas que faziam parte do curso preparatório na escola italiana.
Não sou, portanto, contrário aos cursos técnicos preparatórios, mas acho inaceitável o programa da proposta.
Vou agora tratar do ensino complementar de aprendizagem.
Considero-o inoportuno c, trazendo-o do conceito puramente espiritual que o ditou para a realidade concreta, eis o que sucede:
Um aprendiz ganha à roda de 20$ diários. Como passa um quarto do dia, ou seja duas horas, na escola, o patrão dá-lhe 5$ diários por um trabalho que não é prestado. São, durante os nove meses do ano lectivo, cerca de 1.350$.
Há empresas ricas cujos proprietários têm consciência social o que não deixarão, no próprio interesse, como observa a Câmara Corporativa, de enviar os seus aprendizes às escolas complementares de aprendizagem.
Mas estarão amanhã essas empresas em condições de manter tal regalia, quando se restabelecer o equilíbrio económico?
Quanto às empresas pobres de meios, não pode pensar-se que elas tenham condições para arcar com esse dispêndio, que, só para quatro aprendizes, anda à roda de 5 contos anuais.
Se o ensino complementar de aprendizagem se tornasse obrigatório, não deixaria de causar grandes apreensões aos industriais.
Seria uma medida de tipo marxista, a que o nosso meio não está habituado.
Escrevendo sobre as possibilidades de frequentar cursos nas escolas técnicas, Kitchen, em As Escolas Técnicas e de Continuação, exprimiu-se deste modo:

Existe uma possibilidade em vinte e cinco em que o patrão consinta que o operário substitua o seu trabalho nocturno por um período correspondente durante grande parte ou em todo o seu período do estágio.

Se as dificuldades são assim na Inglaterra para o estágio dos operários, onde o patrão é pouco prejudicado, que diremos nós no nosso caso, onde se paga um trabalho que não é prestado? Considero esta medida inoportuna e, por isso, digo que ela me deixa um pouco céptico. Não me parece que esta medida pertença exclusivamente ao domínio do Ministério da Educação Nacional; ela deve ser objecto de estudo por parte dos organismos corporativos...

O Sr. Cerveira Pinto: - V. Ex.ª dá-me licença? V. Ex.ª incorre num erro de facto. Onde é que há aprendizes que ganhem 20$ por dia?

O Orador: - Olhe... na Câmara Municipal de Coimbra, onde os aprendizes electricistas ganham 21$!...

O Sr. Cerveira Pinto: - Mas há algum texto legal que estipule tal salário? Não há. Os aprendizes ganham salários muito inferiores a esse. V. Ex.ª tem o caso de um tecelão já feito, que ganha 19$.

O Orador: - Eu ouvi dizer que chegavam a ganhar 3.000$ por mês!...

O Sr. Cerveira Pinto: - Isso é o que ganha um mestre de tecelões.

O Orador: - Passemos agora ao ensino agrícola.
O ensino actual está cheio de deficiências e encontra-se mal ordenado. A reforma de 1931 parecia uma coisa, mas na verdade revelou-se um grave erro pedagógico.
Tenho o horário da Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, e no 5.º ano os alunos frequentam dezasseis disciplinas.

O Sr. Marques de Carvalho: - E acha V. Ex.ª que isso não precisa de uma reforma?

O Orador: - Evidentemente. Precisa de uma reforma, mas não é desta.
As condições em que a agricultura se desenvolve, a alternação das culturas, a verificação dos sucessos ou insucessos dos métodos empregados, as dificuldades e contratempos provenientes do clima variável nos vários anos, da natureza do solo e da psicologia dos próprios trabalhadores rurais tornam a adaptação profissional por meio de prática agrícola absolutamente necessária desde o l.º ano.
A vida agrícola só pode existir para aqueles que se apercebem, por experiência vivida, do seu conteúdo, ao mesmo tempo sublime e caprichoso. E tudo isto é substituível por um exame de admissão? Não creio.
Também não é substituível por hortas e jardins.
Este trabalho de horta e jardim, praticado em recintos forçosamente pequenos e acanhados, reveste um carácter de artificialismo, que é absolutamente contrário à própria índole e natureza da vida do campo.
Aqui não pode haver intensificação do estudo profissional, nem de trabalho de oficina.
Estamos na dependência da oportunidade do tempo e dos anos e não nos podemos esquecer de que temos de ter isto em conta.
Porém, pela proposta ato se criam cursos agrícolas acelerados, como se o legislador tivesse pulso para dirigir o Sol.