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5 DE MARÇO DE 1947 738-(15)

No que respeita a competência o caso é diferente. Na verdade, neste aspecto já não podemos dizer que se não tenham encontrado deficiências graves, quer no referente à competência económica, quer no referente à competência administrativa.
Não tinha-mos, ao intensificar-se o movimento da organização, gente preparada. Teve, por isso, de entrar-se no domínio das improvisações. Os homens que se puseram à frente, dos organismos e eram capazes adquirira m si preparação necessária, e hoje são bons dirigentes, um pouco à custa dos organismos, mas são hora dirigentes; os que não eram capazes de por si, e fora do contacto de uma escola de dirigentes, adquirirem aquela preparação continuam como estavam antes. E não são poucos. Estamos a
referir-nos à preparação económica. Há necessidade de criar essa escola. No Conselho Técnico Corporativo foi em 1945 criado um gabinete de estudos, que, bem dirigido, poderia desempenhar essa função.
Como tem - estado a funcionar - ou a não funcionar - não parece que. venha a produzir os efeitos que era lícito esperar dele. Se se orientasse no sentido de aí serem feitos estudos monográficos dos produtos e actividades que mais interessam à economia nacional, sem esquecer as repercussões sobre eles da economia mundial, poderiam aqueles que os acompanhassem adquirir a posse dos métodos de trabalho respectivos e a consciência de que há questões de que a cultura simplesmente livresca não é suficiente para nos fazer aperceber. E isto de saber que «.há questões» e de criar o hábito de lhes desenvolver toda a problemática, para depois a encher de soluções colhidas na vida, é muito mais importante do que à primeira vista pode parecer. É claro que para o gabinete de estudos, assim orientado, ser eficiente era preciso que os lugares1 nele ocupados, embora bem remunerados, não constituíssem um emprego, para se fazer neles uma contínua renovação. De outra forma, o mais que se conseguiria era apenas um centro de ciência oficial desnecessário, porque, como tais, temos outros melhores.
Quanto à competência de direcção administrativa, cremos que só verdadeiramente se adquire através da própria experiência da função. Fará isso é preciso, porém, ter a consciência de que se vai para o lugar, não porque este está vago e o pretendente desempregado, mas para o desempenhar. E não foi com esta consciência que muitos se instalaram ou foram instalados nos organismos de coordenação e corporativos. De aí o não serem capazes de desenvolver qualquer acção disciplinadora e criarem - mesmo situações de compromisso que lhes não permitem
desenvolvê-la. É preciso formar-se o espírito na ideia de que o desempenho de funções para que se não tem competência é um facto tão desonroso como roubar e de consequências anais desastrosas.
A lei deve ajudar a formar esse espírito, estabelecendo sanções graves para o facto; e os serviços devem secundá-la, aplicando-as.

12. Do pessoal não dirigente já se não pode dizer que nada de grave se tenha averiguado capaz de atingir a sua honestidade. Seria milagre se isso sucedesse. Acontece em toda a parte, no Estado e fora do Estado, haver gente desonesta, de modo que se não vê motivo para que os elementos da organização corporativa fizessem excepção. Inclinamo-nos a crer que aqui apareceu em maior, número. Não o averiguámos, porque não pudemos fazer estatísticas comparativas, mas inclinamo-nos a acreditá-lo. As razões já foram ditas para que haja necessidade de as repetir agora. Alguns já tinham cadastro quando entraram para a organização. Isso pode acontecer; o que se não desculpa é que, conhecido o facto, se procedesse como se o não fosse. Muitos já foram castigados, num caso ou noutro com benevolência excessiva; alguns ainda o serão.
No capítulo «competência» deve dizer-se que se encontram muitos funcionários excepcionais.
Basta percorrer o arranjo das respostas aos questionários para isso se reconhecer sem dificuldade. Não curamos de saber se recebiam l arpa, remunerações por horas extraordinárias, que eram atribuídas com liberalidade. Pela competência que revelam, esses. Momentos, devem tê-las merecido.

O que é frequente - e não cremos que seja pela preocupação do buscar os serviços dos mais competentes - é ter-se transferido para a organização corporativa o regime do acumulações com que nos serviços do Estado se pretendeu acabar e se acabou, em certa medida - talvez em medida mais extensa do que convinha ao condicionalismo português...
Para se não fugir à tendência já apontada mino uni dos vícios da organização, há certas funções exploradas, parece que em regime de exclusivo, por um pequeno número. Isto tem importância, pelos ressentimentos que provoca e pelo que é de deseducativo que gente nova busque vencimentos que chegam a aproximar-se ou mesmo a exceder o dobro do limite máximo de vencimento permitido aos funcionários públicos. Não pode a comissão fazei- unia investigação completa sobre isto; mas sabe que existem casos do género.

13. Os desvios do pensamento inicial a que devia obedecer a organização e os vícios de funcionamento apontados eram, num país que corre ao jeito das primeiras impressões, por si suficientes para criar no espírito público o ambiente de desconfiança e mesmo de hostilidade que se conhece contra a organização e do cavar, ao mesmo tempo, em larga escala o desprestígio desta.
Ajunte-se a isto o que é consequência da guerra e não da organização e mais a especulação política a que aqueles factos e esta consequência ofereceram um flanco vulnerável e propício a todas as explorações e ter-se-á a explicação completa dó ambiente criado.
O que originou ou, ao menos na maior medida, agravou os clamores da opinião foi o estado de carência que temos sofrido e continuamos a sofrer. Mas este estado de carência não é uni efeito da organização corporativa; é uma consequência de condicionalismos criados pela natureza, sobre a qual nem a organização nem o homem, pelo menos através de uma acção ocasional, têm qualquer poder, e mais uma consequência da guerra.
Três anos agrícolas excepcionalmente maus não podem imputar-se à organização; um estado de carência que não é nacional, mas mundial, que nós sentimos muito menos fortemente do que tantos países o sentiram, não pode explicar-se por motivos de ordem nacional, mas mundial: foi a guerra. Isto é evidente e só o não vê quem não quer, isto é o tal especulador político.

14. Para se ajuizar do efeito da organização sobre a vida económica portuguesa nos últimos seis anos não vale atribuir à organização o que se sabe e conscientemente se nega - e é que o estado de carência se explica perfeitamente pelas causas apontadas. Há pois, que pôr a questão de outro modo.
Assim: o que seria a vida económica português nesses anos se não fosse a organização?
A lembrança do que ocorreu por efeito da primeira Grande Guerra oferece-se à meditação dos que a guardam. Deixemos a lembrança, que só existirá em pessoas já bastante idosas e, por isso, de memória enfraque-