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13 DE MARÇO DE 1947 821

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª só tem presunções. Que candura! Agora é quo V. Ex.ª está transformado em cordeiro.

O Orador: - Não conheço os industriais de lanifícios, não vivo no meio em quo eles vivem; por isso não conheço, nem indirectamente, os lucros que tiveram. Apenas presumo que tenham sido grandes, mas não o afirmo categoricamente, porque não é meu hábito fazer afirmações gratuitas.
Mas, já que chamaram a minha atenção para esses lucros, quero dizer, por homenagem à verdade, que os lanifícios, e principalmente os lanifícios de qualidade, foram as mercadorias que menos subiram.
Dos números que há dias se citaram conclui-se que os tecidos finos subiram de 30 a 80 por cento o máximo.
Subiram muito os tecidos populares. Custam o triplo do que custavam em 1939, mas, ainda assim, subiram menos do que a lã nacional, de que são feitos.
Esta verdade, por ser favorável aos industriais, não deixa de ser verdade.

O Sr. Nunes Mexia: - V. Ex.ª não ouviu dizer que a lã nacional era cotada num regime anormal por razões que foram enumeradas, não se podendo aplicar a ela o mesmo raciocínio que à lã livremente cotada nos mercados mundiais.

O Sr. Melo Machado: -V. Ex.ª, Sr. Deputado Cerveira Pinto, conhece muitos industriais que compraram quintas, mas não conhece lavradores que tivessem comprado fábricas. V. Ex.ª não conhece nada que não seja o problema do consumidor.

O Orador:-Acredito que haja industriais que tenham comprado quintas, mas também é verdade que houve grandes lavradores - do Sul, evidentemente - que tomaram conta de grandes companhias. E também os há que são sócios do sociedades comerciais e industriais.
Mas ia dizendo que é necessário que os tecidos desçam, e têm de descer com a importação de lã estrangeira e consequente baixa de preços da lã nacional.
Embora seja pouco forte na matéria, tenho para mim que os industriais e comerciantes de tecidos (armazenistas e retalhistas) devem ter ganho muito dinheiro com a súbita valorização das suas existências de lã estrangeira, no momento em que cessou a importação e se verificou a subida, levada ao exagero, da lã nacional.

O Sr. Figueiroa Rego: - Da lã em todo o Mundo!

O Orador: - Está bem; mas lá fora muitíssimo menos do que cá dentro.

O Sr. Carlos Borges: - V. Ex.ª dá-me licença?
Eu tenho ouvido dizer que quando os industriais passaram a ganhar mais dinheiro foi depois de se instituir o tabelamento.

O Orador: - Isso é ilógico.

O Sr. Carlos Borges: - Eu apenas quis informar V. Ex.ª de que entendo que não foi o stock das ias em 1939 que provocou os lucros excessivos da indústria.

O Orador: - Se V. Ex.ª me demonstrar que sem tabelas nós comprávamos tecidos mais baratos, então está bem. Agora, se não provar isto, eu não posso adoptar a opinião de V. Ex.ª

O Sr. Carlos Borges: - V. Ex.ª não conhece a economia pobríssima dos pequenos criadores que têm vinte ou trinta ovelhas. Estes é que são o grande número, pois os três ou quatro lavradores que tem centenas de cabeças de gado, esses não contam.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Isso não é exacto. Aqui todos os interesses importam, desde que sejam considerados no plano do interesse nacional.

O Sr. Carlos Borges: - Eu não quis dizer que esses grandes produtores não importavam, mas sim que os interesses dos pequenos eram mais para considerar.

O Orador: - Isso ó com V. Ex.ªs os dois. Mas estava eu dizendo que, só se proibisse a importação de lã estrangeira...

O Sr. Figueiroa Rego: - Estamos no condicionamento das lãs.

O Orador: - V. Ex.ªs estão permanentemente a interromper-me, não para me esclarecerem nem para serem esclarecidos, mas apenas com o fito de sabotarem o meu discurso.
Estava eu dizendo que, se se proibisse agora a importação de lã e se se mantivesse o preço da lã nacional, os industriais ganhariam rios de dinheiro com a valorização inevitante dos stocks de lã estrangeira que têm em seu poder, mas como este facto se daria em detrimento do consumidor, cá estou eu a bramar para que continue a importação de lã estrangeira na medida necessária para o abastecimento da indústria. E vou mais longe: que se importe tudo o que for necessário ao abastecimento da população, abastecimento que, como toda a gente sabe, tem descido abaixo do mínimo vital.
Se se não tivesse importado a batata, a carne congelada e a manteiga da Argentina o do Brasil, se não tivesse vindo o chispe da Dinamarca, se se não tivessem importado muitos outros géneros indispensáveis ao abastecimento, eu queria saber o que é que comeríamos agora e por que preço!

O Sr. Melo Machado: - E V. Ex.ª não acha que isso seria para lamentar? A atitude de V. Ex.ª é impolítica.

O Orador: - Não é nada impolítica, é verdadeira. E estou no bom campo, porque a política que seguimos é não só de sacrifício, mas também de verdade.

O Sr. Melo Machado: - Se V. Ex.ª tivesse importado a chuva nesses anos talvez isso não tivesse acontecido.

O Orador: - E se os manteigueiros, batateiros e marchantes, para camuflarem a perda dos chorudos negócios com a rarefacção daqueles produtos, quiserem chorar lágrimas de crocodilo pelas cambiais, pelo ouro de lei que se gastou com aquelas importações, que chorem à vontade. O que lhes garanto é quo não lhes emprestarei o meu lenço para enxugarem o pranto.
Falou o Sr. Deputado Melo Machado nos sagrados e sempre espezinhados direitos da lavoura, a eterna sacrificada; da lavoura sempre inclinada para a torra, a regá-la com o suor do seu rosto; da lavoura desprezada ...

O Sr. Melo Machado: - Especialmente por V. Ex.ª neste momento.

O Orador: - Mas a que lavoura se queria referir o Sr. Deputado?
À lavoura do Minho, de Trás-os-Montes, da Beira, da minha querida e nobilíssima Beira, que o grande Fialho de Almeida, por sinal alentejano, definiu como