3 DE DEZEMBRO DE 1947 15
Cardeal Cerejeira, exprimiu a um sábio padre indiano que proclamava a necessidade de conhecer as línguas e os costumes nativos para um missionarismo eficaz estas profundas palavras, que merecem registo:
Este método missionário não pode conciliar-se com as concepções imperialistas de nacionalismos estreitos que não vêem na evangelização senão um meio de expansão e de domínio nacional.
Ele nasce da caridade de Cristo. O seu fim é, acima de tudo, a glória de Deus e o bem das almas. Abraça todas as nações e todos os povos. As nações cristãs são as servas de Deus no plano. da Providência. Não lhes é permitido fazer do Senhor um monopólio nacionalista. Servi-l'O é seu dever e honra. Servir-se d'Ele é profanação.
Que a Nação Portuguesa, governantes e governados, medite nessas palavras e faça delas o mote para proclamar perante o Mundo revolto dos nossos dias a igualdade em Cristo de todos os portugueses de aquém e de além-mar. Será a melhor resposta às invectivas de que sobre nós de quando em quando se têm feito eco vozes deselegantes de censores aleivosos ou mal informados.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Duas palavas mais para concluir: essa magnífica demonstração da nossa espiritualidade e do nosso ideal de fraternidade universal não seria possível se não fosse a acção dinâmica de dois homens que é de justiça apontar para a bênção da posteridade: o Ministro capitão Teófilo Duarte e o Presidente Prof. Salazar. O primeiro, multiplicando-se em prodígios de actividade para que as delegações do ultramar tivessem o brilho que tiveram; o segundo, a alma insufladora de todos os eventos da vida nacional que nestes últimos anos se tenham evidenciado perante o Mundo em perspectivas de grandeza a rivalizar com os tempos mais áureos do nosso período seiscentista.
Souberam cercar-se de colaboradores que interpretassem o seu pensamento. Como Deputado da Nação, é meu dever pronunciar os seus nomes, para que no Diário das Sessões fiquem registados para o reconhecimento da grei portuguesa. É a energia incomparável do Dr. Braga Paixão, que o leva a dar solução a todas as dificuldades que tentem empanar o brilho da peregrinação; é a cooperação organizadora do Dr. João de Mendonça e de Eça de Queirós; ó o espirito previdente do Rev. Dr. Honorato Monteiro, que com tanto zelo se ocupou da parte religiosa da peregrinação. Mas uma coisa se deve afirmar: não fora a directriz tenaz, persistente, do Prof. Salazar e do Ministro Teófilo Duarte, encorajando todas as iniciativas, vencendo todos os obstáculos, e a nossa peregrinação a Roma não teria o brilho que teve.
Os homens passam, os eventos diluem-se na penumbra da História. Só os grandes ideais permanecem eternos quando insuflados por uma chama de espiritualidade que é a herança imortal da alma humana. É por isso que os nomes do Prof. Salazar e do capitão Teófilo Duarte serão sempre vivos no coração da grei portuguesa, como sendo os de dois iluminados que nestes tempos de deprimente materialismo souberam dar ao Mundo a imagem viva do alto ideal de espiritualidade que em todos os tempos caracterizou a nobreza da alma portuguesa.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Quelhas Lima.
O Sr. Quelhas Lima: - Sr. Presidente e Srs. Deputados : há poucas horas, e talvez no momento em que faço uso da palavra, doloroso e trágico drama se está passando nas costas portuguesas, atingindo as gentes do mar e correspondentemente toda a Nação.
Notícias de há poucas horas mostram que o temporal que está assolando a costa portuguesa surpreendeu com trágicas consequências os nossos pescadores, os esforçados lutadores das fainas duras do mar.
As perdas sensíveis de vidas preciosas e até de bens são factores mais que suficientes para determinar rigoroso e profundo sentimento da Assembleia e até da Nação.
Os pescadores, a quem chamo preciosa espécie entro o género humano, gentes que as academias não formam nem as escolas ensinam, cuja vida tem como teatro de acção o mar - sua paixão e maior tormento -, bem merecem o nosso carinho e protecção constante.
Não tenho neste momento de fazer qualquer remoque, visto que as embarcações naufragadas foram surpreendidas longe das suas bases de partida, em plena faina de pesca, por mar grosso, alteroso, indomável, em condições tais que o valor dos valorosos tripulantes não conseguiu domar e vencer o dinamismo do eterno inconstante.
Más quer-me parecer que já é tempo, muito tempo, já tarda e demais, que nos centros marítimos importantes existam e permaneçam, além dos indispensáveis barcos salva-vidas, rebocadores de salvação capazes de arrostar com o mar em situações de emergência como aquela que acabamos de constatar.
Na extensa costa portuguesa, e até no nosso principal porto de armamento, não existe qualquer unidade naval capaz de prestar socorros a sinistros no mar quando este ruge tempestuoso.
Isto não quer dizer a nenhum título que da existência destes meios tragédias desta natureza se evitem ou eliminem por completo. Não. O que quero dizer é que a existência de tais recursos constitui imperativo para a defesa das vidas e bens investidos nas actividades do mar.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Segundo notícias que telefonicamente acabo de receber da minha terra - Porto -, e chegam rumores de outros pontos da costa portuguesa, é muito duro, trágico, o tributo de sangue pago pêlos nossos bravos pescadores na faina pelo seu pão diário e pela economia da Nação. Quero remeter-me, dada a natureza das coisas, antes ao recolhimento que proferir mais considerações, mas antes disso quero significar, e certamente comigo a Assembleia, a essas gentes bravas do mar, - pescadores, espécie preciosa, que não se criam nas Academias e nem as escolas ensinam à mais fraterna, sacrificada e heróica das vidas - o nosso comovido sentimento.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Antunes Guimarães: -Sr. Presidente: parti hoje da cidade do Porto, no rápido da manhã, cerca das 8 horas. Meia hora passada o comboio atravessava aquele lindo trecho da costa nas alturas de Espinho, onde tive o regalo de ver o mar em ondas alterosas, a desfazerem-se em espuma alvíssima, que se espraiavam na areia. Mar admirável, que constitui um dos valores mais importantes da nossa Pátria, valor de sempre, porque foi atravessado pêlos nossos descobridores, pêlos marinheiros ousados da época heróica. Mar que nos liga a todo o Mundo e, particularmente, às nossas províncias ultramarinas. Mar que constitui o factor económico da maior valia, porque contribui para a alimenta-