O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

30 DE JANEIRO DE 1948 235

Há economistas que admitem o luxo como coisa socialmente aceitável e útil, porque mobiliza o capital e dá trabalho a muita gente que produz e fabrica esses artefactos, à primeira vista inúteis e dispensáveis.
Tenho ouvido muitas vezes censurar os lavradores que compram bons automóveis, mas nunca ouvi essas censuras ao industrial, banqueiro, médico ou ao comerciante, que também os possuem, como se essas classes fossem mais dignas desse privilégio do que os lavradores. No entanto o automóvel é hoje, como ainda há pouco aqui disse o ilustre Deputado Dr. Antunes Guimarães, não um artigo de luxo, mas uma ferramenta de trabalho, imprescindível a quem, no exercício das suas actividades, precisa deslocar-se com rapidez e a grandes distâncias, e se alguém tem necessidade de o fazer é o lavrador, que por vezes administra lavouras muito distanciadas umas das outras e precisa visitá-las com frequência.
Quinto ponto: o preço do pão é sem dúvida o ponto do aviso prévio mais melindroso de tratar, mas consequência lógica do que ficou dito sobre o custo da produção do trigo.
Sendo o pão o principal alimento das classes trabalhadoras, especialmente dos meios rurais, há toda a conveniência em que o seu preço seja o mais baixo possível, para evitar o encarecimento do custo de vida.
Mas sendo necessário reduzir no máximo as importações de trigo, para evitar a drenagem de ouro para fora do País, e, portanto, produzir no solo pátrio o trigo que nos baste, e sendo a produção nacional cara, pôr ser dispendiosa e contingente, não sei como se possa fazer o milagre de fabricar pão barato com trigo inevitavelmente caro.
O preço caro do pão no nosso País é, portanto, um mal, mas que se torna necessário para evitar outro mal maior: a sua falta, quando não se possa adquirir no estrangeiro o trigo em quantidade igual ao nosso déficit, ou para evitar a saída de grandes somas que possam ser gastas em estimular a produção nacional e alimentar a actividade, não só da classe rural, mas também das industriais e comerciais intimamente ligadas à economia agrícola.
Falou o Sr. Deputado Nunes Mexia do pão de mistura de farinha de trigo com a de cevada e de milho, que largamente se tem usado nestes últimos anos, embora com uma técnica diferente da que preconiza, e demonstrou com ensaios de alimentação que o valor alimentar das misturas, se não era superior ao do pão de farinha estreme, pelo menos o seu uso não tinha qualquer inconveniente. Sendo assim, e assim parece ser, os 30 por cento de incorporação trariam uma grande economia para o consumo do trigo e um barateamento apreciável do pão, visto que se pode produzir o milho e a cevada por preço muito mais baixo do que o do trigo.
De facto, a cevada, sendo um cereal mais temporão do que o trigo, escapa-se muitas vezes às condições climatéricas adversas da Primavera (seca, suão, etc.) e as suas produções são mais regulares do que as do trigo. Como reage bem às fortes adubações, desde que haja abundância de adubos azotados e a preço acessível, também é muito mais fácil intensificar a cultura da cevada do que a do trigo.
O milho será, a par da batata, do arroz e das forragens, uma das culturas a fazer-se em larga escala quando estiver feito o aproveitamento integral da água das barragens em construção e em projecto.
E, como cultura regada, também é mais fácil conseguir deste cereal produções mais elevadas e regulares e, portanto, a preço de custo mais baixo do que o do trigo. O pão de mistura que por vezes aparece pela província, onde a fiscalização é menos intensa, tem mau aspecto e parece intragável, mas, havendo a precaução de aproveitar da farinha da cevada só a parte melhor, como preconiza um dos autores do aviso prévio, é possíde aproveitar da farinha de cevada só a parte melhor, saboroso e alimentar.
Neste regime de pão de mistura ...

O Sr. Nunes Mexia: - Nas ramas com mistura...

O Orador: - É exactamente das ramas que vou falar.
Dizia eu: neste regime de pão de mistura é, no entanto, necessário, como também aludiu o Sr. Deputado Nunes Mexia, respeitar os tipos regionais de pão caseiro de farinha de ramas, principalmente nas regiões maiores produtoras de trigo, como condição indispensável para que não se produzam alterações nem dificuldades na alimentação tradicionalmente usada pelas populações rurais.

O Sr. Nunes Mexia: - Criávamos um regime especial que envolveria todos os outros.

O Orador: - Já se tentou acabar com o pão de farinha estreme para o produtor, mas não foi possível.
Parece que já em tempo alguém pensou em obrigar o produtor a vender todo o trigo e a comprar para seu abastecimento e da casa agrícola farinha mistura, tipo único. Isto seria de um contra-senso e de uma gravidade extrema, não só porque encareceria sensivelmente o produto com transportes, lucros de intermediários, organismos, etc., mas também porque quebraria a tradição da autobastança, sem qualquer vantagem, e com grandes inconvenientes, para a vida e regime alimentar das classes rurais.

O Sr. Nunes Mexia: - V. Ex.ª dá-me licença?...
É que as casas agrícolas que produzem o trigo produzem também a cevada, quando não produzem o milho.

O Orador: - Tenho dúvidas sobre esse aproveitamento da farinha de cevada. É o que acontece agora.

O Sr. Nunes Mexia: - É uma questão de contas. Se a lavoura for obrigada a entregar aos seus criados uma farinha em rama que, peneirada, dê uma quantidade x, com características determinadas, é uma questão de fiscalização.

O Orador: - As ramas não têm peneiração.

O Sr. Nunes Mexia: - Perdão! Cada um peneira as farinhas em rama em sua casa, desde que o produto entregue a cada criado permita produzir determinada quantidade com determinadas características. Se o criado quiser fazer a extracção mais larga e comer farelo, isso é com ele. O que tem a certeza é que recebe o equivalente a qualquer outro indivíduo de um produto com as mesmas características.
Uma determinada família recebe de farinha em rama uma certa quantidade de cereal moído que, peneirado, deve dar farinha com determinadas características. Se essa família quiser comer pão mais baixo, em primeiro lugar obterá maior número de quilograma, em segundo lugar a saúde não é afectada com isso; recebe pão mais rico em vitaminas e o criado já não se pode queixar de o tratarem mal.

O Orador: - V. Ex.ª parte do princípio de que o lavrador entrega à moagem trigo e recebe farinha de trigo e farinha de cevada, mas em casa é que faz essa peneiração.