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4 DE MARÇO DE 1948 288-(131)

muitas matérias que se reflectem nas fraquezas do comércio externo, e sobretudo mas exportações.
A crise não é de hoje, vem de longe. Mas a evolução das coisas no Mundo, tal qual já transparece dos acontecimentos do após guerra, deixa perceber sombras muito escuras no futuro da nossa vida se não forem rìgidamente modificadas as condições actuais. E os números que acabam de ser comentados, tendo em conta o que se passou em 1947, mostram já terríveis presságios na vida económica dos anos mais próximos.

A evolução das exportações

64. Como sempre se tem dito neste estudo, os números não podem ser tomados com um rigor absoluto. Eles provêm da estatística oficial, de resumos retrospectivos publicados todos os anos e de uma ou outra informação de documentos oficiais. Para facilitar comparações, os valores reduziram-se a ouro, nas bases de médias anuais do ágio do ouro fornecidas pelo banco emissor.
O que figura na estatística foi, até fins da quarta década deste século, o indicado em geral pelos exportadores, e pode acontecer, e na verdade isso sucede principalmente nos vinte anos que decorreram entre 1920 e 1940, que o valor das exportações tenha de ser aumentado apreciàvelmente por serem demasiado baixos os valores declarados nas alfândegas.
A este assunto já se aludiu atrás. Ele foi estudado 1 com certa minúcia pelo autor quando procurou determinar para 1936 a balança de pagamentos.
Era necessário para esse fim computar, com suficiente aproximação, o déficit da balança comercial, e procedeu-se então à determinação de um coeficiente que corrigisse as exportações.
Na obra citada calcularam-se e representaram-se gràficamente, em libras-papel e libras-ouro, as importações e corrigiram-se, também em ouro, as exportações. O trabalho então realizado veio mostrar uma fisionomia do nosso comércio externo bem diferente daquela que a estatística nos indicava, porque ao observar as curvas da importação e exportação, depois de 1930, claramente se explicam as razões do desafogo cambial que caracterizou o período compreendido entre aquele ano e 1940, acentuado por motivos sobejamente conhecidos no tempo da guerra.
Quando se examinam, pois, os números para tirar deles conclusões, deve ter-se em conta a depreciação que incide sobre as exportações, e vale a pena consultar os gráficos da obra citada e com eles esclarecer uma questão que sem isso não pode satisfatòriamente ser aclarada.
Por voltas de 1936 a diferença entre as importações e exportações ouro, corrigidas as últimas pelo factor de 60 por cento, não atingia 2 milhões de libras-ouro.
A partir de 1940, e talvez um pouco antes, os números já aparecem próximos da realidade. As declarações alfandegárias sofreram correcções tendentes a aproximá-las da verdade. E de resto já haviam desaparecido as razões que levavam os declarantes a reduzir os valores apresentados, que eram, em súmula, a obrigação, em tempos passados, de entregar percentagem importante de cambiais no banco emissor.
Estes factos explicam a importância que neste estudo se dá à tonelagem, porque ela, melhor que os valores, põe em evidência a constância da exportação quando se consideram bem entendidas as parcelas que constituem o seu conjunto. De outro modo cometer-se-ia um grave erro. Neste aspecto as cifras de 1946, em toneladas, são inferiores às de 1901, e apenas ligeiramente superiores às de 1900.

I

Matérias-primas

De origem mineral

65. Como era de prever, o predomínio no peso das exportações recai por muito sobre as matérias-primas, e, nestas, as de origem mineral ocupam sempre lugar superior a metade do total.
Isto deriva da exportação de pirites de cobre de duas minas importantes. As pirites são, porém, como se disse, minérios pobres, e com o tempo e a safra de jazigos cada vez menos ricos as pirites diminuem bastante no teor, e portanto no valor.
Foram preparados pelos serviços oficiais elementos que permitem dar ideia do total de pirites exportadas no período compreendido entre 1910 e 1936. E verificou-se que em vinte e seis anos se mandaram para fora cerca de 6.796:000 toneladas 1. A percentagem de cobre era inferior a 1,5 por cento e os minérios continham entre 40 e 50 por cento de enxofre.
Durante anos influiu ainda apreciàvelmente na balança comercial o cobre exportado, quer sob a forma de precipitado, quer sob a forma de calcopirite. Mas a sua importância diminuiu, tanto mais que parte passou a ser consumida internamente na produção de sulfato de cobre.
A tonelagem das pirites, que também se utilizam já dentro do País na produção de enxofre, manteve-se sempre alta. Oscilou durante muitos anos em cifras compreendidas entre 200:000 e 400:000 toneladas, mas em 1936 já foi muito além destas quantidades, atingindo o máximo em 1938.

De origem vegetal

66. Na exportação, em peso, a cortiça em bruto vem logo a seguir à das pirites - embora por muito as ultrapasse em valor. O grande mercado das cortiças foi sempre os Estados Unidos da América, onde existe uma poderosa indústria transformadora. As crises periódicas no mercado das cortiças provêm quase sempre de causas directa ou indirectamente influenciadas, pelas contingências daquele país.
A indústria interna desenvolveu-se muito durante o período da guerra e o peso da cortiça em obra exportada passou de 10:711 toneladas em 1938 para 24:688 em 1946. Os valores aumentaram em proporção considerável para 375:096 contos, comparáveis a 49:840 em 1938.
A um aumento de menos duas vezes e meia no peso correspondeu um acréscimo de cerca de oito vezes no valor.
A exportação de cortiça em prancha representou sempre um forte esteio na economia do comércio externo. Não aumentou, porém, espectaculosamente, porque nos vinte anos que decorrem entre 1926 e 1946 o acréscimo na exportação de cortiças, como matéria-prima, não passou de 29:000 toneladas, que é a diferença entre cerca, de 136:000 exportadas em 1926 e 165:000 em 1946.
As florestas dão ainda para exportação uma matéria-prima valiosa pouco aproveitada há vinte anos ou, quando aproveitada, era-o em circunstâncias tão rudimentares que se não tirava o proveito comercial possível.

1 Portugal Económico e Financeiro, Araújo Correia, vol. I, pp. 385 e seguintes, e vol. II, p. 115 e gráficos CXXXIV e CXXXV.
1 Portugal Económico e Financeiro, Araújo Correia, vol. II, p. 121.