13 DE MARÇO DE 1948 349
há anos classifiquei de «guerra internacional da Espanha».
Será o caso de amanhã, contra o imperialismo russo e as suas quintas colunas.
Entretanto, no 31 de Janeiro a que estrangeiro se referiu o Sr. Dr. Cancela de Abreu? Eu estava à espera de ouvir dizer: Espanha, porque nesse tempo ainda não se falava na Rússia. (Risos).
Se fosse hoje, é possível que alguém dissesse: estavam a soldo da Rússia.
Entretanto, no discurso Cancela de Abreu falou-se unicamente em Brasil.
Pergunto a VV. Ex.ªs qual de nós, portugueses, considera os brasileiros como estranhos a Portugal? O brasileiro é a mais alta emanação do espírito lusíada, é o filho dilecto da carne e do sangue dos portugueses. Quando, nesta Casa, ouvi classificar os brasileiros como estrangeiros, logo me resolvi a protestar. É bem claro o esforço das duas Pátrias para que esse termo de estrangeiro nunca apareça entre Brasil e Portugal.
Outro orador, o ilustre Deputado Cerqueira Gomes, argumentou brilhantemente de forma a que o próprio 5 de Outubro, data da proclamação do regime republicano, não escapasse aos seus ataques. Por motivos que todos nós ouvimos, S. Ex.ª declarou não poder considerá-lo uma data nacional.
Nalgumas palavras simples acabei há pouco de lembrar que vivemos em regime republicano. Foi na vigência desse regime republicano que, em 1917, houve o primeiro movimento precursor de Sidónio Pais e depois, em 1926, o movimento redentor do 28 de Maio.
Ambos provam que esta República é tão tolerante - abstraindo certos republicanos, que nunca compreenderam as palavras «liberdade» e «democracia» - que o Governo Nacional solicita e aceita a colaboração de todos os portugueses -monárquicos ou republicanos- sem querer saber de onde eles vêm e só pedindo que abdiquem de qualquer espírito partidário em nome da unidade nacional.
É esse mesmo pedido que eu faço à Assembleia Nacional e dirijo à consciência de todo o País. Se não houver respeito mútuo, a colaboração torna-se impossível.
Não censuro ninguém por ter proposto novos feriados com carácter verdadeiramente nacional; também não censuro ninguém por sugerir a esta Assembleia - infelizmente não para ela resolver, mas para que o Governo resolva por ela (Risos)- a revisão dos feriados nacionais.
Não censuro ninguém, antes me congratulo, pelo facto de se proporem feriados de natureza religiosa, melhor dizendo, feriados que significam o nosso respeito pela religião católica. Estou plenamente de acordo, pelo menos com um deles, o dia 8 de Dezembro, dia da Padroeira, não do reino, como alguém aqui disse, mas de qualquer coisa maior do que o reino: Padroeira de Portugal, em cuja fronte se ostenta a coroa dos reis de Portugal, porque a partir do dia em que Nossa Senhora foi Padroeira só excepcionalmente os nossos reis usaram coroa.
Concebo e aplaudo. Mas, se sou tolerante para com os mais, porque é que os mais não hão-de ser tolerantes comigo e com os republicanos, que em tão grande número servem a Situação?
Que necessidade temos, neste momento da história do Mundo, e não só da história de Portugal, que torna indispensável a união de todos os patriotas contra o perigo certo que nos vem do Oriente, que necessidade temos de agitar pequenas questões que só servem para nos dividir?
Apoiados.
Aos monárquicos nós pedimos muito pouco: transijam com aquilo que desde 1911 já é lei do Pais!
Deixem-nos ser republicanos, como nós os deixamos ser monárquicos...
Aplaudo tudo quanto se queira fazer de novo em nome da religião de nossos pais e em comemoração das grandes figuras ou das grandes realizações da nossa terra.
Mas exijo que afastemos tudo quanto possa dividir-nos.
Só não podemos transigir naquilo que afectar a independência e o futuro da Pátria. O resto pouco importa ... se não for imposto à viva força.
Todos nós, nacionalistas, afirmamos constantemente querermos do nosso lado todos os portugueses dignos desse nome.
Incluímos nesse número aqueles que, embora tenham andado iludidos nas suas transigências de ordem estratégica ou táctica, começam a reconhecer que nada serve transigir com imperialismos estrangeiros: os aliados de ontem são as primeiras vítimas de hoje.
Agora que um grande transigente saltou pela janela do seu Ministério e se suicidou oficialmente creio que ainda estamos a tempo de aproveitar estas lições internacionais para que, em vez de cavarmos mais divisões entre nós, caminhemos quanto mais depressa melhor para mais forte unidade nacional.
Para que isso possa realizar-se nunca procuremos ferir a ideologia de cada um, embora se obrigue essa ideologia, quando partidária, a subordinar-se aos altíssimos interesses nacionais.
Não compliquemos a tarefa com pequenos pormenores como estes dos feriados civis que há trinta e seis anos são lei da Nação sem que por isso venha mal ao Mundo.
Mas, se não se julgar assim, atrevo-me a uma pequena lembrança quanto ao 31 de Janeiro:
Porquê tanta fobia da parte de alguns monárquicos contra essa data histórica? Porquê?
Compreendo que os republicanos a defendam como símbolo dos precursores da República, que nem todos foram maus, como exemplo de sacrifício por um ideal nobre e até como símbolo de qualidades que, acima de republicanas, são portuguesas.
Mas os monárquicos também podem comemorar o 31 de Janeiro ...
Pois não é essa data a da única vitória militar que conseguiram sobre os republicanos?!... Depois dela foram sempre vencidos! Que melhor querem? Nós, republicanos, comemoramos a nossa derrota! ... VV. Ex.ªs, monárquicos, celebram a sua vitória, e ficamos todos de acordo.
Risos.
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: - Peço a palavra para explicações.
O Orador: - Mas disse-se aqui que não havia que comemorar lutas fratricidas. Peço a V. Ex.ª, Sr. Presidente, licença para discordar, porque tenho o orgulho dos combates em que entrei e que considero os bons combates. Esse pecado de lutas fratricidas todos nós, monárquicos e republicanos, o temos nas nossas consciências: umas vezes monárquicos contra republicanos, outras vezes monárquicos e republicanos contra republicanos, outras vezes um cocktail contra outro cocktail. (Risos). E até o próprio 28 de Maio, embora fosse um movimento nacional, nem por isso deixou de ser uma luta, uma luta que só não foi fratricida nesse dia porque não houve coragem para disparar tiros. Mas logo se transformou em fratricida no seu reflexo de 3 a 7 de Fevereiro.
Como militar tenho orgulho de entrar nessas lutas, de combater cara a cara, de combater sem ódio, porque no final continuo amigo dos militares contra os quais me bati de armas na mão.
Não foram essas lutas, quando nobres - porque há outras que não são lutas mas coisas repugnantes, como