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17 DE MARÇO DE 1948 359

outras razões, pela demora nos resultados e nos próprios exames auxiliares (análises, radiografias, etc.), que, entre várias cansas, uma excessiva centralização destes serviços gera.
As médias habituais em outros países giram em torno dos 15 dias de hospitalização por doente, enquanto nos nossos hospitais ultrapassam 30 dias, o que equivale a dizer que por deficiência de organização precisamos de mais do dobro de camas do que a doença e a população exigiriam.

Na sequência do relatório, Sr. Presidente, não só se não contesta tal afirmação da Câmara Corporativa, como, pelo contrário, se diz o seguinte:

Este problema, pela sua complexidade e importância, tem merecido de facto a atenção da administração hospitalar, por constituir como que o barómetro da eficiência da sua finalidade.

Verifica-se pelo gráfico n.º 8 que a demora média foi em 1903 de 54 dias e em 1925 foi de 53 dias, começando a descer desde 1926 para cá, demonstrando-se assim que o Estado Novo ate neste sector teve uma actuação decisiva e benévola, mas em todo o caso ainda se mantiveram médias muito altas, e só em 1946 se atingiu a média record de 28,97.
Há uma melhoria sensível, mas estamos ainda longe da média indicada com conhecimento de causa pelo parecer da Câmara Corporativa.
Podemos assim concluir fácil e logicamente que se o tempo normal médio de demora é de 15 dias, e só agora se conseguiu reduzir esse tempo para 30 dias - anteriormente chegou-se mesmo a atingir 60 dias -, as dívidas das câmaras não podem computar-se naquela enorme quantia que se lhe atribui.
Suponho que não se podem responsabilizar as câmaras pelas deficiências dos serviços dos hospitais, que provocam a demora dos doentes por tempo que ultrapassa tudo o que é admissível. É meu entender que as dívidas das câmaras aos Hospitais Civis não poderão ser computadas em mais de um terço da quantia que é indicada.
Noutros países em que este assunto é olhado com a atenção que merece, a administração está atenta e vigilante, por forma que quando algum doente excede o tempo normal atribuído à sua doença a administração pergunta para a enfermaria a razão dessa demora. Consegue-se assim que o hospital dê o rendimento clinico que é indispensável, convindo que também entre nós se adopte igual sistema, o que trará seguramente melhor eficiência à administração hospitalar.
Temos ou não temos razão nesta dedução, que, pelo. menos, não peca por falta de lógica? Nós não queremos responder e deixamos a resposta ao próprio relatório ë ao parecer das contas. O relatório diz o seguinte na mesma p. 5:.

Se lançarmos um simples relance de vista sobre a linha representativa da demora média verificada nos Hospitais Civis de Lisboa desde o ano de 1862 até 1946, constatar-se-á uma série de oscilações de pequena amplitude e três períodos de tal forma distintos uns dos outros que imediatamente nos levará a concluir serem mais de uma as causas que influem naquele fenómeno.
Entre as principais há uma - proficiência clínica - que não pude ser posta em causa como influenciando desfavoravelmente nas oscilações. Outra considerada como das mais influentes, na demora média - a coadjuvação dos serviços de. agentes físicos e laboratoriais para maior rapidez e precisão dos meios de diagnóstico - não justifica por si só a explicação das oscilações em questão. Ainda outra, e das que isoladamente têm influído bastante nas oscilações, tem sido a da maior ou menor possibilidade de admissão dos doentes que recorrem aos hospitais.
Constata-se que sempre que os hospitais lutam com maior dificuldade de camas aumenta imediatamente a demora média, dando-se a inversa quando há maior facilidade para admitir os doentes. O fenómeno tem plena justificação no facto de no primeiro caso sòmente de admitirem doentes cujo estado de saúde exige imediato internamento e, consequentemente, necessitando de maior período de assistência, dando-se a inversa no segundo caso.
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Como se comprova, o problema da demora média tem merecido a melhor atenção da administração hospitalar, sendo de esperar que o mesmo se vá aproximando do número julgado razoável à medida que se consigam pôr em prática diversas medidas que com o problema se conjugam, entre as quais a saída dos Hospitais Civis do Lisboa dos doentes tuberculosos e dos velhos já curados das doenças que motivaram o seu internamento.

Sr. Presidente: considerando este meu ponto de vista, o ilustre relator do parecer das Contas Gerais do Estado, que todos os anos nos dá com saber, proficiência e beneditina paciência um volumoso tratado acerca daquelas Contas, cheio de informações e de interesse e no qual podemos estudar quase exaustivamente tudo quanto respeite às mesmas, o ilustre relator, dizia eu, escreve o seguinte:

Muitas vezes a cama no hospital não tem o rendimento que poderia ter: ou o doente espera demasiadamente para ser operado ou não é atendido com a brevidade requerida nos serviços de urgência. Isso pode ser devido a diversas razões, como a falta de elementos de observação: a análise clínica que demora, a radiografia que não vem a tempo, ou a qualquer outro motivo, mas o facto deu-se - o doente - esperou mais tempo do que devia, a cama teve menor rendimento, houve prejuízos de ordem moral, material e até física. Mas não é possível apurar, e não se apura, a responsabilidade. Outras vezes o doente entra em convalescença. Escusa de ocupar a cama, mas a sua vida de pobre ou o seu desleixo, ou o da família, se a tem, não lhe permite seguir em casa os tratamentos precisos para completa cura. E então fica no hospital, a ocupar a cama que é precisa para os que esperam. Os serviços laboratoriais e de análises são variados e dispersos, uns com autonomia, outros sem ela. O seu funcionamento não é ideal e está longe de o ser.

Pretendo agora demonstrar que os encargos das câmaras se irão agravando se tudo continuar como até aqui.
Ultimamente tem aumentado o número de doentes que procura os hospitais. Creio que o caso manifesta um progresso de civilização, com que, aliás, nos devemos regozijar. Antigamente o nosso camponês era extraordinariamente refractário a ir para o hospital; ia à bruxa, ao curandeiro, ao alveitar, e só em último caso e de muito má vontade é que procurava o hospital. Hoje as coisas mudaram. Em virtude de uma assistência médica cada vez mais eficaz e proficiente e da facilidade de deslocação até aos grandes centros, cada vez é maior o número dos doentes que recorrem aos hospitais, aos grandes hospitais, onde há todos os recursos necessários. Este movimento tenderá manifestamente a aumentar e teremos de contar com. este facto se não quisermos falhar, lamentavelmente, no cuidado vigilante que importa prestar à saúde pública.