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100 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 58

Há longos anos que a província ultramarina da Guiné se debate na conquista de duas grandes aspirações: a construção de um cais acostável no porto de Bissau e de uma ponte que ligue a ilha com o continente.
Estes dois ambicionados melhoramentos são absolutamente necessários ao desenvolvimento económico daquela província, à comodidade e segurança dos passageiros que têm de atravessar o canal do Imperial e até à urbanização, salubridade e higiene da cidade de Bissau; mas tais melhoramentos são duas grandes obras de engenharia que, além de serem muito dispendiosas, são também de difícil realização pelas dificuldades técnicas que apresentam. E foi devido a estas ponderosas circunstâncias que a província teve de esperar muitos anos antes que se vissem iniciar os trabalhos de construção daquelas duas importantes obras de engenharia.
Para se fazer ideia da necessidade imperiosa que há na construção da obra portuária de Bissau, e muito especialmente da sua ponte-cais, bastará dizer que é pelo porto de Bissau que se faz a maior parte do movimento comercial de importação e exportação de toda a província da Guiné. Ora, presentemente, este movimento é não só demorado e dispendioso como tem ainda os inconvenientes que resultam da baldeação dos produtos e mercadorias, porque tanto a descarga como a carga têm de ser feitas para lanchas e batelões, visto que os navios fundeiam ao largo. Torna-se, portanto, muito necessária a construção da ponte-cais no porto de Bissau.
E de justiça notar que esta grande aspiração! Guiné já foi satisfeita, mas apenas durante um número de anos que não atingiu três dezenas.
No tempo do governador Carlos Pereira foi construída por uma firma estrangeira, de 1913 a 1915, uma ponte acostarei, em T de cimento armado. Esta ponte teve apenas a duração aproximada de vinte e cinco anos para o serviço de acostagem dos navios de longo curso, pois foi fechada ao serviço destes navios em 2 de Fevereiro de 1940, quando se encontrava já em estado de não poder ser acostada, por ameaçar iminente ruína.
A partir desta data muito se fez sentir na Guiné a falta da ponte-cais de Bissau. E que nós só reconhecemos verdadeiramente os bens que usufruímos depois de os ter perdido.
Sr. Presidente: foi então que o Ministro das Colónias Dr. Francisco Machado promoveu que fosse à Guiné, em 1942, o engenheiro Henrique O'Donnell para colher os elementos necessários e proceder ao estudo das obras a realizar no porto de Bissau.
De então para cá foi preciso despender bastante actividade para se completar o estudo, elaborar os projectos e conseguir os meios necessários à realização de uma obra de extraordinária importância para o progresso económico da Guiné.
Coube a merecida honra ao então governador daquela província ultramarina, comandante Sarmento Rodrigues, de presidir, em Bissau, à cerimónia solene, que se realizou no dia 10 de Julho de 1948, para dar inicio aos trabalhos de construção da obra portuária de Bissau.
E a honra e alegria que aquele governador sentiu nesse dia foram bem merecidas, porque ele dera o máximo do seu esforço para que esta obra grandiosa viesse a ter o seu começo de execução.
No mesmo dia, o mesmo governador presidiu a outra cerimónia, no local denominado Ensalmá, para solenizar o início dos trabalhos de construção da ponte levadiça que ligará a ilha de Bissau ao continente.
Esta ligação sobre o Imperial deve ter sido um dos problemas mais discutidos na Guiné, devido à sua imperiosa necessidade.
E permanente e muito grande o movimento diário que se faz entre a ilha e o continente através do canal do Imperial. A travessia faz-se, presentemente, em vários pontos do canal, mas a da Nhacra é a mais importante, tanto pelo transporte de peões como de automóveis e camiões de carga.
Nesse local a travessia é feita numa jangada com pessoal de serviço permanente a cargo da circunscrição civil de Mansoa, mas tal meio de transporte, nem sempre isento de desastres fatais, é muito contingente, porque torna a travessia demorada, perigosa e dependente das marés. Foi por isso que o problema da travessia do Imperial constituiu sempre uma das grandes preocupações dos governadores da Guiné, e alguns tentaram dar-lhe solução.
É muito conhecida a tentativa do governador Teles Caro, que pretendeu, com uma obra de grande envergadura, atravessar o Imperial na ponta do Cumeré. Ainda hoje existem vestígios bem patentes de tal empreendimento e ainda se faz diariamente na ponta do Cumeré a travessia do canal por meio de canoas indígenas conduzidas por marítimos que vivem de transportar passageiros naquele ponto do canal.
Em consequência dos estudos realizados noutros pontos do canal, foi posta de parte a ideia de localizar a ponte no Cumeré. E foi assim que no tempo do governador Leite de Magalhães se decidiu que a ponte fosse construída no local denominado Ensalmá. Elaborado o respectivo projecto, procedeu-se em 1931 à cerimónia solene do batimento da primeira estaca, que ainda hoje, decorridos dezanove anos, se encontra cravada e abandonada no lodo da margem do Imperial.
A este importante problema da ponte que deverá transpor o canal dedicou também especiais cuidados o governador Carvalho Viegas, que sempre se manifestou, devido às dificuldades técnicas, no sentido de os estudos e trabalhos serem entregues a engenheiros especializados e, trabalhando com essa boa orientação, este governador ainda chegou a obter um projecto da autoria do engenheiro Sanches da Gama, que foi gratuitamente elaborado e se destinava a ser a ponte construída no local de Ensalmá.
Este salutar princípio da especialização, tanto na elaboração do projecto como nos trabalhos da construção, foi realmente satisfeito no tempo do governador Sarmento Rodrigues, pois o projecto foi apresentado pela Direcção-Geral de Fomento Colonial, elaborado por um engenheiro português de reconhecida competência, projectado o tramo móvel por um professor engenheiro espanhol e entregue a execução da obra a uma empresa portuguesa especializada.
Tudo está, pois, assegurado para que a ponte possa ficar concluída em 1951, em condições de oferecer todas as garantias de segurança. E o canal ficará livre à navegação, pois o vão útil do tramo móvel, medindo 12 metros, permitirá muito folgadamente a passagem de embarcações que navegam pelos canais da Guiné.
A demora que tem havido na execução desta ponte deve-se atribuir às alterações que se fizeram no sistema das fundações dos pilares e no aumento da primitiva largura do tramo móvel e a deficiências que sempre surgem aos empreiteiros nos meios coloniais, onde é grande a falta de recursos.
Porém, presentemente, tudo leva a crer que tanto a ponte do Imperial como a ponte-cais do porto de Bissau deverão estar concluídas dentro dos prazos ultimamente estabelecidos. E assim é para crer, sabendo que se encontra actualmente como governador da Guiné o capitão de engenharia Raimundo Serrão, com larga experiência colonial, que muito poderá impulsionar o regular andamento daquelas obras.