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358 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 73

redimida de um abandono pecaminoso. São despesas para glorificação da Cruz do Redentor, da cruz que levámos a todos os mores do Mundo, da cruz por que nos batemos há mais de oito séculos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Aqui aios distanciamos dos que realizam apenas uma obra material. Aqui encontramos a nossa própria espiritualidade, que não poderia compreender uma sem a outra face deste magno problema nacional.
Ressurgir sim, mas ressurgir em todos os campos onde o ressurgimento se tornasse necessário.
Sr. Presidente: em 1951 temos um mundo novo em relação ao de 1935, que nos aperta, que nos força a encarar de frente e a resolver os problemas mais instantes desta hora de incertezas.
Em 1935 o nosso ilustre colega engenheiro Araújo Correia mostrou claramente como visionava as necessidades fundamentais da, Nação e como as definiu na sua proposta de lei.
A Assembleia não atendeu os seus propósitos e o Governo entendeu não merecer atenção a forma preconizada para estabelecer a coordenação e revisão dos planos de fomento económico. E foi pena, porque o organismo preconizado teria prestado altos serviços.
Continuamos a reconhecer a necessidade de um organismo de coordenação. Em apêndices aos pareceres sobre as Contas Gerais do Estado o seu ilustre relator, com clareza sempre maior, tem evidenciado que se tornava necessário mudar o sentido da marcha. E continua a ter razão.
Nesta encruzilhada, consumidos os grandes saldos de gerências anteriores, sem grandes possibilidades de recursos a empréstimos internos e não sendo elevados os excessos das receitas sobre as despesas, o plano de prosseguimento de trabalhos terá de ser muito mais modesto, e por isso mesmo a aplicação das verbas convenientemente ponderada.
Está certamente aberto o caminho à utilização de capitais estranhos, mas não seria menos agradável que, mais uma vez, os recursos internos bastassem, desejo bem compreensível depois da resposta que os delegados portugueses receberam na falecida Sociedade das Nações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vivemos uma época perturbada, em que o social é preocupação de primeira grandeza, mas este, para melhorar, carece de uma base económica suficientemente forte.
Se para melhorar a economia continental, durante os últimos quinze anos, gastámos, só pelas despesas extraordinárias, cerca de 33 por cento de 12:918 milhares de contos, como atrás dissemos, e se, não obstante, já tivemos ocasião de nesta Assembleia verificar que as zonas onde os problemas sociais mais gravidade apresentaram foram as regiões agrícolas em que predomina a monocultura em sequeiro, somos levados a concluir imediatamente que esta zona do País merece especial atenção, porque os dispêndios efectuados não lograram melhorar uma situação que continua com carácter endémico.
Por outro lado, são as regiões do País que se encontram mais atrasadas onde, por virtude de factores naturais vários, as vantagens que a civilização hoje oferece ainda são mal conhecidas e muito poucas lá chegaram.
E, na verdade, desolador verificar que há profundo desnível no desenvolvimento da zona compreendida entre o Tejo e o Algarve, comparada com o resto do País. No entanto, ali também vivem portugueses, ali também se pagam contribuições, também se dão soldados u Pátria, também se luta pura manter una a Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: os homens que vivem na terra, que dela procuram tirar o seu sustento, que a arrotearam e transformaram naquilo que durante anos foi chamado o celeiro do País, não aprenderam a pedir, porque ancestralmente sentem como que um fatalismo que os liga estreitamente à natureza, porque dela dependem, e não acreditam que os outros homens sejam capazes de se interessar pela sua sorte.
Não obstante, ainda não deixaram de cumprir com o seu dever de fazer produzir a terra e depois entregar quanto lhes tem sido exigido para o bem comum, tendo-se até chegado a reduzir as capitações tradicionais de alimentos basilares, como se a alimentação do campo fosse idêntica à da cidade.
Habituados a pisar a terra, a olhá-la com enlevo de namorados permanentes, quando levantam os olhos é para o Céu, quer seja para agradecer as benesses de um ano bom ou regular, quer para implorar melhores dias, que cubram os prejuízos resultantes dos anos maus. E este fatalismo, Sr. Presidente, não é uma inferioridade: é corolário de realidades seculares.
Será necessária a lanterna de Diógenes para descobrir o homem que possa quebrar o círculo vicioso em que se debate o Alentejo e lhe dê as possibilidades de alimentar a sua escassa população sem crises periódicas de desemprego forçado?
Mesmo sem a lanterna o problema já tem solução, mas precisa que sobre ela se faça luz intensa e que a sua importância seja reconhecida entre as fundamentais para o desenvolvimento do País e que sejam empregados os métodos já experimentados e provados em outros países.
Os distritos de mais baixa densidade populacional do continente são: Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora e Portalegre, com 25 a 50 habitantes por quilómetro quadrado, os quais, sem se compararem com os mais densamente povoados de Lisboa e Porto, se afastam muito dos de Aveiro e Braga, compreendidos entre 150 e 200 habitantes.
Quanto às suas superfícies, podem avaliar-se em ordem de grandeza, comparando-os com o território continental, situando-se, em percentagem, da seguinte forma: Beja, 11,2; Bragança, 7,1; Castelo Branco, 7,3; Évora, 8,1; Portalegre, 6,7; portanto, mais do dobro dos de Aveiro e Braga, apenas com 2,9 e 3 por cento do continente.
A área, da cultura do sequeiro constitui cerca de uma terça parte da área de Portugal continental, é permanentemente a zona econòmicamente mais enferma, do País, o que lhe empresta situação especial para como tal ser considerada.
A tarefacção da sua população ocasiona as enormes distâncias entre os seus povoados, e daí todos os empreendimentos são influenciados por este factor e as populações fixas daquelas regiões desde longas datas lhe sofrem as consequências. O analfabetismo encontra aqui unia das suas várias explicações.
No recenseamento de 1940 ainda existiam percentagens assustadoras nos distritos de Beja e Castelo Branco, ambos com mais de 60 por cento.
É, não há dúvida nenhuma, uma região atrasada.
A população activa de Portugal continental e insular era em 1940 de 5.208:720 pessoas, ou seja 86 por cento da população presente maior de 10 anos.
Ao ramo agrícola dedicavam-se 1.419:134 pessoais, número este que mão permite uma comparação conve-