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386 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 74

venientes de vária ordem que se podem conter em qualquer outra orientação.

Vozes Muito bem, muito bem!

0 Orador: - Os problemas demográfico o económico portugueses apresentam-se, porém, com um tal cariz e acuidade que não sei se será legitimo hesitar-se, por muito que custe ao nosso brio, em se recorrer ao capital estranho se não tivermos recursos próprios suficientes e aquele se nos oferecer em condições nacionalmente dignas o economicamente aceitáveis.
Só o Governo dispõe, porém, de elementos para decidir em cada momento como melhor convier nos superiores interesses da Nação, e certamente não o deixará de fazer se as circunstâncias o aconselharem.
E quanto ao espírito ou preocupação por que nos devemos guiar na execução de mais esta tarefa?
É já hoje um lugar comum invocarem-no como razões justificativas de qualquer plano de fomento económico e incremento demográfico e a necessidade do aumento dos níveis de vida das populações.
Os argumentos são, evidentemente, não só do peso, mas de um alcance social e humano indiscutível.
Infelizmente, porém vê-se por vezes o último ser agitado com uma indiferença o um à vontade que se fica na dúvida ao os que assim o invocam têm bem a noção da responsabilidade que assumem perante a sua própria - consciência até ao fazê-lo tão despicientemente e sem:
ao menos darem uma pálida ideia da dificuldade dos problemas que ao contêm em tão séria e delicada questão.
Daí o poderem vir a provocar-se dolorosas decepções, como uma certa que todos nós sabemos, ou um perigoso estado de alma daqueles que, não conhecendo os
fundamentos geoeconómicos de tão debatido problema, mas ouvindo falar com desenvoltura da facilidade do aumento do níveis de vida com as obras de fomento
- não poucas vezes vendo- os até exemplificados aos telas dos cinemas , acabam um dia por vir a verificar que o seu ou não mudou, uma das melhores hipóteses, ou fica muito aquém daquele que lho apontaram. E isto muito simplesmente porque a população do seu país cresceu ou porque as calamidades climáticas ou de guerra neutralizaram, entretanto, todo o esforço que havia já sido feito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 Orador: - Ora eu não digo que me chame já a atenção para o paradoxo que está vivendo a humanidade de nossos dias pretendendo estruturar aumentos estáveis
de níveis de vida sobre uma imensidade de ruínas, materiais e morais, que ela própria se tem encarregado de provocar e não poucas vezes nos parece estar disposta a fazer aumentar mais ainda.
Creio que se não poderá também esperar - porque a política está muito longe de se confundir com santidade- que se nos lembre que a moderação das ambições, o trabalho fecundo e a fé ainda são as melhores armas que nos podem assegurar a paz de consciência, e a felicidade, os únicos bens por que afinal ainda vale a
Pena lutar.
Parece-me, no entanto, que é pelo menos prudente chamar-se a atenção, no falar-se de possibilidades de aumentos de nível de vida em Portugal, que cada seu
incremento de 10 por cento - que praticamente pouco se fará sentir em relação ao nível anterior - equivale a qualquer coisa, nas condições actuais, como a um aumento brusco de 800:000 pessoas à nossa população, ou seja quase o que ela está crescendo em dez anos e que tantas preocupações já nos traz ao meu sustento
e ocupação.
Se assim é - e não é difícil fazer as contas - comecemos então
salutarmente, por chamar a atenção para o facto de que a resolução de um problema de tal gravidade e magnitude não, pode ser resolvido com a maioria indiferente a ele, criticando ou de braços cruzados, na desculpa confortável de que é aos Governos que cabe o exclusivo da responsabilidade de achar a solução mais conveniente para o assunto.
Ela pertence a todos nós - mas todos! - e cada um tem pelo menos ao seu alcance um inicio de se associar a tal tarefa, procurando tirar de suas qualidades e fazendas o máximo possível de produtividade útil e não perturbando ou desalentando as actividades dos outros.
A hora que passa e em que tantos erros de trás já, se espiam não parece, de facto, a hora mais própria, para se cruzarem os braços o muito monos para os verbalismos embriagadores dos panfletários, mas para a acção fecunda de espíritos de caridade e renúncia de que grandes figuras estiveram sempre presentes em outros períodos graves da história do Mundo, mas que tão desgraçadamente rareiam e se estão fazendo demorar nos atribulados dias que vamos vivendo ...
Ainda há poucas semanas, quando ao cabo de várias horas consecutivas de estado o de cálculos, já enervado, não conseguia chegar a números que mo consolassem sobre os benefícios materiais que provavelmente poderíamos esperar para o País da execução de um plano de fomento como este que estamos discutindo, caiu-me, por acaso, debaixo dos olhos, um pequeno intervalo de descanso, a seguinte notícia dos jornais do dia sobre a visão dantesca de 100:000 coreanos em fuga por entre as trevas da noite:

0 ar, azulado com o fumo dos edifícios em chamas, era atravessado pelos gritos de milhares de crianças que se tinham perdido de seus pais. Alguns dos refugiados tinham caminhado a pé, com imenso frio, durante três dias e três noites. A costa meridional, a única região que para eles significa a salvação, está ainda a vinte dias de distância ...

Confesso que tive vergonha do mim próprio e dos cálculos presunçosos que estava fazendo, mas encontrei, como por encanto, a resposta apaziguadora da inquietação que mo cansavam no dificuldades que encontrava no problema e o resultado pouco animador das contas que deitava sobre um futuro que só a Deus pertence. È com essa resposta que vou terminar todas estas minhas mal alinhavadas considerações:

Façamos fomento - muito fomento, sim, e a sua propaganda - na crença sincera do que é possível e do que devemos da nossa inteligência e esforço a todos aqueles que, embora mais fracos ou infelizes do que nós, têm também o seu direito a um quinhão de bem-estar o de felicidade na vida.
Não nos transviemos porém: façamo-lo com calor, mas sem arruído, com humildade e sem ambições vãs, esquecidos de vaidades, ressentimentos e interesses menos legítimos.

Façamo-lo, sobretudo, na contemplação magnifica de um testemunho que cada vez mais sangra na noite dor, tempos modernos o que S. Vicente de Paulo nos deixou ao morrer:

A caridade é um grande fardo. Não há, porém honra maior que a de servir os pobres - os nossos senhores. Amá-los, amá-los sempre e tanto mais quanto mais miseráveis. Sorrir-lhes e amá-los, para que nos perdoem o bem que lhes fazemos ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 orador foi muito cumprimentado.