12 DE DEZEMBRO DE 1951 31
Este estado de incompreensão e de aparente apatia tem a sua origem na falta de uma sincera e objectiva doutrinação e preparação do escol de enquadramento.
Vozes: - Muito bem !
O Orador: - Para o que este sentir e visionar tiver de verdadeiro há que planear e desenvolver tuna animada acção renovadora nos processos, de divulgação e prática da doutrina e nos postos de chefia.
A doutrina não está em causa. A critica não a atinge no essencial, podemos continuar a afirmar que temos uma doutrina e que encontramos nela um instrumento capaz de satisfazer as prementes exigências dos tempos modernos.
Tempos modernos em que a técnica, explorando melhor as forças da natureza e libertando outras, tem aumentado o surto de dificuldades1 no terreno das relações sociais, com o avolumar e concentrar das massas, e a criação de novas necessidades.
Os homens que no Mundo dispõem de poder para tomarem resoluções políticas têm-se mostrado insuficientes para as resolver. E desta insuficiência tem resultado o irromper das massas no terreno político com as suas- exigências sociais, para onde emocionalmente as arrastaram os que pretendiam utilizá-las apenas como forças partidárias. Esta deslocação de forças para terreno impróprio, ao manobrar das suas legítimas aspirações, provocou unia inversão de posições e dificultou o atingir dos objectivos. Os que se propunham dominar, dentro em pouco sentiam-se dominados pelas restrições que o egoísmo descontrolado das massas impunha à liberdade de comando. A segurança social que procuravam afastou-se mais do êxito, pelo predomínio que um dos factores da riqueza e da produção pretende alcançai sobre todos os outros.
A doutrina que inspira a ordem corporativa reconhece, com evidente realismo, a necessidade de satisfazer os justos desejos das massas e procura para eles a solução possível e humana, num evoluir natural. Mobiliza-as e enquadra-as juntamente com outros valores económicos e sociais, para as movimentar com preocupação moral, colaborantes e construtiva para um alto objectivo.
Todos ao serviço de todos e acima de todos a Nação.
No mar revolto das ideias que agitam o Mundo e trazem desconfiados os homens, ela já tomou pé onde outras andam à deriva, agarradas a velhas e novas utopias, teimando em ignorar o peso da tradição, da ética e da índole particular dois povos que pretendem governar.
A onda socializante e comunista niveladora de bens, de virtudes e de pátrias encontra nela a mais consistente barreira, que é preciso reforçar sem tréguas nem desfalecimentos.
Temos paira isso, Sr. Presidente, de respeitar a doutrina em todo o detalhe e fazê-la reviver na plenitude do seu puro idealismo, levando-a, num apostolado dinâmico e persuasivo, animado de espírito de sacrifício, a todos os cantos onde estiver presente o homem de corpo ou de alma, pela palavra e pelo gesto. Pela palavra, não dita de cátedra e empoladamente, mas falada numa linguagem terra a terra, com os olhos postos nos olhos e o coração nas anãos, acompanhada e seguida sempre pelo exemplo do proceder de quem as profere, em todos os actos públicos e privados. Só destarte se enraizará a doutrina e poderá projectar no espaço e no tempo os seus preciosos frutos.
Não pode permanecer como até aqui, adormecida nos textos como se não fosse elemento essencial na consolidação e continuação do regime para além dos homens que a idealizaram e edificaram. É certo que de tempos a tempos a vão buscar à sua jazida para a fazer figurar nas festas comemorativas, banquetes, sessões de propaganda e congressos apenas como pura especulação natural e sentido prático, aproveitando alguns até essas ocasiões paru a exibirem prenhe de flores de retórica e vazia de sentimentos, como tese de quem se pretende candidatar a lugares de comando na política ou na burocracia.
Vozes: - Muito bem !
O Orador: - A doutrina, exposta e com estas preocupações, em meio preparado para a ouvir e aplaudir, cai em cesto roto. Paru que o homem a entenda e lhe tenha amor é indispensável dar-lhe o convencimento de que há nela o necessário para satisfazer o que carece, a fim de viver com dignidade e um mínimo de conforto e servir os seus anseios de justiça social.
O ponto crucial do problema, está no recrutamento dos dirigentes. A este presida o critério não escolha, muitas vezes eivado por razões de parentesco, amizades e dependências, algumas vezes por imposições de natureza política, raras vezes por indicação vindo, de mérito comprovado nos quadros das organizações ou em actividades privadas. As inolinações pessoais sobrepõe-se quase sempre à competência.
Homens que falharam em empreendimentos de carácter particular são considerados bons para lugares de direcção em organizações tidas como vitais. onde tornam a falhar mas continuam de pé e prontos a surgirem noutro sector de igual categoria e importância, em vez de serem repelidos para sítio onde mão tomassem a fazer dano.
Vozes: - Muito bem !
O Orador: - O julgamento das qualidades de direcção não é raro ser medido por discursos flaudatórios e por exteriozações de estilo folclórico, quase sempre caíras e nem sempre proveitosas, .e poucas vezes pelo exame atento dos res-ultados económicos, sociais e políticos! que atingiram com a sina acção directiva.
Esta crise de dirigentes está reclamando uma esclarecida e diligente atenção, pelas profundas repercussões que o«eu errar está produzindo aia opinião pública, abalando-lhe a confiança nas instituições e nos comandou superiores, A saúde da opinião pública tem de ser defendida, para poder continuar completamente ao serviço da Situação, como «elemento fundamental na política e n«t administração do País». Assim a considera a Constituição.
O falhar dos dirigentes tem posto a descoberto pontos nevrálgicos que não têm passado despercebidos ao Governo.
O Governo tem posto o dedo neles, mas não tem formulado os remédios que os curam.
O Governo põe o dedo num ponto nevrálgico quando reconhece na proposta da Lei de Meios a necessidade de rever o regime legal de acumulações e de incom-patibilidades, talvez pelo conhecimento de factos impressionantes vindos à supuração nas redes de arrastar do imposto complementar. Num país onde o trabalho se paga com insuficiência e o desemprego aflige as classes intelectuais não é de admitir o descontrolado açambarcamento de lugares e remunerações senão para casos excepcionais e de comprovada justificação. Tantas vezes as acumulações existem, não por solicitações de competência, que antecipadamente se sabe não poderem dar esforço útil, por falta de tempo e capacidade técnica, mas tão-somente para o emprestar de um nome, a fim de ilustrar elencos de organizações que desejam aproximar-se da zona de influência dos Pode-