10 DE JANEIRO DE 1952 119
nosso país possui quadros de técnicos e operários competentes, de modo a tornar possível a concepção e a execução de grandes obras de engenharia.
E, finalmente, na cúpula do edifício da nossa pública gratidão devemos colocar S. Ex.ª o Presidente do Conselho, pois, se é certo que nenhuma obra de vulto, das que se ergueram em Portugal nestes quase vinte e seis anos de Estado Novo, seria possível seria Sal azar, não é menos para destacar que esta, a ponte de Vila Franca, mereceu as Ex.ª um interesse e carinho que me permito classificar de pessoais.
Atestam-no a satisfação com que o Sr. Presidente do Conselho, em Abril de 1948, assinou, o despacho de adjudicação da obra e a sinceridade com que, dias depois, ante a grande manifestação de agradecimento que os povos do Ribatejo lhe prestaram, prometeu que a ponte se faria no mais breve prazo e proferiu aquela bela frase de despedida:
«Até lá e até então».
Recordando aqui o importante facto que foi a inauguração da ponte de Vila Franca e os homens de Estado que para o valioso melhoramento contribuíram, tenho sómente em vista, repito, como português e como ribatejano, exprimir perante a Assembleia Nacional o profundo reconhecimento do povo da minha região por mais este beneficio que ficamos devendo ao Estado Novo e a Salazar.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente: também eu me desejo associar ao recordar jubiloso da inauguração da ponte sobre o rio Tejo, em Vila Franca de Xira, que se fez no penúltimo dia do ano recém-findo, no meio da alegria, aplausos e agradecimento de dezenas de milhares de pessoas, que, não sem desconfortos e trabalhos muitas delas, vieram ali dar público testemunho do apreço devido à obra e aos seus autores. Nem o facto de a inauguração estar prevista desde muito tempo, anunciada até havia, mais de doze meses, nem a circunstância de hoje em dia e entre nós se terem os grandes benefícios públicos como certos logo que são prometidos, nem a pontualidade do acontecimento, em suma, é motivo para o recebermos com menos alvoroço; contar com a obra foi muito, mas poder aproveitá-la e gozá-la é tudo. Gozá-la, sim, Sr. Presidente e Srs. Deputados, porque, no unânime dizer de quantos a percorreram já, eis uma estrutura que na elegância singela das linhas, na robustez visível, mas airosa, dos seus elementos, na facilidade e folgança do trajecto, se torna tão grata de contemplar como vantajosa de usar!
E a própria pontualidade do acabamento não merecerá ela mesma, só por si, louvor e congratulação? Acaso andaremos já tão esquecidos das incapacidades ainda recentes que passemos sem atentar na circunstância importantíssima de uma obra desta grandeza, por bem, preparada e com regularidade suprida do necessário, desde os dinheiros à tranquilidade do meio, ficar completa e pronta a servir no tempo muito antes prescrito ? Pois que assim seja, e que por mais esta vitória sobre o passado rejubilemos; mas não deixemos de considerar que, se já não será caso notável concluírem-se os grandes empreendimentos nos prazos marcados, notável é que tenhamos podido chegar à naturalidade no que ainda ontem seria coisa muito célebre!
Inaugurou-se, pois, a ponte, prometida há pouco mais de três anos sabe Deus há quantos sonhada e apetecida pelos povos ribeirinhos e por todos aqueles que podiam avaliar da vastíssima extensão da sua potencial utilidade.
Como os distintos oradores que me precederam, trago ainda nos olhos o espectáculo, não tanto do grandioso e festivo arraial da multidão que veio ver e acompanhar a cerimónia, esse já de si bem belo, como do rio de gente que por horas e horas sem parança irrompeu da ponte a afirmar o seu gosto nela e a agradecer os esforços de quantos lha tornaram possível. Homens e mulheres, vindos de longe e de perto, de todo o Ribatejo e Alentejo, u cavalo, em carros e carroças, em camiões, mal assentes em máquinas e alfaias de lavoura, mas u grande maioria a pé, em trajes domingueiros ou vestes de trabalho, com bandas de música e os estandartes das suas colectividades mais representativas, milhares, dezenas de milhares de pessoas de todas as condições suciais perpassaram ante a tribuna de honra, em infindável e significativo desfile, a darem testemunho de reconhecimento pela decisão da obra, de apreço pela diligência nela posta, de aplauso pela política que a tornou possível. Os mais deles traziam longas horas de caminhada e anteviam outras tantas, já pelo frio da noite; mas as fadigas nunca os venceram na demonstração, visivelmente sincera, dos seus sentimentos, repetidíssimas vezes -e vencendo a conhecida sobriedade das populações do nosso Sul - levada, à mais simpática exuberância ou a verdadeira afectividade para com os homens que sobre todos sabiam serem os mais merecedores das suas manifestações!
Raríssimas vexes, se alguma foi se terão juntado no País tantas e tão variadas gentes de tantas e tão distantes partes a festejar um neto de administração publica; e a vou insuficiente para exaltar a obra quanto ela merece pode ao menos louvar-se na grandeza da manifestação popular e, reconhecendo-a igual- ao seu objecto, dá-la como medida da importância e felicidade do melhoramento.
A ponte, com efeito, estabelecendo nova ligação entre as duas margens do Tejo, a meio dos últimos 80 quilómetros do seu curso, tem maior, muitíssimo maior, importância do que a ele simples ligação regional, que aliás só de si já seria preciosa como travessia única em trecho tão longo.
De Tomar a Castelo Branco e mesmo à Covilhã, até aos confins do Algarve, as relações de mais de metade do País com a capital são efectivamente melhoradas por ela, encurtando os percursos ou permitindo-os mais laceis. No caminho do Lisboa o Algarve e todo o Alentejo afluem a Alcácer do Sal ou a Vendas Novas, e desde qualquer destes pontos seguir-se-á melhor por Vila Franca, poupando uma travessia em barco, com seus riscos e morosidade, e utilizando estradas mais cómodas.
Isto é já do conhecimento geral e devidamente apreciado; mas parece reparar-se menos em que a própria Beira Baixa e o Alto Alentejo terão no aproveitamento dos trajectos pela margem esquerda do rio e da passagem por Vila Franca economias de distância e apreciabilíssima vantagem de um percurso menos tortuoso. Seja a estrada nacional n.º 118, que os servirá, melhorada, como carece, em algumas dezenas de quilómetros de maus pisos que ainda tem e as superioridades deste itinerário tornar-se-ão definitivamente patentes e incontestáveis.
E assim virá a nova ponte a tornar-se ha obra pública de mais vasto proveito -com as únicas excepções dos aproveitamentos hidroeléctricos e dos portos principais - que se tem feito em Portugal depois da linha férrea do Norte!