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4 DE MARÇO DE 1952 367

vam tempo a aparecer e quando aparecem é com o galope das labaredas. Mesmo assim, com o fogo no ar, não se reconhece, por vezes, ao incêndio a importância que ele tem. Pior é ainda ocultar-lhe a origem. Por mim, antes quero que me digam onde estão as nossas causas de perdição e de morte. Antes quero, para combater a tempo e sobreviver no tempo.
Vou agora ocupar-me das condições de vida nas ilhas adjacentes.
Porto Santo:
Começo pela mais pobre. São 42km 2,46; 2:709 habitantes, densidade de 63,6 (censo de 1940), e 2:934 habitantes, densidade de 69,1 (censo provisório de 1950).
O chão nas encostas é seco e árido. Mesmo nas terras baixas o «massapez» é assim. Só em duas ou três chapadas de melhor centro, onde a mão e a vontade do homem porfiaram cavando poços e armazenando água, é que o milho cria bem.
As árvores contam-se pelos dedos.
Também no Porto Santo se atentou contra a natureza, derrubando, queimando.
Em Outubro último foi aprovado o plano de fomento agrícola e florestal da ilha, computado em 12:000 contos. Ainda bem!
Agora chove por milagre. Até a vegetação brava pena para romper.
De Junho em diante as nascentes dão as últimas. É quando a luta pela água recrudesce de crueldade e fadiga. Na Vila Baleira o povo ataca o fontanário mais firme. Ataca pela noite dentro. Cada lugar na fila tem uma sentinela.
Deus nos livre se não fosse o mar, o peixe que o mar dá e o dinheiro da gente de fora que no Verão goza a praia dourada.
A terra poucas vezes dá para as sementes.
Mas o homem persiste, luta sempre.
Às vezes, o berço nu em que se abre os olhos vale mais do que a boa cama em casa alheia.
Não sei quantos casais pobres do Porto Santo foram transferidos para a Madeira, para Aldeia da Rainha, no tempo de D. Maria I.
O lugar era fresco, saudável e mais fértil do que a ilha queimada.
O vinho atravessa, por vezes, as crises resultantes dos frequentes estados de guerra no Mundo, mas, apesar disso, nunca deixou de funcionar como existência activa na balança do comércio madeirense. Não utilizo números respeitantes a 1951, por não estarem ainda apurados, mas refiro as exportações dos três anos anteriores: 11:908 contos em 1948, 33:434 contos em 1949 e 28:345 contos em 1950.
O volume de obras de vime que sai do porto do Funchal para os Estados Unidos da América é cada vez mais importante: 2:398 contos em 1948, 2:645 contos em 1949 e 3:586 contos em 1950.
A fonte do turismo nunca se fechou totalmente, a despeito, também, dos períodos de seca, que sempre lhe afectam as nascentes quando deixam de chover no Mundo as suaves bênçãos da paz. No último conflito por lá andaram e viveram as refugiadas gibraltinas, que de alguma forma e em boa medida animaram a economia da Madeira.
Mas aquela gente levara a remoer na consciência o pecado de não viver na sua terra, e um dia desceu a Machico, meteu-se nos barcos que encontrou e fez rumo ao Porto Santo.
O apego à terra-mãe é português dos quatro costados.
Os do Porto Santo bem merecem pelo exemplo que dão.
Ilha da Madeira:
A base da alimentação dos 121:419 rurais, designadamente dos milhares de assalariados agrícolas que travam na ilha épica batalha com a terra, amanhando-a e segurando-a até aos cimos mais duros e mais ingratos, é o milho, que usam em papa, e a «semilha» (batata).
Embora a densidade aritmética não diga tudo, quando, ela se manifesta e traduz por números tão exuberantes como na Madeira - 333,6 (359,5 pelo censo provisório) - sentimos logo que os 740km2 ,62 da ilha, com as suas extensões incultiváveis e os seus ermos improdutivos, não podem chegar para tanta gente. Daí a migração dos madeirenses para o continente e para as outras ilhas e surgirem em Curaçau, Aruba, Hawai, na África do Sul, nas Bermudas, na América do Norte, nas Guianas, no Brasil, na Venezuela, nas sete partidas, e aparecerem ainda em todas as nossas províncias ultramarinas, em tenaz busca de ocupação.
Seria, mais do que negar a verdade, desconsiderar a verdade dizer-se que na Madeira não existe uma evidente sobrepressão demográfica que toma, dia a dia, sérias proporções.
O distrito do Funchal - em que a Madeira é tudo e o Porto Santo quase nada - foi de todos os distritos do País o que maior aumento de população acusou no decénio de 1930-1940. As cifras podem comparar-se: 211:601 habitantes em 1930; 250:124 em 1940; 266:245 em 1950 (censo provisório).
Calcorreei e vi também, com demora, toda a Madeira. Importa quase todo o milho de que precisa. O trigo também. Mas possui culturas firmes e rendosas.
O açúcar e o álcool de cana têm destino certo.
Nos anos de 1945 a 1949, inclusive, exportou produtos hortícolas (bananas, batatas, tomates, cebolas e feijão) no valor global de 187:037.240$. A discriminação por quilogramas e valores é a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

A indústria de bordados, só por si, movimentando somas consideráveis, é um esteio formidável. Nos fins de 1936, em missão oficial de que fui encarregado, estive com os números nas mãos, com os números e com os bordados, falei com os industriais e avaliei a mão-de-obra empregada nas fábricas.
Estive na Madeira. Estive nessa altura durante alguns dias, e estive mais tarde, por virtude da minha peregrinação profissional, durante quase dois anos.
Conheço a Madeira, posso falar da Madeira. A sua indústria de bordados é uma indústria que se sente, que se vê, mobilizando energias, distribuindo trabalho, empregando capitais, realizando lucros, valorizando e estimulando iniciativas, sustentando e remediando muitos lares.
Com referência ao primeiro semestre de 1936 era assim: 375 operários e 1:628 mulheres nas fábricas onde o produto é preparado para a exportação; 5:000 costureiras no trabalho de conserto ou armação de peças