O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

370 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 131

Há que regressar aos tempos duros da luta com o chão selvagem.
De novo os açorianos se voltam para a terra. Desbravam mais. Arroteiam encarniçadamente. O clarão das enxadas já se vê na linha dos picos. Mas a gente é muita, não sai, o mar fecha-a, comprime-a. Sente-se, vê-se que a terra não chega. Mesmo que a melhorem, que a aproveitem toda, que lhe excitem a fecundidade com todos os adubos possíveis e todos os ganhos da ciência, de momento não se dá ao povo ansioso e triste um remédio pronto para o seu caso.
Um viveiro de muitas bocas, e o pão não se multiplica como se multiplicam as bocas.
A desproporção avança por todos os Açores, mas, por enquanto, só é aflitiva na ilha de S. Miguel.
Ilha de S. Miguel:
Não começo pelas densidades. A situação é tão evidente, as suas cores são tão vivas e tão impressionantes, que não há mais do que olhar e sentir.
Poderia apresentar alguns quadros muito eloquentes na sua própria força descritiva, mas não quero que digam que exploro o drama social, quando a minha intenção não é a de especular com a verdade, mas a de buscar soluções para ela.
Em todo o caso, e só para dar uma ideia do quanto se sofre por falta de trabalho, vejam isto:
Ao findar do último ano, com a aproximação do Inverno, alguém que mantivera por largo tempo trabalhadores na arroteia de certo mato distante parou com o serviço. Os homens observaram que ficavam à míngua.
Então propuseram:
O senhor tem lá um caseiro. Nós vamos para cima. Quando chover não se trabalha. No fim da semana paga-nos só o que for.
E assim foi. Semanas houve em que os pobres trabalhadores, depois de calcorrearem, nos seis dias consecutivos, a via dolorosa e ingrata da casa à serra e da serra à casa, doridos e desalentados, só receberam salário correspondente a dois dias de trabalho.
Sr. Presidente: se eu dissesse a verdade dourada não dizia a verdade. Encanta-me a poesia das coisas. Mas, quando me faço ao mar, conto com a água, não conto com as espumas.
São angustiosas, na realidade, as condições de vida da maioria dos trabalhadores micaelenses nos seis concelhos da ilha, com alguma diferença, para melhor, no do Nordeste.
Estive na presidência da Junta Geral do Distrito Autónomo do Ponta Delgada. Era impressionante a insistência com que párocos, (regedores e até professores de instrução primária me procuravam, a pedirem serviço para os trabalhadores que viam sem ocupação.
Não dramatizo, emprego as palavras, as linhas, as cores necessárias. De contrário mentia à Assembleia, mentia ao Governo, mentia aos que sofrem, mentia à minha consciência, mentia a tudo e a todos, e até mentia à mentira, porque não era capaz de esconder com ela a verdade toda.
Todavia, confio mais aos elementos colhidos, aos números, o encargo de fazerem a luz, que não desejo aquecida, mas suficiente para mostrar os planos necessários ao entendimento do problema que me propus tratar.
Transporto para aqui dois quadros escrupulosamente conseguidos pelo engenheiro Pedro Cymbron, também Deputado pelo círculo de Ponta Delgada. O primeiro traduz, nas suas linhas gerais, o estado de aproveitamento dos solos na ilha de S. Miguel. O segundo, discriminando as culturas e as suas áreas respectivas,
indica o volume de trabalho, em jornas, que cada uma das superfícies cultivadas comporta:

QUADRO I

[Ver quadro na imagem]

QUADRO II

[Ver tabela na imagem]

O quadro II é acompanhado das seguintes observações, feitas pelo seu autor:
1) Por constituir uma cultura de carácter muito especial, que não pode ser considerada em relação à área ocupada, mas antes quanto ao número de unidades a produzir, a cultura do ananás não foi incluída no quadro II.
A capacidade máxima de produção das estufas micaelenses, nas condições que a regulamentação impõe, é de 2.440:000 frutos, mas actualmente não atinge 1.000:000. Assim, se 1:000 frutos exigem 215 dias de trabalho (homens, mulheres e crianças), serão 200:000 as jornas fornecidas pelos ananases, o que eleva para 3.208:546 o número de dias de trabalho atrás calculado.
2) Em virtude de a fertilidade do solo o permitir, usa-se em S. Miguel fazer culturas associadas e sobrepostas, sem deixar durante o ano qualquer descanso à terra; por isso o quadro II apresenta um total de 36:842 hectares ocupado com várias culturas, dos quais 4:000 são tomados por culturas não especificadas, quando no quadro I se considera toda a superfície cultivada agrícola apenas somando 32:856 hectares.
3) Não foram considerados os incultos como origem de trabalho, por aquilo que proporcionam ser praticamente nulo.