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4 DE MARÇO DE 1952 369

n.º 37:868 «foi concedido à Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, através do Fundo de Fomento Nacional, um empréstimo de 30:000 contos amortizável em vinte e cinco anuidades, à taxa de juro de 3,5 por cento».
Repare-se que é através do Fundo de Fomento Nacional que se aplicam os «fundos atribuídos a Portugal pelo programa do auxílio americano à Europa», para usar a linguagem do Decreto-Lei n.° 37:724.
Com toda a razão, o engenheiro Augusto Cancela de Abreu, ao tempo Ministro do Interior - sem lisonja, dos mais ilustres que têm passado por aquela pasta -, disse em 3 de Junho de 1949, na posse do governador do distrito autónomo do Funchal, brigadeiro Cunha Meneses, que tais obras se destinavam a melhorar a situação económica da Madeira e a empregar mais braços.
Sem querer entrar na descrição de todos os trabalhos públicos em curso, entendo que devo referir ainda o plano de repovoamento florestal, dotado com 62:963.616$.
Talvez que se atenue e suavise assim o quadro que o Prof. Marques Guedes, depois da sua visita à Madeira, pintou há dois anos no Primeiro de Janeiro.
E se já em outro artigo acentuei que o aproveitamento e valorização do solo madeirense é o resultado de um esforço intenso, por vezes dramático, do habitante, na rebusca da água e no amanho das leiras estreitas à enxada, devo hoje acrescentar que, no estado actual da economia da ilha, a terra já não sustenta suficientemente o seu homem.
Arquipélago dos Açores:
Tem de se reconhecer que o factor «insularidade» carrega a aparência das dificuldades de vida dos saldos populacionais acumulados de ano para ano nos pequenos espaços definidos pelo mar. As fronteiras da terra estão, sempre à vista do povo. Se o mar estiver vedado, ao primeiro rebate de que a terra já não dá para todos a ideia que surge é a de fome imediata.
Desprezo este factor, de ordem meramente psicológica, e determino-me pelas realidades. Afirmo então, sem hesitações, que não se vive bem nos Açores. Bem no sentido e na compreensão do desafogo necessário ou na usufruição do chamado «mínimo fisiológico». Mesmo naquelas ilhas em que a densidade populacional é mais fraca o fenómeno nota-se. Nas outras varia de intensidade. Em grande parte, e no que toca ao conjunto, pela má sorte das actividades industriais e agrícolas e pela falta quase absoluta de emigração.
E espantosa e edificante a história agrícolo-industrial do arquipélago.
A primeira grande batalha dos homens do século XV, portugueses de têmpera, que se fixaram nos Açores é a batalha do pão. Transportados do Reino a lugares remotos e inseguros, as puras virtudes ancestrais tudo vencem.
As ilhas produzem trigo para o consumo interno e para a exportação.
Maré de vitória.
Nos meados do século XVI apareceram as «alforras».
A cultura do trigo abateu.
Planta-se com mais força a cana do açúcar. Talvez seja o remédio. Boa e rendosa experiência, na verdade. O pior é o açúcar brasileiro.
É a cana de açúcar sumiu-se no abismo da concorrência.
O milho, introduzido em 1600, toma os campos desertos, ergue, como símbolo de renascimento, o seu pendão verde e promissor.
Mas o milho, embora chegue mais tarde, no quinquénio de 1850-1855, a atingir a média de exportação de 9:370 moios, progride devagar como fonte de rendimento. Também a princípio não o querem na alimentação.
Tornava-se necessário atirar as energias para outra iniciativa.
Activa-se a cultura do pastel e da urzela. O comércio de exportação das duas plantas tintureiras desenvolve-se tanto que a lei intervém para salvar as áreas onde nascia o pão.
Século e meio de abastança. Mais uma maré. Os impostos, o anil do Brasil e das índias e as anilinas químicas deram cabo da indústria. Em 1671 estava morta.
Trabalha-se então com as velhas culturas, come-se o que a terra dá, exporta-se algum trigo, algum vinho, fia-se a lã, prepara-se o linho, o povo veste-se e vive, mas luta assim mais de um século.
É quando o Brasil se desenha nos horizontes, luzindo, como o Sol, quando espalha ouro nas alvoradas.
O açoriano emigra, mas acredita na fecundidade da sua terra. Ela pode dar mais.
Recorre-se à laranja. Intensifica-se a cultura. E enorme a exportação: 23:500 caixas em 1833; 232:400 em 1869. No Faial, na Terceira, em S. Jorge, em S. (Miguel, pelo tempo da floração, o ar anda perfumado. Sobe a beleza no espaço e cai a riqueza na terra.
Acendeu-se uma boa estrela no céu dos Açores nesse findar do século XVII. O seu brilho, o brilho da estrela, aguentou por muito tempo. Vieram depois as pragas, a gumose, as cochonilhas, a laranja de Valência e de Múrcia, escureceu o céu, e as lágrimas que esgotaram a vida das laranjeiras esgotaram também a alma da gente açoriana.
E de desalento e de tristeza o último quartel do século XIX.
Desta vez é a América do Norte que se acende do outro lado do mar, a despedir um caminho de luz por sobre as ondas chocalheiras. Os que vão na frente chamam os outros. As ondas trazem a vibração forte de uma vida diferente, cheia de possibilidades, que se leva do lado de lá.
Apesar disso, o açoriano continua a acreditar na sua terra e não dorme, mesmo quando tinha razoes para se sentar e sonhar sobre a roda da fortuna.
O tabaco e o ananás, já ensaiados no período áureo, ocupam os braços, abrem clareiras de esperança no assombreado panorama económico do arquipélago. O ananás conquista mercados, alcança cotações boas. Segue-se a cultura do chá, o fabrico do álcool de batata doce, o açúcar de beterraba, a fibra de espadana, a chicória. Plantam-se árvores aos milhões, importam-se espécies novas, novas plantas, dá-se atenção à criação do gado bovino, aos lacticínios.
A América absorve muito sangue, anãs o que fica luta sempre, acredita sempre, aprendendo em cada derrota a combater por um triunfo.
Os anos passam. A primeira guerra feriu o ananás. Esta última quase o liquidou. A espadana em tempo de paz entra em crise. A chicória encontra dificuldades. A beterraba é consumida na indústria local. O tabaco também. Exporta-se muito pouca batata doce, da que cresce do fabrico do álcool. Algumas plantações de chá já foram arrancadas. Há quem teime ainda. Teimam, perdendo. O chá de África leva vantagens na competição.
Como há-de ser?, pergunta a ansiedade de milhares de corações.
O Brasil foi aurora que fulgiu e acabou num poente de ouro entornado.
Raras e mortiças são as luzes na estrada que levava os emigrantes até à América do Norte.
Como há-de ser?