O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

432 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132

Homens de ciência, economistas, técnicos idóneos, apóstolos fervorosos também não faltam. Encontram-se mesmo fora dos consagrados.
António Enes desembarcou na ilha de Moçambique sem aparato nenhum, seguido por dois moleques que lhe levaram as malas, e esse homem, que não tinha a auréola de colonialista, que não estacionou, antes, em qualquer ponto de África ou mais além, que não teve salvas u entrada, chegou, com o seu paisanismo, para dissipar so mau agouro da gente sisuda de Lisboa», calar a «matilha jornalística» do Rand e varrer, com o auxílio de outros grandes homens, que soube aproveitar, o império vátua, impondo, pela rijeza da têmpera, integridade do carácter, coragem de decidir e inteligência de governo, a sim alta figura de comissário régio.
Recapitulo:
Poder de civilizar, capacidade demográfica, capital-dinheiro, consciência de progredir, homens capazes, tudo isso possuímos na medida que se requer, e esses são os requisitos indispensáveis para um povo alargar as suas fronteiras políticas, económicas e morais.
Na medida que se requer - disse intencionalmente.
Alarmados com o crescente populacional à vista na conta dos braços a mais que reclamam trabalho, muitos consideram a largueza territorial das nossas províncias ultramarinas de Angola e Moçambique e sonham com a deslocação do saldo humano em torrente cheia e incontida, com destino a espraiar-se nos grandes espaços desertos ou quase ermos de gente branca. Sem medirem, então, as consequências, a morte e a miséria que espreitam nos lugares recessos, a confusão e o tumulto das soluções, de golpe, sempre que despertam é para prosseguirem no sonho com redobrado afinco.
Analisemos o problema:
A África é, sem dúvida, o grande apelo do momento. Dividido o Mundo em dois mundos, cada qual trata de esquadrinhar os seus recursos, no perigo de vida em que se encontram, de terem de soçobrar à míngua de existências próprias ou à força das existências alheias. Nesta dura batalha pelo ser ou não ser, talvez a mais tempestuosa da História, mão há recanto da terra que não sirva para uma suposição de valor. A África, pelas reservas de matérias-primas, algumas ainda não exploradas, outras longe do esgotamento, está à cabeça das atenções gerais. Por isso os casos internos da acomodação do cesso demográfico e do desenvolvimento do todo económico tomam maior acuidade quando tocados pela sofreguidão do Mundo.
Talvez este quadro nos force a acelerar os investimentos de gente e dinheiro em Angola e Moçambique, mas nunca de modo a tentar obra superaquecida por dinamismos exagerados e contraproducentes.
Somos um povo capaz de renovar aquele êxtase de força e de coragem que por um século - como observou um grande espírito - «fez do impossível possível e da inverosimilhança realidade». Mas, precisamente por termos realizado verdadeiros milagres de acção, multiplicando-nos incrivelmente, é que conhecemos quais são os limites do milagre e até onde pode ir a perenidade do esforço quando se ultrapassam as fronteiras julgadas naturais.
Sr. Presidente: guardei, com a emoção que se tem ao receber uma boa e feliz notícia, o texto desta carta que os jornais publicaram:

Os açorianos de Catofe não olvidarão as suas generosas impressões e amável propaganda. Como agradecimento, esforçar-se-ão com afinco e devotamente por erguer a primeira povoação açoriana em Angola.

A carta é do gerente da Cooperativa de Colonização Agro-Pecuária Açoriana paira
o jornoilisia Dutra Faria, açoriano também:

Quando um dia cá voltar poder-lhe-emos mostrar então a «Açoriana», pequena e modesta, mas sólida e progressiva, sem envergonhar as afamadas qualidades dos Açorianos, seculares povoadores de terras novas. E, à sombra da sua capela e do seu «Império», perpetuando-se as tradições açorianas.
Do nosso êxito, quando o alcançarmos, algo beneficiarão com certeza as populações das nossas, superpovoadas ilhas natais e igualmente as terras desocupadas desta grande província portuguesa.

E a carta termina com esta aleluia de fé:

Começaram a cair as chuvas e iniciámos mais um ano agrícola. Os pastos abundam: a produção de manteiga elevou-se para 20 quilogramas diários. E, com o verde alegre e viçoso dos pastos e dos milharais, cresce nos corações a esperança do colono. Esperamos em Deus que não será infundada.

Que vem a ser esta Cooperativa de Colonização Agro-Pecuária?
Há cerca de vinte anos dois jorgenses afoitos deixaram a sua ilha e fixaram-se no vale de Catofe, dedicando-se à lavoura e ao pequeno comércio com os nativos. Passados cinco anos, uma família numerosa deixa também S. Jorge e segue os primeiros colonos, levando alguns capitais e muita força de vontade.
Catofe é área de Quibala, distrito de Cuanza-Sul. Demarcados alguns terrenos, as privações, os sacrifícios, os riscos enraízam o núcleo inicial e, à medida que as raízes tomam gosto, o núcleo cresce com mais gente de S. Jorge. A agricultura é a actividade-base. A criação de gado e a indústria de lacticínios uma velha e experimentada predilecção da terra natal. E então que se funda a Cooperativa de Colonização Agro-Pecuária. Interessa conhecer em pormenor os seus fins.
Crédito agrícola mútuo; aquisição, arrendamento e gestão de terrenos; execução de trabalhos agro-pecuários, estudo e resolução de problemas de rega, selecção de gados e cultura, de acordo com as instruções técnicas obtidas; compra e venda de produtos agro-pecuários, gados, sementes, máquinas e utensílios, construções, mediante prévia autorização legal; manutenção de uma cantina para uso dos sócios; angariamento de pessoal indígena, tendo em atenção as disposições legais vigentes; difusão, entre os indígenas dos arredores, dos benefícios conseguidas pela Cooperativa, na medida do possível, e que sejam do interesse deles, como conhecimentos agro-pecuários, assistência sanitária e outros; fundação da Casa dos Açores, com fins culturais, recreativos e beneficentes.
Estes fins constituem já um vasto e valioso programa. Mas a Cooperativa propõe-se ainda obter do Estado e dos organismos corporativos e de coordenação económica o apoio necessário para a fundação de uma povoação rural, formada pelas casas dos colonos, existentes e futuras, igreja, posto sanitário e escola, empréstimos financeiros, caucionados pelas propriedades e gados dos colonos, destinados à edificação do povoado, compra de gado, captação da água potável, despesas de sementeira e cultura e execução de obras de hidráulica agrícola; cedência de reprodutores pecuários, sementes e árvores seleccionadas; empréstimo de máquinas agrícolas e outras; demarcação de terrenos para a futura povoação e para as fazendas agrícolas dos colonos, estudo de abastecimento de águas de rega e potável; assistência médica e medicamentos; visitas frequentes de técnicos agro-pecuários; concessão de passagens gratuitas, a par-