436 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132
Depois da comunicação do engenheiro Vitória Pires e de sé ter encontrado, na verdade, uma espécie de trigo resistente, que satisfaz, outras espécies foram já conseguidas através de uma labuta que tem os seus laivos de heroísmo consciente e proficiente. Isto, desde que se pague satisfatoriamente ao produtor, pode representar o começo da nossa libertação total ou em parte dos centros estrangeiros abastecedores de trigo.
Serão precisos alguns anos, dizem os técnicos. Mas o que era sonho já e realidade e a realidade que vem do sonho nunca perde a esperança que lhe deu vida.
Quanto à exploração pecuária - a bem dizer entregue,, com muita liberdade pastoril, ao indígena -, embora e por enquanto de reduzido peso na balança comercial, oferece já valores de fundo, a considerar, na certeza do seu desenvolvimento, com todas as probabilidades, mós planaltos. Esse desenvolvimento é mais do que necessário. Temos comprado muita carne à Argentina, ao Brasil, ao Uruguai e à Dinamarca. Só em 1947 a importação atingiu o valor de 147:000 contos.
Refiro duas observações que interessam:
Uma é do autor do livro Perspectivas Económicas de Angola, que vê o único remédio na generalização do tipo de criador fazendeiro, com a sua herdade onde o gado possa testar ao abrigo de epizootias e da mestiçagem coou as raças indígenas.
A outra é do americano Phil Eckert, veterinário especialista na criação de gados, que elogiou os métodos de colonização portuguesa e reparou nas largas possibilidades pecuárias de Angola.
A propósito da primeira observação, julgo conveniente referir que muitos técnicos são de opinião que a mestiçagem tem as suas vantagens, quando regulada cientificamente no sentido de aproveitar as qualidades de resistência das raças indígenas, já adaptadas ao meio.
É um comentário muito de passagem, mas suficiente para salientar um ponto de interesse.
Avaliando o estrago da riqueza lenhosa produzido pelas derrubas, pelas queimadas e pêlos cortes sem regra em Angola e Moçambique, que expuseram a terra à violência do Sol e ao castigo das águas, os serviços florestais das duas províncias e alguns particulares têm procedido a trabalhos de repovoamento. Em Angola, nos planaltos de Benguela e Bié principalmente; em Moçambique, nas dunas da foz do rio Limpopo, na Matola, Marracuene, Infulene e Namaacha, esta considerada até e utilizada já como centro de turismo.
Tenho notícias de que a Companhia dos Caminhos de Ferro de Benguela fez grandes plantações de eucaliptos ao longo das suas linhas, com o intuito de os aproveitar, mais tarde, para combustível, e de que o exemplo teve seguimento noutros pontos. Não sei se o eucalipto, pelas suas exigências alimentares, deva, na verdade, gozar de tão larga preferência. E um assunto para ser visto e ponderado pela técnica oficial.
O certo é que as existências florestais em Angola estão praticamente reduzidas ao Maiombe, enclave de Cabinda, e na outra costa, apesar das portentosas matas espontâneas que se espalham ainda por vastas extensões, já se faz sentir a devastação, operada não só pelos que buscam terra para amanhar, mas também pêlos muitos concessionários madeireiros, que se instalam no meio das espécies melhores e as cortam sem piedade, sacrificando, para abrir caminho, as espécies de menor valor económico, que se encontram misturadas e que, depois de abatidas, alteram o equilíbrio do ambiente, quando imo se tornam veículo de incêndios fáceis.
Em Moçambique está sob o regime de concessão florestal 1 milhão de hectares de florestas. A respeito de Angola não consegui números, mas o processo de exploração, numa parte e noutra, é o mesmo, como é o mesmo o regime do fogo, que percorre periódica e sinistramente as duas províncias, esterilizando o matando o chão, e igual a acção das águas, que lavam a terra nua.
É verdade que nas duas províncias estão proibidas as queimadas, mas a extensão é inimiga da fiscalização.
O fogo, em entrando nas florestas primárias, transforma-as - como observa o Dr. A. Esteves de Sousa no seu trabalho Importância Presente e Futura da Conservação e Defesa da Cobertura Vegetal - em florestas abertas, secundárias, estas em estepes, em savanas, em desertos, porque, além de destruir plantas mortas e vivas, inutiliza as sementes e outros diasporos e mata os microrganismos do solo, tornando-o estéril, deserto.
Num dos colóquios da Junta de Investigações Coloniais foi relatado este caso:
Uma simples picada não cuidada, aberta em 1942 por madeireiros em Mímica e Sofala, fez desaparecer a pujante floresta primitiva em que ela foi aberta. No seu lugar a missão silvícola encontrou, oito anos depois, uma flora de estepe, ein que imperavam as gramíneas o os troncos secos, esguios, idas árvores mortas pela mudança do ambiente.
Urge preservar da destruição o património florestal, guardando o mais que se puder em reservas bem cuidadas e vigiadas, proceder à reflorestação intensa, por toda a parte, do território onde estiver indicada, ensinar e divulgar os meios de agricultar sem perder terra e combater efectivamente o malefício das derrubas à toa e o crime das queimadas sem quartel.
Este grande problema, que é, no todo, o agudo problema da erosão, é dos mais graves, porque a erosão habitua-nos aos seus efeitos de cada dia e só nos sobressalta quando os efeitos são brutalmente sensíveis.
(Seis países com territórios ao sul do Sara, entre os quais Portugal, tomaram parte numa reunião da Comissão para Cooperação Técnica, iniciada na Cidade do Cabo em 28 de Janeiro último, na qual se discutiu o combate à erosão. Isto mostra, simplesmente, que o problema tem muito volume e muita gravidade.
Exploramos os diamantes, os calcáreos e grés asfálticos, os aluviões auríferos, os carvões betuminosos, o minério de manganês, os jazigos de cobre, e principiamos a dedicar mais atenção à riqueza mineira do ultramar, mas neste sector a produção de diamantes da Lunda está à cabeça, a muita distância.
As explorações mineiras, quando baseadas em prospecções seguras e instalações convenientes, com modelar organização técnica e administrativa, constituem meio óptimo para a fixação de colonos. Passando pela Califórnia e pela Austrália, o Transval é um exemplo bastante próximo e bastante eloquente.
Uns afirmam que o nosso solo africano é de minerarão fraca, outros supõem-no dotado de boas reservas, outros dão-no como rico em minerais de valor económico. Fugindo à discussão e reduzindo as possibilidades mineiras de Angola e Moçambique ao mínimo conjecturado, ainda assim ficamos a dever à política do «maior benefício».
Se em Angola é assim, em Moçambique os jazigos de carvão do Moatize e os jazigos de vários minerais do Alto Ligonha, segundo conta o engenheiro Pedro Cabral Moncada, poderiam servir para lançar naquela última província os primeiros empreendimentos mineiros de vulto, se o ânimo dos actuais concessionários não encontrasse tantas dificuldades a entravar-lhe o passo.
Há que intensificar as pesquisas, organizar e dotar os serviços geológicos com o pessoal e os fundos compatíveis, premiando os pequenos pesquisadores ou pequenos mineiros, e animar a instalação das empresas.