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5 DE MARÇO DE 1952 435

abandonámos o velho sistema das «feitorias» e vamos arrumando as tendas dos «aviados do mato» e deixando de comerciar como calha, aos caprichos da «permuta».
Plantamos áreas arroteadas de fresco, ensaiamos novas culturas, criamos «fazendas», organizamos o comércio e, dia a dia, temos aperfeiçoado os métodos da cultura e os processos do trabalho. Mas, e mais do que nunca, é preciso verificar o rumo, travar o frenesi dos lucros, consolidar o avanço, garantir o futuro.
Quem viu o Brasil limitar a produção do café e soube dos seus cafezeiros velhos e doentes, das muitas plantações abandonadas, dos prémios concedidos a quem as arrancasse, da destruição até 31 de Dezembro de 1939 de 58 milhões de sacos de café, quem tomou conhecimento de tudo isto e deu couta da baixa do café brasileiro de cerca de 70 por cento para 43 por cento da produção mundial, poderia ter previsto para o café africano uma época próspera e ridente.
Tive esta visão, mas não mereço, por isso, qualquer reparo lisonjeiro. Liguei o estado da cafeicultura brasileira às necessidades da guerra e a um provável recrudescimento da procura depois da guerra. Bastava mesmo a normal regularização dos mercados e a deficiente posição do Brasil para ocorrer a eles.
Seja como for, a produção do café em Angola aumentou imenso e o seu valor de exportação chegou ultimamente a destituir do primeiro lugar o dos diamantes da Lunda.

Exportação de café realizada para a metrópole e estrangeiro durante os anos de
1949, 1950 e 1951

[Ver tabela na imagem]

Não tenho a autoridade que me daria a prática das coisas de África, mas, abonado no que estudei e no que penso, peço aos cafeicultores que não se entusiasmem e façam uma previdente aplicação dos lucros.
A aura do café deve estar a decrescer. O Brasil recomeçou a plantar a partir de 1943 e por toda a América do Sul, na Colômbia principalmente, o volume das produções sobe bastante.
Deveria aproveitar-se este momento de boa sorte do café angolano para rever o quadro único dos seus problemas, procurando fixar-lhes uma política de conveniente orientação nos processos de cultura, na escolha e classificação do produto, no transporte, na defesa e garantia nos mercados externos.
E preciso que a vertigem ceda à técnica comercial.
Transforme-se a ocasião no melhor instrumento do futuro.
O próprio sisal oscila muito ao sabor das contingências da paz internacional.
Porque não sé disciplina e melhora a cultura do milho?
Porque não se dá uma maior e mais franca atenção a essa cultura?

O milho é alimento, vestuário e bem-estar do maior núcleo da população de Angola - a população do Centro, representada por mais de um terço da população indígena e por mais de um quarto da população europeia - e essa situação bem merecia amplo exame da produção e análise da evolução sofrida.

Esta observação não é minha; é de alguém que tem mais autoridade do que eu para a fazer.
Melhoraram-se as condições de armazenagem e expurgo, mas interesse-se o europeu directamente na produção, chame-se o técnico, ensine-se o indígena a cultivar melhor, estude-se economicamente a industrialização e colocação dos derivados, assegure-se o transporte, alivie-se a carga dos intermediários, estimule-se o produtor do milho com o preço razoável, suprima-se a via dolorosa do produto desde a origem ao consumo.
Não terá o milho, livre dos males que o diminuem, mais condições de estabilidade na cotação dos mercados?
Não quer dizer que se desleixem ou abandonem as demais culturas, pois há que prevenir a produção agrícola contra o regime de ciclos económicos, que tantas ilusões e quedas têm causado em Angola e Moçambique. Recorde-se a grande depressão económica de 1930, que destronou a euforia dos roceiros dos distritos do Norte da nossa maior província ultramarina e pôs em evidência a melhor estabilidade da mediania económica do Sul, onde vivo, na região dos planaltos, seguramente, um terço de toda a população de Angola.
Quero ainda fazer uma referência, embora ligeira, a uma grande possibilidade agrícola de alto valor económico para a vida nacional.
Laboriosamente, coni uma pertinácia científica credora de todos os louvores e de toda a admiração, desde Janeiro de 1942 que se trabalha em Angola no melhoramento de cereais em estações dirigidas por técnicos competentes.
Os trabalhos experimentais começaram em Janeiro de 1942, com 1:788 formas de trigo, 291 de cevada, 390 de aveia e 40 de forragem.
A grande preocupação era a de encontrar o tipo de trigo resistente às ferrugens, que servisse para ser utilizado na cultura em larga escala.
À Junta de Exportação dos Cereais se deve a primazia deste grandioso esforço. Depois de ter passado por várias e perigosas vicissitudes, pelas transferências de instalação a que foi obrigada, hoje a Estação de Melhoramento de Plantas a Chianga constitui um magnífico elemento de valorização económica da África Portuguesa.
Recordo-me de que o engenheiro agrónomo Vitória Pires, actual Subsecretário de Estado da Agricultura, em Janeiro de 1950, anunciou, desta mesma tribuna, que se tinha apurado já uma qualidade de trigo capaz de vencer as contrariedades do meio.
Creio que em Angola se poderá obter uma média de produção, «por hectare, aproximada da que se obtém ao Alentejo. Tenho informação de que na Huíla há produções médias de 15 hectolitros por hectare, nas terras humosas, e de que em Moçambique, em regiões como Macanga e Murrupela, as produções vão de 1:000 a 1:300 quilogramas por hectare.