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5 DE MARÇO DE 1952 433

tir dos Açores, aos colonos escolhidos pela Cooperativa e suas famílias para aumento do núcleo inicial.
Pegado ao fio da projectada teia, antevendo-a sobre a terra de África a estender a sua rede entretecida de sacrifícios e de esperanças, escreve, em 1951, um dos colonos, que está no Cutofu há quinze anos:
Será um dia dos mais felizes para mim aquele em que veja coroadas de bom êxito todas as nossas aspirações e danei por liem empregados todos os sacrifícios feitos para bem da nossa civilização e de todos os açorianos que só nos desejem juntar.

Depois disto em bom andamento, com resultados satisfatórios, e se tivermos o apoio do Governo, pensamos organizar outros núcleos por vários pontos desta grande e rica Angola. Talvez fosse interessante criar povoações diversas, cada uma com gente da sua ilha.

Pode ser que depois deste resumo descritivo alguém diga: mas por que razão se começou polo relato de um exemplo tão pequeno, quando a obra a decidir importa que se façam, desde logo, considerações de grande vulto?
Na pequena, mas vingada e gloriosa tentativa de Catofe, cresce a lição de uma experiência a amparar e a seguir.
A estrela maior nem sempre é a estrela que brilha mais.
Peguei no exemplo de Catofe e trouxe-o para aqui como um diamante por lapidar. Quanto vale? Quanto valem os seus reflexos? Quem sabe se pode vir a ser a pedra luminosa de uma nova e grande estrutura? Quem duvida de que possa vir a marcar o norte de outras e mais seguras caminhadas?
Remédio contra a especulação sem escrúpulos, arma contra a usura sem quartel, forma de proteger os fracos, de avivar o espírito de colaboração, o sentimento gregário, processo de aperfeiçoar os métodos de trabalho, de activar e fundir as energias produtoras, não será este cooperativismo de penetração agrícola, com fins de extensão humana, políticos, sociais, económicos, um meio profícuo de continuar a gesta do sangue português por essa África dentro, onde canta a nossa língua e se esforça o nosso braço?
É curioso que os alemães e os italianos estão a fixar-se no Brasil pelo mesmo processo. No Estado de Goiás 25:000 hectares ofereceram espaço a cinco pequenas comunidades germânicas do cem famílias cada uma.
Diz-se que estas iniciativas fracassaram ou estão fracassando, afogadas em produção mal escoada por deficiência de transporte. Será mais um ensinamento para os Poderes Públicos do que um motivo de desânimo para os empreendedores particulares.
No entanto, no estado do Rio estão em actividade três cooperativas de colonos italianos nos Municípios de Itaburaí, Araruama e Parati, e outros estados estão a receber, pela mesma fornia, mais imigrantes italianos.
Na base destas iniciativas não pode deixar de existir o dinheiro. Por isso os homens de Catofe pediram e receberam agora para s sua cooperativa um empréstimo de 1:000 contos, a fim de poderem desenvolver a obra principiada; quantia bem modesta, na verdade, mas talvez a suficiente para um maior e decisivo passo. Esclarecem: «É auxílio para pagar, pois não precisamos de esmolas».
Está provado que a chamada «ocupação étnica de Angola», e quem diz de Angola diz de Moçambique - para falar só das províncias em que o problema tem toda a extensão e agudeza-, não se pode fazer a galope.
Interessa conseguir números grandes, mas interessa, sobretudo, conseguir resultados seguros.
Falando em 24 de Novembro de 1934 na Aula Magna da Universidade de Roma, o Prof. Emídio da Silva afirmou, na sua conferência, que as realidades coloniais portuguesas desmentem os prejuízos correntes de que a colonização africana deve ser o produto do escoamento súbito de grandes massas brancas, com vastos planos, largos capitais e grandes trabalhos públicos, pois o sucesso depende de um esforço incessante e de uma adaptação difícil, e o nosso passado colonial, com as suas obras notáveis, que permanecem de pé, é a prova do que pode realizar a perseverança, operando com reduzidos gastos pecuniários.
A vitória desses açorianos pertinazes não será a demonstração destas verdades maciças?
Tratando do regime do trabalho na economia colonial e dos problemas conexos. Cesar Cosciani, nas Lições, que já citei, refere esta verdade fundamental de que sa valorização económica deve ser acompanhada de uma profunda e vasta obra de civilização, no sentido mais puro da palavra».
Não se civilizam de um dia para o outro as grandes massas indígenas. Por sua vez alguns brancos transportam para o ultramar uma perigosa teoria de mando, na ideia feita de que todo o branco pode ser, pelo menos, ditador de dois negros; por outro lado, estes estão habituados a um mínimo, baixíssimo de necessidades e depressa largam o trabalho, depois de satisfeito esse mínimo, o que não os inibe de apresentarem no mercado os seus produtos pôr preços vis ou irrisórios, que o comprador europeu muitas vezes explora na ganância de todo o lucro.
Só uma forte e persistente pressão civilizadora e o emprego de adequadas medidas de vigência transitória poderão impor-se, não esquecendo as mentalidades, a capacidade profissional, as possibilidades físicas próprias de cada raça e de cada estado de cultura e o prestígio indispensável à natural posição de ascendência espiritual assumida pêlos mais adiantados.
São muitas as dificuldades:
Não está feito o reconhecimento agrológico do território, falta-nos uma carta de aptidão dos solos, mas a opinião dominante é a de que o solo da África tropical é pobre, salvo algumas manchas de reduzida extensão. Mesmo nas zonas onde o capim é pujante, bastam dois ou três anos de cultura para a terra ficar esgotada. Uma dezena de habitantes por quilómetro quadrado representa já uma densidade de vulto.
A pouca camada de húmus e a forte erosão dão a nota do 'empobrecimento da terra. Isto obriga à cultura itinerante para dar tempo à regeneração do solo, mas o processo assenta na derruba e na queimada, dois enormes agentes destruidores das riquezas da própria terra.
A criação de centros urbanos e o seu crescimento rápido podem, por seu lado, conduzir à indisciplina dos indígenas, pelas reacções da sua mentalidade primitiva em presença de uma vida nova que não estão aptos a compreender.

O europeu -observa-se no interessante livro Perspectivas Económicas de Angola, do Dr. Valdes dos Santos, onde colhi algumas notas - só em manchas restritas pode ser em África o executor dos pesados trabalhos de produção; ao invés, o indígena, se para viver não pode dispensar-se de trabalhar, pode, todavia, deixar de trabalhar para o europeu. Desta diferença de posição resultam as principais dificuldades do problema da mão-de-obra.