O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE MARÇO DE 1952 479

exemplo, da incompetência de alguns daqueles que têm a seu cargo a tarefa de pôr tem execução os planos colonizadores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É facto tristemente averiguado que muitas dessas entidades não tem estado à altura do seu papel e do seu dever.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É um deplorável defeito de muitos esquecerem as finalidades essenciais das suas funções. Uma ignorância enciclopédica agrava frequentemente esse defeito. Ora nem a elaboração nem a execução de planos colonizadores pode estar à mercê dessas contingências, que são afinal as principais1 culpadas de tantos insucessos, verificados. Entendo que é menos culpado o colono incapaz ou que não se encontra em condições de êxito do que a entidade que o fez colono ou cuja incapacidade o colocou nessas condições desfavoráveis. Seria um cálculo interessante o da soma de capitais se esforços despendidos até hoje pela Nação como tentativas de colonização mal sucedidas, menos pela culpa idos métodos preconizados, da Natureza ou dos próprios colonos, do que pela inépcia, a incúria ou a inconsciência dos executantes do esquema projectado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para mim o problema demográfico nacional, como o da colonização, é mais qualitativo do que quantitativo. Quantitativamente devemos mesmo reconhecer que as perspectivas abertas pela emigração e pela colonização do nosso ultramar aos excedentes demográficos estão longe, muito longe ide fornecerem saída, de facultarem absorção a uma parcela considerável do nosso saldo fisiológico de população. Esta aumenta na metrópole uns 100:000 indivíduos por ano. Os quantitativos previsíveis para uma emigração satisfatória e para uma colonização ultramarina em condições vantajosas para os colonos e para o País não ascenderão nem sequer a metade ou até a muito menos de metade daquele aumento anual de população metropolitana.
Com razão Salazar proclamou ser necessária à emigração para as colónias acrescentar, para solução, do nosso, problema demográfico, a mais intensa industrialização do País. Uma boa colonização e a valorização dos recursos naturais do País darão o quadro de possibilidades de existência a muita mais gente do que aquela que participará directamente naquela colonização e na dita industrialização.
Aos colonos directamente ocupados nas actividades agrícolas, pecuárias, piscatórias ou industriais somar-se-ão os indivíduos entregues às actividades conexas e complementares, como as comerciais, as administrativas, as culturais, etc. O essencial e urgente é erguer e consolidar a arquitectura fundamental, o travejamento do grande edifício. O resto virá depois por si, e o resto é ... a vida de muita gente, é muita riqueza nova, é um mundo de possibilidades, são cidades, bibliotecas, teatros, museus, iniciativas imprevisíveis, até as riquezas invisíveis, como os Ingleses chamam ao património de cultura e do espírito de um povo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Desde 1945, graças ao Fundo de Colonização, criado pelo 'Ministro Marcelo Caetano, seguiram para o ultramar cerca de 12:000 colonos provenientes da metrópole: uns 2:000 por ano, em média.
Que é esse quantitativo perante os 100:000 que constituem o aumento populacional por ano? E, apesar de todos os cuidados havidos no cumprimento das boas normas legislativas na matéria, não estamos certos de que toda aquela massa humana tenha representado um papel verdadeiramente útil, se tenha adaptado à desejada função colonizadora.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria interessante inquirir do destino que tiveram os seus componentes e sem que medida cada um destes terá podido reintegrar o encargo representado pelo seu transporte, pela sua instalação, pela assistência recebida.
Não critico, não censuro ninguém. Somente pergunto, porque tenho dúvidas, tenho sobretudo receio, tão acostumado estou a que as melhores intenções sejam na nossa terra prejudicadas na sua execução pela incompreensão ou incúria dos. encarregados desta. Gallieni dizia a Liautey que o funcionário, general ou perfeito, no seu país, só receia uma coisa: as ideias gerais e as vistas de longo alcance. Servia-lhes então os pratos mais ousados e revolucionários como coisas muito simples e correntes. Há entre nós que preocuparmo-nos com os náufragos da colonização, com. o pretenso colono que, sem desejo de cavar a terra ou sem quaisquer habilitações utilizáveis, tem de ser repatriado ou vive parasitàriamente, montando uma chitaca, mais comercial (se este nome merece ...) do que agrícola, uma lojeca ou tendinha em que explora o indígena com alguns fardos de fazenda e sobretudo vendendo-lhe vinho, embriagando-o ... Entre parêntesis: cá pela metrópole também há chitacas ...
Risos.
E absolutamente impossível numa exposição da ordem da que estou fazendo indicar todos os aspectos que revestem o problema da colonização. Limito-me às considerações feitas e ao enunciado de algumas evidências que me parece imporem-se nesta matéria. Não me pronuncio por um sistema, único, mas pela adopção do sistema mais adequado segundo as regiões colonizáveis, as possibilidades dos solos, das culturas, das comunicações e dos mercados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Embora os climas quentes tenham uma acção depressiva sobre a energia humana -, não é o clima (aliás excelente nalgumas zonas) o culpado principal do insucesso de muitas colonizações, mas a existência de agentes patogéneos bem determinados e a falta frequente entre os colonos dos mais elementares cuidados de higiene e de defesa contra a insalubridade local. Ainda assim ninguém poderá dizer que está feito satisfatoriamente o estudo dos climas do nosso ultramar. Esperemos muito a tal respeito da acção estimulante e coordenadora dos Serviços Meteorológicos, dirigidos pelo nosso ilustre colega Amorim Ferreira.
Não é menos imperioso o estudo dos solos, com o concurso de agrónomos, geólogos e químicos, estudo felizmente já iniciado em Angola e Moçambique. De um modo geral, impõe-se o conhecimento dos recursos naturais existentes, estudo vastíssimo, que apenas se pode dizer iniciado. Tudo, porém, em bases científicas: só primários entenderão, por exemplo, admissível como sistema a prospecção mineira ou de combustíveis sem um satisfatório» estudo geológico preliminar. São magníficas as iniciativas em curso de aproveitamentos hidroeléctricos e de irrigação agrícola, como, quanto à hidráulica agrícola, o das bacias do Limpopo e do Incomati, empreendimento a que ficará ligado o nome