13 DE MARÇO DE 1952 493
Educação Nacional tem insistido, através dos respectivos departamentos, pela sua execução exacta, rigorosa e, quanto possível, completa e perfeita.
Já no discurso citado o ilustre Subsecretário de Estado de Educação dizia, porém: «Seria, por isso, menos justo quem nos acusasse de não encarar de frente o problema, e com o firme propósito de acertar, as múltiplas e variadas questões em que é fértil tão importante sector da educação».
Pode mesmo dizer-se, sem receio de desmentido, que muitos desses problemas se encontram resolvidos ou em vias de solução, embora nos consideremos «ainda afastados de grande numero dos objectivos finais que nos propusemos alcançar».
O Sr. Carlos Moreira: - V. Ex.ª dá-me licença?
V. Ex.ª não desconhece nomes de relevo na educação, na história da educação, que não perfilham esse ponto de vista e que não dão à função da escola primária O sentido que parece deduzir-se das palavras de V. Ex.ª
O problema é sério demais para sentenciosamente ser afirmado e apreciado.
O Orador: - Não desconheço que há nomes de prestígio em matéria de educação que tom opinião contrária à seguida em matéria de ensino primário pelo Sr. Subsecretário de Estado da Educação Nacional.
São opiniões. Por mim acho boa e até a melhor - a orientação dada, e só desejo que a sua realização se aperfeiçoe.
É que realizar é difícil, e na prática encontram-se, por vezes, dificuldades que a rotina do passado e até as circunstâncias do meio aumentam, a ponto de se ir até onde se pode na realização do ideal a atingir.
Estou, contudo, certo de que se chegará ao fim e que o muito que já se fez será estímulo e força a garantir que há-de fazer-se o que ainda falta.
Porque a observação me diz que o Sr. Dr. Veiga de Macedo tem razão quando afirma que nos devemos considerar ainda afastados dos objectivos finais que com a nova orientação do ensino primário o Ministério da Educação Nacional se propôs alcançar, por isso. não se pode levar a mal se apontem as deficiências que ainda existem, e que não são devidas nem a falta do boa orientação nem de esforço e insistência para que ela seja- seguida e executada.
Não se modificam os hábitos num momento, nem se encontram para as reformas salutares a realizar os executores hábeis e adestrados que lhes garantam toda é eficiência.
A vontade de bem servir do professorado primário a manifesta. Não poderá, contudo, o mais integrado na letra e espírito da nova orientação ver-se na prática mal, apreciado, porque, procurando que a escola da aldeia em que trabalha viva para o seu meio e querendo fazer dela o elemento educativo de todos os., habitantes da aldeia, e trabalhar sobretudo para a generalidade dos seus alunos, não brilha tanto, levando a exame um maior número de alunos?
É preciso que o exame não seja o critério exclusivo, nem mesmo o mais importante, para avaliar da competência do professor.
Sabe-se que não são essas as indicações do Ministério da Educação Nacional, mas a vaidade de levar a exame muitos alunos é ainda uma grande tentação ...
Funesta tentação, que dá em resultado serem na prática contrariadas as indicações do Ministério da Educação Nacional, e pelo exame se encherem as aulas de ensino secundário de uma população escolar de baixa craveira intelectual, que só à força de muitos trabalhos chega ao 5.º ano do liceu, para mendigar um emprego ou para dar às escolas do magistério um excesso de candidatos eternamente à espera de vez.
A grande massa rural que frequenta a escola primária ou fica no exame da 3.a classe ou, se vai além, pretende ser tudo menos da lavoura e trabalhar em toda a parte menos no amanho das terras da sua aldeia natal ou na administração das suas propriedades agrícolas.
Urge combater a todo o transe esta tendência, que o Sr. Dr. Veiga de Macedo, no discurso já citado, classificou de «deslocada e prematura superintelectualização das crianças».
Esta falta de completa integração da escola primária no meio em que está e para serviço dele concorre poderosamente para fazer desenraizados os quê a frequentam, quando devia ser afinal um dos melhores factores de valorização do meio e dos elementos que o constituem. Para isso o ensino das primeiras letras na escola primária da aldeia deve ser informado, nos programas e na maneira de os ensinar, de um intenso critério de amor à terra e de apologia da vida e profissão agrícola e admiração pela sua grandeza e importância na riqueza da Nação.
Leituras, problemas, pontos escritos deviam ser, na escola da aldeia, tirados da vida dos rurais, no meio dos quais a escola se encontra, por forma que a criança, ao deixar a escola para entrar na vida, tivesse mais amor à profissão de seus pais e ingressasse na vida segura de que encontrara na escola luz e orientação para ser na família e na profissão um valor maior do que os seus antepassados.
Porque não hão-de adoptar-se para a escola primária da aldeia, ao menos para as últimas classes, como livros de leitura A Horta do Tomé, O Pomar do Adrião e A Quinta do Diabo, do falecido agrónomo e hábil vulgarizador Mota Prego?
A singeleza e encanto de narrativa destes livros e os factos contados através das suas páginas, todos eles da vida diariamente observada ou vivida pelos alunos, dar-lhes-iam, com grande interesse pela leitura, grande amor pela vida agrícola e ensinamentos rudimentares para vencer a rotina em que a lavoura vive estagnada.
Isto ajudaria a corrigir a tendência para se procurar na escola uma libertação que os antepassados não conseguiram: a libertação dá terra, que dá o pão aos Portugueses, e do trabalho agrícola, que é essencial à vida e prestigio da Nação.
Pode esta tendência ser ainda mais agravada na escola se os professores que ensinam na aldeia não tiverem espírito rural.
Dá-se por vezes o caso de serem destacados para ensinar na aldeia professores e professoras que não conhecem o meio rural e as suas necessidades, não têm espírito rural e são incapazes, por isso, de se porem, e à sua escola, ao serviço das famílias rurais.
Aprendi com um tratadista célebre de assuntos de educação, grande e insigne pedagogo, que há dois grandes meios de criar defeitos nas crianças: o exemplo e a lisonja.
Pelo que sei e conheço da vida de algumas das nossas aldeias do Norte de Portugal, posso afirmar que há em escolas primárias mestres que o são no emprego destes dois meios.
Idos das cidades ou vilas do País, habituados aos confortos, divertimentos e até luxo dos centros urbanos, estranhos na aldeia aos seus usos e costumes, considerando-se desterrados na pequenez e humildade do meio em que se encontra a escola, ansiosos de se libertarem e de fugirem no mais curto prazo, tudo o que dizem e fazem, e até a maneira como vestem e se apresentam, é estímulo aos seus alunos para a fuga da aldeia. Sempre que podem, juntam ao exemplo a lisonja às pretensões