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13 DE MARÇO DE 1952 495

Uma unidade é uma pequena cidade, com múltiplas actividades: com vários trabalhos agrícolas, com as suas oficinas de serralharia, carpintaria, alfaiataria, etc. Não há comandante nenhum, cônscio das suas responsabilidades, que não deseje que os soldados encontrem no sen quartel um prolongamento da vida que, sob todos os aspectos, faziam anteriormente.
Hoje, nos quartéis de Portugal reza-se e trabalha-se, cuida-se do espírito e do corpo, realizasse um trabalho social que é pena que V. Ex.ª ignore.
Tenho muita pena que V. Ex.ª, repito, ignore estas actividades.
Os soldados não saem do quartel apenas sabendo ler e escrever, como V. Ex.ª disse. Saem melhor preparados nas habilitações que anteriormente possuíam, robustecidos nos sentimentos que beberam no lar, encaminhados no sentido de tinirem melhor rendimento das suas aptidões.
A vida militar é hoje isto. E o dever de seguir este rumo todos os comandantes o sentem. É que nós, militares, temos tão alta noção do dever que os nossos maiores direitos são os nossos mais sagrados deveres: o dever de confessar a nossa fé e o direito de morrer por ela; o dever de defender a Pátria e o direito de por ela dar a vida; o dever de fazer de cada português um soldado, na verdadeira acepção da palavra, e o .direito de sentir-se o guia seguro de todos.

O Sr. Manuel Vaz: - E, se V. Ex.ª me dá licença, de fazer homens de carácter. É uma escola de formação de carácter.

O Orador: - Confesso que foi com muito prazer que ouvi a interrupção de V. Ex.ª e dou-me por muito feliz pelos elementos elucidativos que V. Ex.ª trouxe ao meu discurso. V. Ex.ª é um distinto militar e eu não queria de maneira nenhuma que as minhas palavras pudessem ter uma errada interpretação.
O meu empenho, no que disse, foi simplesmente apontar falhas, e nunca colocar-me em luta ou combater a acção do quartel na defesa da Pátria. A essa acção presto a minha homenagem.
Mas permita V. Ex.ª que, em amor à verdade, eu diga que as falhas que apontei se notam ainda em grande parte dos rapazes que regressam com mais amor à cidade do que à sua profissão, no que, aliás, o quartel não tem culpa.
É que lhes falta ainda a formação necessária para que os ensaios feitos dêem pleno rendimento e eficiência ...
Acrescente-se a tudo isto a acção dos organismos corporativos agrícolas, fazendo deles escolas práticas dos seus associados, dê-se assistência técnica à lavoura, organize-se devidamente a arrumação da nossa gente, como disse o ilustre autor deste aviso prévio, que as vidas em aumento serão também consolador acréscimo da nossa riqueza e do nosso prestigio.
Sr. Presidente: para que a economia e a política se ponham ao serviço da grande realidade nacional que é o aumento do seu capital humano, não basta empregar todos os meios e realizar um esforço de conjunto, organizando e coordenando, para o engrandecimento da riqueza material; é ainda indispensável providenciar para que dela se faça uma justa distribuição.
Se a escola, o quartel, os organismos corporativos se não puseram ainda, a sério, ao serviço desta realidade, se há ainda muito que fazer para aproveitar melhor o que temos, para explorar o que está inculto, para arrumar a nossa gente, para regular e organizar a emigração, também a insuficiência de meios de subsistência para muitos se deve à deficiência da nossa organização na distribuição justa da riqueza.
O crédito agrícola mal organizado faz com que muitos pequenos e médios lavradores sejam vítimas da usura; as contribuições, que incidem igualmente sobre propriedades livres ou oneradas com hipotecas, tornam aos proprietários destas impossível a vida e proletarizam muitas famílias agrícolas; a falta de organização para a venda a justo preço dos produtos agrícolas obriga o lavrador, ora a cedê-los por um preço inferior ao custo do granjeio, ora a ficar na dependência e a sujeitar-se ao que queiram oferecer-lhe por eles.
As uvas da casta «Alvarinho» de Monção são vendidas ao preço das uvas de qualquer casta ordinária a duas organizações comerciais, que vendem o vinho dessas uvas por preço superior no do vinho do Porto; as laranjas de Amares, apreciadíssimas nos nossos meios urbanos, são em Janeiro vendidas pelo lavrador ao desbarato para pagar as contribuições, com o encargo de as defender dos ladrões até aos meses da Primavera ou do Verão, para que nesses meses o comprador as venda por preço dez vezes superior àquele por que as comprou.
Em face do aumento demográfico do País, aumento que se dá sobretudo nas aldeias e na classe dos trabalhadores rurais e dos pequenos proprietários agrícolas, é necessário não sómente criar riqueza, mas fazer com que essa riqueza seja mais útil ao meio e à classe que a produz.
Temos de evitar que a costureirinha da aldeia ou das nossas pequenas vilas receba 15 pelo feitio de uma camisa, explorada na sua pobreza pelo negociante ambicioso e sem escrúpulos; que a camponesa de Fafe receba $50 por fazer um chapéu de palha, à ordem de qualquer usurário ambicioso.
Sem extremismos escusados, mas por amor à justiça e necessidade de uma política social justa e ao serviço da população, temos de pensar numa reforma agrária e de velar para que o contrato de parceria agrícola se faça por forma a que uma das partes dê o trabalho e execução do seu braço e a outra parte o seu conselho e orientação e a assistência financeira precisa.
Mal nos vai se não travamos a funesta tendência de o proprietário se desinteressar das suas terras e as abandonar ao trabalhador, sem competência para uma exploração cabal nem recursos económicos para a tentar, e se as relações entre os dois se limitarem ao cuidado do proprietário agrícola em receber a renda ou a pensão ajustada, por intermédio do seu feitor ou procurador, na época própria.
É muito mais a esta falta de justiça distributiva do que propriamente à insuficiência do que se produz que se deve a fuga das aldeias e do trabalho da terra para as fábricas, para as cidades ou para o estrangeiro. Só se muda quem está mal. Se o rural mostra desejos e empenho em mudar-se, não obstante o seu grande amor à terra, à família e às tradições, é porque entre os rurais o nível económico de vida é ínfimo e este sector da vida nacional é o que vive mais desamparado e esquecido.
Não sofre confronto com o nível de vida dos trabalhadores da indústria o baixíssimo nível de vida do trabalhador rural ou mesmo do pequeno proprietário agrícola.
Vai-se notando um enorme desprezo do operário das fábricas pelos que ficam na lavoura, ainda mesmo pelos que são proprietários, e eu, que sou pároco num meio vincadamente agrícola mas também fortemente industrial, sei os pedidos que tenho na roda do ano de proprietários agrícolas para conseguir junto dos donos ou gerentes de fábricas que os admitam lá, como assalariados.
Conheço até muitos casais agrícolas abastados em que os filhos são operários das fábricas e a administração do casal está confiada às mulheres.