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19 DE MARÇO DE 1952 549

ciências da estragégia e da táctica; ;por (melhores máquinas que se inventem e anais decretos e regulamentos que se publiquem, o resultado dos combates continua a depender principalmente do homem - do moral do homem.
O chefe digno desse nome não só conhece a fórmula mágica que .conduz na vitória, mesmo contra a superioridade numérica e material, mas também sabe empregá-la constantemente, na paz e nu guerra, resume-se numa palavra: "entusiasmo".
Pequenas coisas, aparentemente fúteis, podem destruir ,o moral. Pequenas coisas, umas vezes julgadas insignificantes, outras vezes verdadeiramente terríveis, levam soldados/e marinheiros aos cumes do entusiasmo. O chefe digno desse nome é psicólogo nato ou estudou psicologia. Evita todo o mal evitável, serve-se de tudo quanto seja aproveitável.
O tomem, esse desconhecido -dos maus dirigentes militares-, é transparente, não contém enigmas nem mistérios para um Mestre de Avis, um Nuno Alvares, um Gama, um Afonso de Albuquerque, um Mouzinho, um Sidónio ou um Gomes da Costa.
O exército .do entusiasmo, o exército de maltrapilhos da Convenção Francesa, onde os voluntários avançavam desarmados, a espreita idas armas que os mortos e feridos iam deixando cair, bateu os melhores forças militares estrangeiras.
O exército com chefes sem moral, embora mão lhe faltasse um botão na polaina dos soldados, rendeu-se em Sedan sem disparar um tiro.
Tropas que um "dia debandaram, porque os oheies lhes quebraram o entusiasmo, cobriram-se no dia seguinte, de glória, quando, um inovo comandante, com quatro palavras e duas anedotas, lhes modificou o espírito.
A marinha de guerra portuguesa, sob a égide de um grande Ministro, servida e conduzida por oficiais que honram o seu uniforme glorioso e por sargentos e marujos que tantas vezes temos visto combater bravamente, acha-se em pleno progresso espiritual e material. Há muito que esperar dela, ao serviço da Pátria e da unidade dos Portugueses. Há muito que aprender com ela em matéria de camaradagem, de espírito ide corporação e de competência.
Vozes: - Muito bem, muito bem ! i
O Orador: - Respeitemos-lhe as tradições e uniforme. Não lhe quebremos o entusiasmo magnífico com que ela nos estende os braços amigos, em amplexo patriótico, fraternal e definitivo.
Que importa que haja duas fardas diferentes na aeronáutica militar?
Será até óptimo que haja duas fardas diferentes na aeronáutica militar, porque uma delas, a velhinha, a dos marujos, acha-se coberta de tradições, e de vitórias e há-de naturalmente provocar despiques úteis.
Um dia, certo senhor muito atento às leis e regras da vestimenta, foi visitar, no teatro de operações de guerra, o exército conduzido por um general prestigioso. E logo censurou ao chefe militar:
Cada um dos seus subordinados anda vestido como lhe apetece. Fardas vistosas, mas diferentes das regulamentares. Pluralidade em vez de uniformidade.
O general, para quem o homem não era "esse desconhecido B, retorquiu :
- São bravos combatentes. Não lhes afectemos o moral. Deixai-os, senhor, usar a mortalha que preferem! Este mesmo apelo dirijo daqui à Assembleia Nacional: Srs. Deputados: deixai que os marinheiros da aviação naval conservem a sua farda. Deixai-os escolher o pano azul que os há-de amortalhar. Com ele têm lutado sobre
as ondas e sobre o ar. Com ele realizaram feitos memoráveis. Com ele morreu Carvalho Araújo em luta épica com um submarino alemão. Com ele ganhou gloriosamente Armando Ferraz a sua Torre e Espada durante o mesmo feito.
E o uniforme do comandante Liberal da Câmara, que em 1931, no primeiro desembarque na Madeira, com a sua canhoneira lho e os seus marujos indómitos, realizou prodígios de valor para proteger u pequena força do exército do torra que ia começar a aventura.
Ë o uniforme de Paulo Viana, António Namorado, Neves Ferreira, Armando Reboredo, Cardoso de Oliveira, Jerónimo Jorge, António "Garrelhas, Costa Gomes, Telo Pacheco e José Aires de Sousa, intimoratos pilotos da aviação naval, que nesta acção obraram maravilhas de camaradagem e tão de perto e tão abnegadamente apoiaram as tropas que as asas dos seus aparelhos chegaram a roçar a terra, para impedir o inimigo de atacar as forras do Exército.
Ë o uniforme com que se sepultou no mar uma das figuras gigantescas da aviação de todo o Mundo, o piloto da Armada Sacadura Cabral, o condutor desse raid ao Brasil que apaixonou as duas Pátrias irmãs e, em época de apagada e VII tristeza, transportou as almas aos píncaros do entusiasmo patriótico.
É, Sr. Presidente, o uniforme que há-de amortalhar um dia, que Deus permito, venha muito longe, o velhinho rijo e belo, glória eterna de Portugal, que dotou a, Aeronáutica com novo e sábio processo de navegação, velhinho venerando que, tal qual Afonso Domingues na Batalha, demonstrou pessoal e praticamente a excelência do seu método e guiou os minúsculos aviões da aventura aos penedos de S. Paulo e ao Brasil.
Esse velhinho rijo e belo, o almirante Gago Coutinho, glória eterna da aviação naval, decerto ficaria com a alma em sangue se ela desaparecesse dos céus e do mar.
Srs. Deputados: alguém me acusará de falar-vos com o sentimento. E desdenhará de mim, porque vibro, e palpito, e brado - e me comovo. Mas, em casos como este, o espírito deve superar a matéria, o entusiasmo vale mais que a economia. Porque a condução da guerra, principalmente nas nações fracas, necessita acima de tudo de moral, deixai que o sentimento comande também as nossas acções.
Deixai que os homens da aviação naval conservem a mortalha que escolheram!
E eu juro-vos, em nome deles, que todos serão dignos dos seus mortos e dos seus heróis, que a Nação ficará melhor defendida e que toda a Marinha os acompanhará, a acrescentar novos cometimentos aos feitos do passado, a erguer com patriotismo, com fé e com entusiasmo novos monumentos à unidade nacional e à glória imorredoura dos Portugueses!
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: não esperava ter de subir a esta tribuna para tomar parte na discussão das propostas de lei respeitantes à organização geral da aeronáutica militar e ao recrutamento e serviço militar das forças aéreas.
Quando, há cerca de três meses, se tratou da proposta de lei n.º 514, sobre a organização da defesa nacional, disse, então, arrastado pelos trabalhos da Câmara Corporativa e discursos pronunciados nesta Assembleia, o que agora seria mais oportuno e devidamente ajustado.
Repito: estou aqui sem que tal fosse previsto, não só por me parecer que já dissera o suficiente para esclarecimento da Assembleia, mas também porque é pouco