568 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 139
Poderia continuar citando mais opiniões e muitos mais exemplos.
Seria um nunca acabar. Vou acrescentar sómente alguns.
Durante a última guerra o Almirantado recebeu um rádio de um submarino que pretendia entrar num porto inglês e se queixava assim: «Façam favor de dizer aos pilotos da R. A. F. que me deixem entrar no porto e não me bombardeiem, porque sou inglês».
Os pilotos terrestres tinham-no confundido com um submarino alemão.
Em 9 de Fevereiro de 1941 o cruzador pesado italiano Pola foi gravemente danificado pela força aérea italiana. Simples caso de má identificação, que marinheiros treinados não cometeriam. Mas os erros de identificação não eram exclusivo da Itália: quarenta e oito horas antes da invasão alemã da Noruega, aviões de patrulha da R. A. F. avistaram navios de transporte a navegar no mar do Norte. Só ligeiramente se interessaram pelo facto e só podiam notificá-lo pelas vias normais. O Almirantado sómente recebeu a notícia depois de a invasão ter começado!
Se os pilotos fossem peritos em assuntos navais e houvessem compreendido o que viam, a Inglaterra teria conhecido o ataque alemão dois dias antes; e, provavelmente, o curso do ataque nazi à Noruega viria a ser diverso do que foi.
Finalmente, só quando as tropas britânicas começaram a evacuar a ilha de Creta os aviões da R. A. F. apareceram. Mas a maior parte dos pilotos não sabia identificar os navios ingleses que deveriam escoltar até Alexandria. Daí resultaram muitas perdas, que se repetiram quando um grupo de navios carregados com tropas evacuadas devia juntar-se à sua escolta da R. A. F. ao largo de Creta. À partida do comboio, um destroyer inglês foi torpedeado. Houve que transferir para outros barcos os soldados que ele transportava.
Todo o comboio se atrasou.
A escolta da. H. A. F. chegou à hora marcada ao ponto previsto para o encontrar. Mas, como os navios não estavam lá, não cuidou de buscá-los e regressou ao Egipto. Furiosamente, a Marinha tentou fazer voltar a escolta aérea, mas em vão. Os navios, completamente expostos, foram bombardeados durante dois terços da viagem para Alexandria. Horas de puro inferno! O ressentimento entre as tropas evacuadas era tão forte que o pessoal da U. A. F. foi proibido de andar nas ruas de Alexandria quando os soldados desembarcaram.
Quando o barco inglês Ark Royal perseguia o Bismarck, numa das grandes batalhas navais da guerra, levava a bordo apenas três pilotos aviadores com alguma experiência de operações no mar. Foram mandados em patrulha, por não haver outros disponíveis, três aviadores britânicos que nunca sequer haviam descolado ou descido num porta-aviões. A sua inexperiência deu os seguintes resultados, duplamente curiosos: detectaram um navio. Mergulharam através das nuvens e torpedearam-no. Simplesmente, em vez do alemão Bismarck, era u cruzador britânico Sheffield. Por felicidade, graças à sua insuficiência profissional, não lhe acertaram...
São numerosíssimos os casos em que, por os pilotos terrestres não conhecerem a estrutura dos navios e a forma de combate, os bombardeamentos eram dirigidos erradamente contra navios das nações a que pertenciam as forças aéreas que os atacavam.
A quem me acusar de não ser técnico de aviação responderei que já fui bombardeado erradamente. Fui correspondente de guerra, fui crítico militar e, repito, sou técnico em receber bombardeamentos, quer lógicos, da aviação adversária, quer irritantes, da aviação amiga. São estes que pretendo evitar.
É em nome da técnica, da melhor cooperação, da melhor defesa das marinhas mercante e pesqueira, da maior eficiência militar e do bem comum, que estou intervindo neste assunto. Vejo melhor a solução exactamente por não ser técnico aéreo.
Não me interessaria, salvo sob o ponto de vista político - e neste aspecto interessar-me-ia muitíssimo -, que se desgostasse a Marinha, ou se desgostasse o Exército, pela amputação de elementos cooperantes, se o sacrifício fosse útil à defesa nacional e se o serviço ficasse a ser efectuado mais eficientemente. Mas não há necessidade de desgostar nem a Marinha nem o Exército. Falo em Exército, em aditamento à expressiva declaração de voto do Digno Procurador Sr. Dr. Afonso Rodrigues Queiró, porque não deve citar-se apenas o desgosto da Marinha.
Terminando:
8e decidirmos como se preceitua na (proposta da Comissão de Defesa Nacional, ou, principalmente, se adoptarmos a proposta do Governo, dentro em pouco tempo e experiência demonstrará que resolvemos mal o problema, não sómente sob o ponto de vista político, mas também sob o aspecto técnico. Há que deixar a aviação naval à Marinha, que não pode ser amputada de uma força que ela entende, e anuito bem, que lhe é indispensável, mão para comodidade própria, mas para assegurar melhor a defesa do País. Não se trata de, por altas razões de Estado, sacrificar à Pátria, e mandar executar, um amante querido, afecto de mão esquerda. Defende-se a vida duma filha legítima, que deve continuar no lar que legitimamente lhe pertence.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Botelho Moniz! Quero registar a atitude de V. Ex.ª obtemperando prontamente a solicitação que lhe dirigi para que se cingisse quanto possível à matéria da especialidade em discussão. Embora fosse esse o dever de V. Ex.ª, a forma como o cumpriu é de registar e agradecer.
Eu não o quis interromper quando V. Ex.ª prestava eloquente e justa homenagem aos oficiais da Marinha e da aviação; aguardei que V. Ex.ª tivesse proferido essas palavras de homenagem, que caíram muito bem no ânimo desta Assembleia (interrupções gerais de muito bem, muito bem!) onde sempre encontram um eco de carinho e simpatia todas as homenagens prestadas às nossas forças armadas, cuja coesão moral e cujo prestígio a Assembleia deve ter, e tem, a peito, acima de tudo.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Fi-lo em seguida; e registei com prazer que nem a compreensível veemência era que decorria o discurso de V. Ex.ª impediu um imediato esforço para atender a minha solicitação. Registo, por isso, a atitude de V. Ex.ª e agradeço-a.
O Sr. Lopes Alves: - Sr. Presidente: entendo que a proposta do Sr. Deputado Botelho Moniz melhora consideravelmente os textos anteriores, sob o meu ponto de vista, e que satisfaz inteiramente.
Na Comissão de Defesa Nacional tomaram como base a proposta do Governo. Colaborei na redacção da Comissão de Defesa Nacional e não vejo motivo para tomar como base a redacção do parecer da Câmara Corporativa em vez da proposta do Governo.
Mudo a posição que tomei se a redacção do Sr. Deputado Botelho Moniz pudor ser incorporada na redacção da proposta do Governo; se assim não puder ser, prefiro então a redacção do parecer da Câmara Corporativa, intercalando-se nesta parte a do Sr. Deputado Botelho Moniz.