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20 DE MARÇO DE 1952 567

sua eficiência em tempo de guerra. Por isso pergunto se a proposta híbrida da Comissão de Defesa Nacional é suficiente para resolver o problema da aviação de cooperação com a Armada.
Segundo essa proposta, tal aviação será emprestada à Armada durante a paz pelo Subsecretariado de Estado da Aeronáutica apenas pura efeito de instrução operacional. Se ela lhe for emprestada tarde e a más horas ou em número insuficiente, ou constituída por pilotos insusceptíveis de aprender as coisas básicas da cooperação entre aviação e navios, como poderá realizar-se na Marinha o milagre de tornar eficientes estas forças, que, repito, podem até não existir?
Por meio da citação de alguns exemplos e de opiniões que não são minhas, vejamos o que aconteceu noutros países:

O conjunto de navios de superfície, submarinos e aviões constitui équipe cujas possibilidades são maiores do que a soma das possibilidades de cada uma destas armas operando isoladamente. «Mas, dadas as condições em que tal equipe tem de operar, as acções aéreas sobre o mai1 devem ser preparadas, dirigidas e conduzidas por oficiais da Marinha aviadores...

Notem VV. Exas: primeira condição, a de oficiais; segunda, a de pertencerem à Marinha; a terceira, a de aviadores, é óbvia.
Sabem VV. Ex.ªs a quem pertence esta opinião? A um senhor sem importância. Ao almirante King, comandante em chefe da esquadra dos Estados Unidos.

O Sr. Mário de Figueiredo: - A proposta da Comissão de Defesa Nacional satisfaz a essas condições, porque nela «e diz que os aviadores podem ser oficiais da Marinha e que ficam à disposição do Ministério da Marinha ...

O Orador: - Dizer que podem ser oficiais da Marinha, não determina expressamente que o sejam. Mas o Ministério da Marinha não teria sobre eles poderes administrativos nem poderes de comando em tempo de paz e V. Ex.ª sabe o que isso representa.
V. Ex.ª tem uma quinta ...

O Sr. Mário de Figueiredo: - A desgraça é ser administrada por mim ...

O Orador: - Imagine V. Ex.ª quanto pior seria se fosse administrada por outra pessoa!
O que o Ministério da Marinha reclama é simplesmente que a aviação naval esteja sempre à sua disposição, administrativa e tàcticamente.
Agora vamos ouvir outra opinião relativa a eficiência:

Durante a guerra a marinha italiana foi severamente prejudicada por muitos factores sobre os quais tinha pouco contrôle, principalmente pela insuficiência e ineficaz cooperação aérea. À Marinha nunca foi permitido ter aviação própria ou porta-aviões.
As forças aéreas alemãs e italianas não estavam preparadas para actuar sobre o mar. Tinham muito poucos caças de grande raio de acção e não possuíam aviões para operações nocturnas, pelo que o reconhecimento aéreo era muito deficiente... Portanto, a marinha italiana podia comparar-se a um jogador de boxe, míope durante o dia (falta de reconhecimento aéreo), completamente cego de noite (falta de radar) e paralítico de um braço (por falta de apoio aéreo) ...

Para confirmar esta opinião, um exemplo:

... O segundo comboio inglês para Malta (em Janeiro de 1941) não foi atacado por forças italianas porque um mau reconhecimento aéreo (da aviação terrestre) o deixou passar despercebido pelo canal da Sicília.

Pelo canal da Sicília! Por esse larguíssimo canal da Sicília!
Estas afirmações pertencem ao capitão-de-fragata M. A. Bragadin, em «Mediterranean Convoys in World War II», in U. S. Naval Institute Proceedings, Fevereiro de 1950.
Escutemos ainda outra opinião de um outro senhor desconhecido:
Não pode hoje ser negado que homens perderam a vida porque o Governo Inglês não equipou a Marinha com aviação naval, que as pessoas melhor qualificadas para julgar o assunto insistiam que ela devia ter...

Estas declarações foram feitas pelo almirante Roger Keys, o homem de Zeebrudge. Mas ainda há mais e melhor. Ouçamos:

Os Ingleses, depois de uma série trágica, de erros, restituíram a aviação de cooperação naval a Marinha, tentando alcançar o nosso grau de eficiência. Então, porque havemos nós agora de ignorar as amargas lições aprendidas pelos Ingleses e deliberadamente, sob a máscara do progresso, colocarmo-nos na situação que eles tiveram de abandonar?

Disse isto o contra-almirante Harry E. Yarnell, da marinha de guerra dos Estados Unidos, sob o título «Onde falhou a R. A. F.», quando se discutiu no seu país se a aviação naval devia ou não continuar na Marinha. Felizmente para a América do Norte, prevaleceu a opinião da Armada.
Escutemos agora um francês:

Durante a expedição à Noruega, em nenhum momento a aviação deu apoio táctico às forças navais alemãs, nem no mar nem nos dois combates navais de Narvick, de que resultaram a destruição total dos navios do corpo expedicionário alemão.

A destruição total dos navios do corpo expedicionário alemão! Somente isto!
Eis o que ganhou o país de Goering, do homem que fez da aviação um corpo único. Que todos os navios alemães desta expedição fossem afundados pelos Ingleses ...
Outra asserção do mesmo autor:

No relatório oficial sobre as operações do grupo Bismarck realçou-se que, desde o início, o ponto delicado era a passagem do estreito da Dinamarca, e isto por falta de apoio aeronaval eficaz.

Ambas estas alegações do capitão-de-mar-e-guerra Lepotier encontram-se na Revue Maritime de Agosto de 1949, sob o título «L'Ere Aéronavale».

O Sr. Presidente: - Lembro ao Sr. Deputado Botelho Moniz que está a 'atingir o período regimental para uso da palavra.
Mas V. Ex.ª tem direito a usar da palavra mais uma vez.

O Orador: - Vou terminar. Só usarei novamente da palavra se V. Ex.ª mo permitir e for necessário.