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17 DE ABRIL DE 1952 707

com facilidade ao sabor dos gostos e das políticas. Nesse bailado não desejo, porém, figurar como elemento destacado.
Esta a resposta, talvez pouco precisa, à pergunta precisa posta sobre o valor da, contribuição que me proponho dar a este debate. Mas, se é imprecisa, é exactamente porque julgo nada mais poder ou dever adiantar neste momento.
Procuremos agora definir com mais rigor o caso português.
É, assim, será homogéneo ou heterogéneo o ambiente económico no nosso espaço de labuta no velho continente?
Isto é, poderá considerar-se ou não, quanto à. uniformidade, semelhante ao dos países da Europa ocidental e setentrional, países todos eles localizados na zona climática das depressões subpolares?
Nestes últimos territórios a queda anual de chuvas é, por exemplo nos Países Baixos, de 700 a 800 milímetros, distribuída, com certa regularidade durante as diferentes estações. A Dinamarca., um pouco mais ao norte, apresenta, valores de queda de chuvas da ordem dos 600 milímetros em todo o seu território.
Como se apresenta então, quanto a este aspecto, o nosso território? Podemos destacar na realidade três zonas climáticas perfeitamente diferenciadas no território continental: digamos, uma influenciada pelo Mediterrâneo; outra condicionada por acção predominantemente ibérica; finalmente, II III pequeno espaço onde se reflecte de uma forma marcada a acção do bafo atlântico. São estas zonas as que o notável homem de ciência jesuíta Barros Gomes designava, pelos reinos dos carvalhos de folha permanente, sobreiro e azinheira, a do carvalho negra 1 e a do carvalho roble. Todo o resto, e é bem pouco, são zonas de transição, com feição própria, melhor ou pior definidas. É o caso da, Estremadura, por exemplo, onde domina o carvalho lusitânico, intermediário, quanto às suas características, entre os carvalhos de folha caduca e de folha persistente.
Estas quatro zonas referidas são bem diferenciadas pela sua pluviometria, que vai desde o tipo sub-húmido, no Noroeste, com mais de 1:000 milímetros de chuva, a. um ambiente de aridez do Sul, influenciado pelos anticiclones subtropicais, zona com um céu maravilhoso, grande cartaz de turismo, é certo, mas responsável pelo extremo aleatório das culturas cerealíferas de interesse económico. Para o interior do País o relevo próprio e a vizinha meseta alteram o caminhar das aragens maneiras, determinando assim zonas variadas de marcados contrastes estacionais e pequenos encastramentos climáticos deslocados em latitude o caso típico sui generis da região duriense.
À diferenciação climática das várias regiões do País há que acrescentar a apreciável variabilidade das condições climáticas de ano para ano. É assim interessante apreciar, em relação a um posto meteorológico o da Tapada da Ajuda, por exemplo -, as quedas pluviométricas no decorrer de um período longo de tempo - vinte e nove anos (1915 a 1943). A pluviosidade anual oscilou nesse período entre 426 milímetros (1915) e 898 milímetros (i!9ilõ), anos a que corresponderam das maiores e das menores colheitas de trigo. ï)e facto, em Portugal a fome entra a nado, como se usa dizer nos nossos campos, e mais uma vez se verifica a exactidão do adágio popular. «Em Janeiro se subires ao outeiro e vires verdejar põe-te a chorar, mas se vires terregar põe-te a cantar».
Como consequência deste condicionalismo ambiental, surgem, como é natural, as diferenciações demográficas, a cultural e a da propriedade rústica,
Assim, Sr. Presidente, podemos distinguir, quanto à densidade populacional, o Noroeste sub-húmido, com uma densidade populacional de 192,5 habitantes por quilómetro quadrado, abrangendo cerca de 1/6 do território e compreendendo quase 1/3 da população. O Sul árido, com uma densidade pouco superior a 40 habitantes por quilómetro quadrado, compreendendo cerca de 1/25 do País e abrangendo apenas pouco mais de 1/5 da população. O Norte o Centro continentais, respectivamente com os valores de 50, 1/1 e 1/6,5 para as densidades populacional e área e população relacionadas com o total do País, e finalmente a zona de transição estremenha, onde se situa a capital do País, com uma densidade média de cerca de 100 habitantes por quilómetro quadrado e com valores para a área e população relativas, respectivamente, de 1/3,5 e 1/3.
Agora, finalmente, a diferenciação cultural e da distribuição da propriedade rústica quanto à sua extensão. Depois do reinado de D. João II, quando foi introduzido em Portugal o milho mais, que substituiu, no Norte, os tradicionais trigo e centeio, os três principais cereais panificáveis acantonaram-se nas quatro zonas mencionadas pela seguinte forma, bem marcada: no Noroeste, o milho, cultivado em propriedades tendendo para o minifúndio; no Sul, o trigo, em territórios de exploração latifundiária; no interior continental, nos planaltos e melhores terras o trigo, e o rústico centeio no abrupto e no mais pobre; nas zonas de transição distribuem-se de forma variada os três cereais. Isto, é claro, numa síntese muito genérica.
Se considerarmos também os valores que exprimem a produção de cereais por unidade de superfície, melhor ainda se marcam as fronteiras das parcelas agrárias do nosso território. E, assim, vejamos:

Produção de trigo:

Kg/ha
Produção média relativa ao ano de 1950 ....... 845
Região agrícola de Braga ..................... 1:515
Região, agrícola do Porto .................... 1:305
Região agriculta de Aveiro, Coimbra e Leiria .. 1:115

números estes que enfileiram ao lado das boas produções unitárias da Europa ocidental e setentrional.
Pelo contrário, nas:

Kg/há

Região agrícola de Setúbal ........ 720
Região agrícola de Beja ......... 858
Região agrícola de Tavira ..... 423

médias muito baixas, que, contudo, são do nível das da região mediterrânica.
No interior continental verifica-se, ma região agrícola de Mirandela, 1:093 kg/ha; na da Guarda, 984 kg/ha, e mais ao sul, na de Castelo Branco, 415 kg/ha. É ainda curioso observar a grande variabilidade da produção unitária dentro de cada zona, consequência da fertilidade de certos solos, e da acção de microclimas ou climas locais. Assim, nos concelhos de:

Kg/ha
Aljustrel ............... 1:065
Beja .................... 1:007
Cuba .................... 1:025

vadores que correspondem a uma área de terras muito férteis - os célebres barros de Beja.
Pelo contrário, os concelhos de:

Kg/ha

Castro Verde .............. 620
Mértola ................ 552
Almodôvar .............. 485
Alportel ............... 330