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712 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 151

real destinam-se à alimentação de gado suíno e bovino e constituem também, em parte, preciosa matéria-prima de várias indústrias de feculentos. Com as altas produções que os milhos híbridos serôdios são susceptíveis de dar nos vales do Tejo, do Sado e do Guadiana e nos restantes regadios do Sul, é possível prever-se, dentro em breve, a existência de uma massa alimentar «capaz de nos resolver, em condições de boa economia, o problema n.º 2 da alimentação da grei - o problema da carne.
Não é exagerar admitir-se que uma produção de 5:000 a 6:000 quilogramas por hectare será fácil de obter nos regadios do Sul. Em 1950, dos 493:837 hectares de milho semeado, mais de 50:000 foram-no em mau sequeiro, sem quaisquer condições de êxito. Bastarão 5:000 hectares de regadio para compensar essa diminuição da área do milho, que será de futuro utilizada em muito melhores condições económicas pelo trigo.
Mus, mesmo no sequeiro alentejano se encontrarão condições para saldar, em grande parte, o deficit das carnes. Assim, nos 600:000 hectares de pliocénico que se estendem do estuário do Tejo até Venda Novas e Algezur, situados, digamos, nos arredores do principal centro consumidor do País, a experiência em larga escala realizada em Pegões demonstrou, num período de dez anos, que com um afolhamento medianamente rico, incluindo milho, cereais praganosos de sequeiro, serradela, tremocilha, ferrejos estrumados e pastagem melhorada, compreendendo siderações e ensilagem económica, se multiplicou por dez o número de cabeças de gado ovino, com melhoria acentuada da qualidade da carne, da produção do leite e da lã.
Noutro extremo do Alentejo, para as bandas de Moura, entre muitos outros exemplos, tem-se verificado também o mesmo sucesso, apoiada a exploração da terra em moldes semelhantes, com lugar destacado para a produção forraginosa. Vemos assim transformado o aleatório de uma cultura de cereais em ternas impróprias uma indústria regular de produção de carne, produto final de uma agricultura arvense progressiva. Poderá então sonhar-se desenvolver, com aspecto industrial dilatado, o binário bolota-milho na criação do porco nas planuras alentejanas. Assim, logo que esteja concluído o volante matadouro-frigorífico da capital, poderá então quebrar-se definitivamente o círculo vicioso da pobreza agrária do Sul e deixará de se criar uma máquina animal para viver em miséria fisiológica, seleccionando, na pastagem natural, as más ervas, para se fazer verdadeira zootecnia, a partir de pastagens melhoradas e forragens abundantes, a utilizar por máquinas de elevado rendimento.
E não se pense que o que for necessário para completar o arraçoamento, especialmente proteínas animais, gorduras e produtos vitaminados, o não teremos em condições de boa economia pelos nossos próprios meios. Lembremo-nos da extensão e riqueza piscícola da nossa costa e do valimento e progresso da nossa frota de pesca, bem como do muito que ainda se desperdiça; lembremo-nos dos quantitativos disponíveis de bagaços de oleaginosas continentais e ultramarinas e do nosso óleo de fígado de bacalhau, estimulante precioso da criação pecuária.
Tudo isto, como vemos, não é um sonho, mas sim confortante realidade de um futuro próximo, fácil de antever.
Quando tudo isto suceder no campo arvense e da pecuária, a floresta de eucalipto, especialmente das espécies E, rostrata e E. viminalis, com o sub-bosque de acácias taninosas, ou matas estremes das espécies Acácia decurrens e A. mollissima, invadirão as manchas de terras pobres ou excessivamente declivosas das serranias da zona da aridez, produzindo, passado período curto
de tempo, grandes massas de combustível, cascas taninosas, óleos essenciais, e acima de tudo, pelo seu excepcional valor, matéria celulósica, que permitirá resolver o problema fundamental do papel de imprensa, adoptando as técnicas já hoje usadas pela indústria australiana. Constituir-se-á, ao mesmo tempo, ao sul do Tejo unia reserva estratégica, que permitirá manter a indústria ferroviária em períodos de crise de combustível. E lembremo-nos de que só os caminhos de ferro consumirão anualmente cerca de 1.300:000 toneladas.
E continuemos a dizer, e, como vemos, não a sonhar utopias. Os pomares, que foram vergel da Europa desde o século XVI ao século XIX, passarão novamente a alimentar uma preciosa fonte de exportação bem adaptada à ecologia de algumas regiões do território nacional. Faltava-nos hoje apenas para o sucesso desta iniciativa o conveniente aproveitamento das frutas de segunda e de terceira escolha em conservas, compotas e sumos vitaminados. A resolução do problema da carestia do açúcar industrial e do dos recipientes de vidro permitirá o V renascimento da nossa arboricultura, já hoje em franco progresso cultural.
E o que vejo mais? Vejo que, com extensificação e intensificação da produção forraginosa se fomentará, especialmente no Noroeste e nos regadios do Sul, a produção de leite, resolvendo-se por esta forma o importante problema do melhor sustento da infância rural e das cidades, ainda hoje ceifada em número aterrador. Conjugado este aspecto com o da difusão do óleo de fígado de bacalhau, oriundo do labor dos nossos valentes pescadores das paragens polares, teremos conseguido de vez liquidar uma das mais tristes maleitas nacionais. E não devemos esquecer, para que não se considere exagero o que fica dito, que a Grã-Bretanha fez durante a última guerra a experiência de quanto vale uma campanha de divulgação do consumo de óleos vitaminados na saúde da população infantil. Ficou a atestar esse valimento a robustez excepcional da geração infantil que suportou os horrores da última guerra mundial: mais vigorosa, conforme me foi observado por um responsável do Ministério da Saúde, que a geração que a antecedeu.
Não quero, Sr. Presidente, continuar a sonhar alto, digo, a antever realidades que o são já no espírito daqueles que sonharam desde sempre com futuro melhor para a nossa gente. E depois esse génio que tudo domina, pelo esplendor da sua inteligência, habituou-nos a estudar na dúvida, é um facto, mas a realizar na fé, e por isso mesmo a sonhar.
O que falta, pois, para transformar desejos em consoladoras realidades? Apenas continuar a política da verdade e dar a palavra de ordem a duas, a três centenas de técnicos das nossas, escolas médias e superiores, para virem até nós receber o facho, ingressando, como soldados, nesta campanha, que é a verdadeira campanha da paz.
Os primeiros combates foram já travados e ganhos neste solo bendito. Que o digam esses, valentes, e patrióticos lavradores que tão bem souberam responder à chamada nessa doira batalha quando a voz de comando ecoou por todo o País, determinando que se produzisse o necessário e se poupaste, e quando a patriótica campanha de O Século, já anos antes, tinha, chamado à liça os denodados desbravadores da charneca do território da aridez e que Linhares, de Lima transformou inteligentemente nu grande campanha do trigo. Que o digam todos se não foi esse o momento em que, com a ajuda de Deus, se deu a viragem do pessimismo, que tudo entorpecia, para um saudável optimismo realizador. Nessas lutas gloriosas ficaram, é um facto, muitos caídos no campo da honra. Eles serão, porém, nos nossos pensamentos, o exemplo a continuar,