22 DE ABRIL DE 1952 809
pensavel para a passagem dos certificados sanitários oficiais asados universalmente.
Entre o perigo de infectar o estábulo novo da Venda Nova com gado escolhido por dois veterinários portugueses e acompanhado dos certificados sanitários oficiais coisa que se resolveria, depois, com uma desinfecção cuidadosa e o perigo de infectar aquele gado, que tinha custado ao Estado mais de 2:000 contos, metendo-o num local altamente conspurcado, verdadeira zona suja, e que o então chefe da Repartição de Fomento da Direcção-Geral dos Serviços Pecuários (em 1936) considerava «foco de muitas epizootias», não se esteve com meias medidas: optou-se pelo segundo.
A tinha de que vieram a sofrer dá conta da maneira como foi feita a desinfecção ... E se este parasita lhe resistiu, com muito mais razão resistiria o asterococus mycoides, ali possivelmente existente, pois o Mercado Geral recebia gado dos Açores, que a Direcção-Geral considerava zona de peripneumonia.
Em 22 de Abril, o intendente de Pecuária de Lisboa comunicou a Junta que quatro daqueles animais ficariam retidos no Mercado Geral, porque as suas provas de aglutinação para a brucelose tinham sido duvidosas num deles e positivas em três; quanto aos outros, a Junta poderia dispor deles.
Em 20 de Abril, foi um deles transferido para o hospital veterinário, por acidente.
Em 30 de Abril, começaram os outros a ser retirados e, em 7 de Maio, todo o grupo se encontrava na Venda Nova no tal estábulo novo da Estação de Fomento. O gado teve, depois, o seguinte destino: um novilho para a Junta Autónoma do Distrito da Horta, vinte e três para a Estação de Lacticínios de Paços de Ferreira e sete para a Companhia dos Diamantes de Angola; os restantes permaneceram na Venda Nova.
Em 12 de Outubro desse ano, o intendente de Pecuária de Lisboa impõe sequestro a todo o gado da Venda Nova, com o fundamento da existência de tinha e duma outra doença contagiosa, sequestro que, aliás, não é legal.
Em 29 de Outubro, o intendente de Pecuária do Porto faz o mesmo ao gado de Paços de Ferreira, com o fundamento mim diagnóstico clinico de peripneumonia, feito pelo veterinário de Paredes, depois de receber da Direcção-Geral dos Serviços Pecuários e assinado por quem substituía o director-geral o oficio confidencial n.º 1:845-8, de 28 de Outubro de 1948.
Somente um mês depois e por uma comunicação da Junta Nacional dos Produtos Pecuários o Governo teve conhecimento destes sequestros, pois o director-geral dos Serviços Pecuários não lhos comunicara, como é seu dever (Regulamento Geral de Saúde Pecuária, artigos 14.º, 62.º e 82.º).
Esta foi à razão que levou o Governo ao despacho de 7 de Dezembro de 1948» publicado no Diário do Governo n.º 303, 2.a série, de 31 dó mesmo mês e ano; que nomeou o Prof. Dr. Monteiro da Costa para realizar «o inquérito sobre as responsabilidades que possam caber aos organismos que intervieram na compra e instalação dum grupo de reprodutores selectos dê gado bovino leiteiro importado da Holanda, que se apresenta atacado de doença infecciosa», e a definir os objectivos a atingir em novo despacho de 30 de Dezembro de 1948.
Quem é o inquiridor escolhido?
O que sei dá sua vida, do seu curriculum, da probidade científica de todos os seus trabalhos do interesse e dedicação que sempre pôs nos assuntos da bacteriologia, da forma como executou todas as missões de que foi encarregado, da meticulosidade com que se entrega à investigação, da forma como tem trabalhado no Instituto Câmara Pestana, afigura-se-me quê o Governo, tendo de escolher uma pessoa estranha à Junta Nacional dos Produtos Pecuários, à Direcção-Geral dos Serviços Pecuários e à. Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas (uma vez que a comissão que adquiriu O gado tinha um membro de cada um destes departamentos), dificilmente encontraria quem melhor se desempenhasse dessa delicada missão. Tem competência técnica para orientar trabalhos desta delicadeza e tem atrás de si um passado que responde amplamente pela honestidade, imparcialidade, meticulosidade e probidade cientificas indispensáveis a trabalhos desta natureza.
Efectivamente, do Diário do Governo que publica o seu curriculum Vitae e o relatório justificativo da proposta da sua nomeação, por convite, para o lugar de professor catedrático do 8.º grupo de cadeiras, apresentada no conselho da Escola Superior de Medicina Veterinária, podemos respigar o seguinte .
Dos trabalhos de investigação experimental que realizou no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, embora todos tivessem larga repercussão, por serem citados em revistas ou livros estrangeiros da especialidade, aquele que tem o titulo «Vaccination anti-rabique du chien-I) Pouvoir rabicide du sérum après Tinjection de difterents types de vaccin» merece aqui menção especial, porquanto, com a técnica usada nessas experiências, ligeiramente modificada, o professor Américo Braga, do Brasil, instituiu um método de aferição de vacinas anti-rábicas, a que deu o nome de «método Monteiro da Costa», ao qual dá a preferência entre quatro métodos de diversos investigadores, como consta do tomo IV do seu tratado Soros, Vacinas, Alêryenos e Imunigenos, publicado em 1943.
Pelo que respeita à sua carreira civil diz o douto Conselho:
A) Ao serviço do Estado. - Preparador do º grupo de cadeiras da Escola Superior de Medicina Veterinária, para que foi nomeado, precedendo concurso de provas públicas, por decreto de 19 de Abril de 1913 e de que foi exonerado, a seu pedido, por decreto de 9 de Abril de 1914.
Encarregado do estudo e combate das epizootias em Angola, desde Maio de 1914 a Abril de 1916, por contrato com o Ministério das Colónias.
Assistente do 8.º grupo de cadeiras da Escola Superior de Medicina Veterinária, para que foi nomeado por decreto de 9 de Fevereiro de 1920, precedendo concurso de provas públicas, cargo de que tomou posse em 2 de Março de 1920.
Encarregado do estudo etnológico e patológico dos gados da Guiné e de propor as providências a adoptar para o seu fomento por contrato celebrado com é Ministério das Colónias em 1922.
Incumbido pelo professor catedrático de Zootecnia, desde 1927, da regência teórica da parte colonial da pecuária nacional.
Professor auxiliar da Escola Superior de Medicina Veterinária, nomeado pelo Decreto n.º 20:040, de 14 de Fevereiro de 1931.
Subchefe de serviço do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, nomeado, precedendo concurso público, por portaria de 26 de Junho de 1934.
Chefe de serviço do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, nomeado por portaria de 20 de Dezembro de 1934 e por promoção, nos termos da lei.
Bolseiro do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana em 1935, para completar a sua especialização, seguindo os trabalhos de preparação de soros e vacinas no Instituto Pasteur de Paris e visitando o Instituto Pasteur de Bruxelas e o Instituto Llorente de Madrid.