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812 DIARIO DAS SESSÕES N.º 107

Fazendo parto dos documentos que mo foram entregues, vem um relatório do director do Laboratório Central de Patologia Veterinária, Dr. João Manso Ribeiro, em que dá conta das experiências realizadas por ordem do Dr. Curasson tem a data de 21 de Novembro.

O resultado destas experiências não vem referido no relatório do Dr. Curasson, que tem a data de 6 de Outubro de 1950, pois que, iniciadas em 25 de Setembro, só se concluíram depois da primeira semana de Novembro.

Quer dizer, o Dr. Curasson estabeleceu um plano de trabalho; mandou comprar vitelos para inoculação e, quinze dias depois da sua chegada, faz o seu relatório e parte para Paris, sem querer saber do que tinha mandado, fazer.
De facto, chegado a 20 de Setembro, logo em 2 de Outubro desejara ao Prof. Monteiro da Costa que nada mais tinha a fazer em Portugal do que elaborar o seu relatório!

Lendo este relatório, verificamos que o Dr. Curasson se limitou a um pequeno bosquejo histórico do que se havia passado com o transporte e a instalação do gado e ordenou algumas considerações, que se podem resumir
desta maneira:

a) Pelo que respeita à clínica, diz que os animais retidos no. Mercado Geral não tiveram doença que fizesse pensar em peripneumonia; que os de Paços de Ferreira tiveram uma doença pulmonar benigna, cujo diagnóstico não é possível pôr de maneira segura, e arrisca três hipóteses: bronquite infecciosa, salmonelose e pneumonia séptica; nos da Venda Nova admite que fosse a bronquite infecciosa;
b) Pelo que respeita à anatomia patológica, realizou as quatro autópsias combinadas, mas limitou-se a exames macroscópicos, de inspecção; quer dizer, fundamentou a sua opinião no aspecto da superfície pulmonar;

c) No que se refere à histologia patológica, limita-se a fazer extractos das opiniões emitidas pelos Profs. Gander, Sànchex Botija e Drieux e ainda pelo Dr. Petisca, em preparações que lhes foram enviadas pelo antigo director-geral dos Serviços Pecuários. Confronta-as com q- resultado das interpretações que fez nas que possuía. É preciso notar, porém, que estas opiniões nílo versaram sobro as mesmas preparações, pois foram distribuídas durante o inquérito, mas à margem dele, e foram escolhidas ao acaso, segundo declarações do. Dr. Petisca. E que observaram preparações diferentes deduz-se claramente do relatório dos Profs. Gander e Drieux, visto que o primeiro refere, e o segundo não, lesões da pleura. E não é lícito admitir que tivessem passado ao Prof. de Alfort, se as suas preparações as contivessem.
Deste modo, o confronto das opiniões destes diferentes histopatologistas tem um valor muito reduzido.
A propósito: faz pena que o Dr. Curasson, citando o relatório do Prof: Drieux, se tenha limitado a cinco linhas das conclusões das preparações da série II para dizer que se trata duma bronqueolite secundária e que as lesões são comparáveis às correntemente observadas no gado francês e que tenha omitido as conclusões do relatório do mesmo professor respeitantes às preparações da série A, em que ele afirma: «estas lesões não são idênticas às da pneumonia encontrada correntemente nos bovinos franceses. Sem serem absolutamente características, não permitem, contudo, excluir a hipótese duma peripneumonia de gravidade atenuada». Uma vez que se permitiu incluir no seu relatório referências negativas respeitantes à peripneumonia dos Açores, não devia ter deixado de referir estas.

Não atino com a intenção do Dr. Curasson ao omitir está conclusão tão importante do Prof. Drieux, uma vez que referiu e destacou a opinião do Dr. Petisca. Não louvo a sua atitude.
O Dr. Curasson conclui este capítulo afirmando que, embora não haja necrose clássica dos septos, «numerosas preparações feitas apresentam as lesões que se podem encontrar num estádio da evolução desta doença (peripneumonia), mas nunca num estado que permita pôr um diagnóstico positivo certo». Dizendo isto e negando depois a doença nas conclusões do seu relatório, podemos dizer que o Dr. Curasson se nega a si próprio no mesmo documento;

d) No capítulo da bacteriologia não traz uma palavra sobre os trabalhos que combinou fazer para a pesquisa do asterococus mycoides, provavelmente porque os não realizou. Refere-se somente ao isolamento do agente da peripneumonia conseguido no Laboratório Central de Patologia .Veterinária e no Instituto Câmara Pestana. Como, porém, as- culturas não puderam ser conservadas e isso parece que é frequente, conclui por pôr a dúvida sobre se seriam ou não de asterococux mycoides.

Junta a isto o postulado de Poppe, de 1913, para garantia de um diagnóstico positivo. Mas, infelizmente, ele próprio, partindo do pulmão de um bovino angolano com a indiscutível peripneumonia, reconhecida por ele, e de onde se isolou o asterococus mycoides, e tentando a inoculação a três vitelos, não conseguiu em nenhum deles resultado positivo. Esta falha veio provar mais uma voz, pelas mãos do próprio Dr. Curasson, que o processo que invocou não tem valor para o diagnóstico e que bem avisados andaram o inquiridor e os outros técnicos portugueses em não se servirem dele. Seria por este insucesso que não se referiram no seu relatório os trabalhos que começou e que não acabou?!

Quanto ao isolamento, quis o destino que no próprio dia da sua chegada se lhe apresentassem três pulmões de indiscutível peripneumonia, provenientes de bovinos de Angola, e que só lhe tivesse sido possível isolar o agente num deles.
Felizmente que, antes de partir, o inquiridor, que tinha tido o cuidado do obter um exemplar do seu relatório, chamou .a sua atenção para o que escreveu a p. 10,. quando afirmou que de conversas havidas com membros da segunda comissão de peritos se tinham levantado dúvidas no seu espírito quanto à autenticidade dos asterococus do Laboratório Central de Patologia Veterinária.
De facto, estes membros da segunda comissão nada tinham que ver com os trabalhos daquele Laboratório porque as suas investigações foram realizadas pelo Instituto Câmara Pestana. E digo felizmente porque, no dia imediato, surgiu a sua carta, apensa ao processo, rectificando esta passagem e em que declara que era a veterinários, e não a membros da segunda comissão, que só referia, não fosse julgar-se que punha em dúvida a autenticidade dos trabalhos do Instituto Câmara Pestana.
Ora, dizer que os não põe em dúvida é aceitá-los, mesmo não existindo as culturas. E aceitá-los, neste caso, é aceitar o próprio diagnóstico da segunda comissão de peritos, que eles vieram confirmar, pois por duas vezes e não por três, como erradamente diz o Dr. Curasson no seu relatório - ali foi isofado o asterococus, o que contraria as conclusões em que o Dr. Curasson nega a existência de peripneumonia.

Nada mais devo dizer a respeito deste relatório, pelos naturais melindres que o caso envolve, mas entendo que não devo ocultar à Câmara estas impressões, que recolhi da análise dos elementos que me foram facultados.

Depois do relatório do Dr. Curasson, o Governo ficou com os seguintes elementos para resolver a questão:
Um relatório do Dr. Curasson, que nega a existência de peripneumonia e cujo valor cientifico acabámos de anotar;
Um relatório do Prof. Gander, pronunciando-se sobre a histopatologia de preparações que lhe foram fornecidas,