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5 DE DEZEMBRO DE 1952 149

satisfação de todos os caprichos, pela realização de todas as vontades, sem a participação do esforço próprio.

Penso que também as nações como aos homens são dirigidas as palavras do Divino Mestre:

Não vos inquieteis com o que haveis de comer e de beber, nem com o que vestireis. Os pagãos é que têm cuidados com estas coisas. Olhai para o lírio do campo e para a avezinha do Céu... Procurai primeiramente o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão dadas.

E o reino de Deus poderá ser aqui, justiça - uma mais justa repartição da riqueza.

Não é de admirar que nos tempos modernos muita gente se preocupe em demasia com o vestir e de comer e que tanto uma como a outra destas coisas sejam escassas por toda a parte. Quem é que cuida de procurar em primeiro lugar o reino de Deus? Nem os melhores , nem sequer os que deveriam ser os mais diretamente interessados!

Mas haverá de facto um aumento aflitivo da população portuguesa? Vejamos os números e façamos a sua interpretação.

Segundo se lê no relatório do Plano em discussão, nos últimos dez anos do regime monárquico constitucional a taxa do aumento populacional foi de 9,9 por cento.

Nos primeiros dez anos de republica a taxa baixou para 1,2 por cento. Parece incrível, mas até as próprias fontes vida estancaram sob a influência deste regime tão estranho ao sentimento português.

Nos últimos trinta anos - diz ainda o relatório - o acréscimo acentuou-se notavelmente. Ora a média das taxas desse tridecénio dá 10,7 por cento, ou um aumento de 0,6 em relação a 1910. Simplesmente, no último decénio a taxa foi para 9 por cento, a mais baixa dos últimos cinquenta anos, exemplo 1911-1920.

Porquê dizer então que verificou um aumento acentuado? Mas se formos aprofundar o aumento referido teremos de fazer um desconto pela rubrica « Emigração », porque em 1929 emigraram 10 000 pessoas, enquanto que em 1943 este número baixou para menos de 1 milhar.

A emigração é um problema secular que ainda não encontrou solução satisfatória. A humilhação nacional causada pela incultura e analfabetismo da maioria dos emigrantes sucedeu outra humilhação devida às deserções e fugas para o estrangeiro, as quais devem dar aos países de destino a noção de que vivemos aqui num inferno, tais as condições dramáticas a que muitos se sujeitam para se poderem ver daqui para fora.

E, afinal, um povo que tem territórios tão extensos e tão poucos povoados não deveria sofrer os problemas da emigração nem se preocupar com o sobrepovoamento. Deveria antes dar graças a Deus, colectivamente, pela sua juventude perene e pelas suas faculdades procriadoras. Um excesso notável de gente nova sobre a gente idosa é um bem que poucos povos da Europa hoje em dia usufruem.

Já há cinquenta anos Anselmo de Andrade escrevia na Portugal Económico:

Ninguém pode negar as vantagens de uma população numerosa ... O território português poderá alimentar um número de habitantes duas ou três vezes maior do que o actual.

Escreveu-se no relatório que « não se deve esperar que os empreendimentos destinados a fomentar o povoamento de Angola possam resolver só por si o magno problema da colocação dos excessos demográficos metropolitanos». Este « só por si » não sabemos a que propósito vez, porque seria cairmos no extremo contrário ao atrás apontado pensar que para os problemas nacionais possa haver soluções singulares dependentes apenas dos territórios ultramarinos.

A obsessão da demografia levou até a interpretações erradas dos fenómenos económico-sociais quando se diz que « a crescente pressão demográfica colocou o País perante a necessidade de cultivar os produtos indispensáveis á alimentação», o que não é verdade, porque sempre fomos um povo essencialmente agrícola, e as palavras de Anselmo de Andrade atrás referidas foram escritas muito antes destes trinta anos de notável desenvolvimento demográfico.

Outro reparo:

Anuncia o Plano que serão gastos 121:500 contos em escolas técnicas.

Confesso que esta notícia me deixa inteiramente indiferente, depois de ter ouvido afirmar ao reitor da Universidade de Lisboa que a sua Faculdades de Direito só tem capacidades para um terço dos alunos matriculados e que a de Farmácia tem laboratórios já há umas dezenas de anos sem canalizados de água nem de esgoto. Sabe-se, ao lado disto, que a Faculdade de Letras funciona há dezenas de anos numa espécie de cave, e que a Escola Superior de Medicina Veterinária (também técnica) ainda não conseguiu uma granja experimental para estudos zootécnicos e bromatológicos. E como as preciosidades da Biblioteca Nacional e da Torre do Tombo continuam em perigo porque os edifícios onde estão guardadas não reúnem condições de segurança, parece-nos que a verba a despender melhor aplicação teria se fosse incluída numa remodelação das nossas instalações de ensino cientifico, técnico e cultural. Isto também seria fomento, e do mais reprodutivo.

Num sentido semelhante se pronuncia a Cãmara Corporativa ao escrever:

Não se vê que isto necessite de alinhar entre os capítulos do presente Plano, dado que não alinham aí outros edifícios ou obras públicas sem reprodutividade directa, mas que, com igual legitimidade, lá poderiam figurar.

Ter-se-ia compreedido melhor a inclusão desta rubrica no Plano se se tivesse encarado um campo mais vasto de ensino técnico quanto aos seus diversos ramos e quanto às suas necessidades além dos edifício.

Sobretudo o ensino agrícola, tão necessário e tão deficiente..., bem merecia a proteção generosa de um plano de fomenfo disposto a atacar de frente esse difícil e momentoso problema.

De resto, não se compreende a que título se inclui a construção de escolas comerciais num plano de fomento puramente industrial.

Outro reparo ainda:

Da leitura comparada do Plano com o parecer da Cãmara Corporativa resulta a impressão de o Plano ter sido elaborado com pouca ponderação e talvez um tanto à pressa.

Por outro lado, o relatório deste diz no capítulo da siderurgia: «A opção por qualquer dos processos, e até a escolha de uma solução mista, não se afigura fácil. Só será possível formar-se um juízo seguro sobre a via em que convém orientar a nossa siderurgia depois de um ensino em escala adequada. Não obstante isto, anuncia-se que se vai proceder à montagem imediata de uma instalação para a produção anual de 20 000 t de gusa, e destinada a preparar pessoal técnico e a permitir a instalação definitiva. Por mim não descortino em que bases científicas assenta este empreendimento,