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152 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 152

de Fomento se refere a num provável população de 9 000 000 em 1938, a correcção dos cálculos presentes naquela publicação dá os seguintes números do que seria ou será necessário, em excesso sobre a actual produção:

61 600 t de pescado fresco e salgado:
103 000 t de carne limpa:
330 000 t de leite:
8 300 t de laticínios:
13 000 t de ovos.

Penso, porém, que as necessidades serão bastante superiores a isto, porque o cálculo do consumo actual foi feito por média. Ora quem se alimenta bem há-de continuar a fazê-lo na medida em que isso lhe for possível, e são os deficientes que terão tendência para crescer, no sentido de preencher o espaço que os separa
de um mínimo essencial, pelo menos.

O que precisamos ,por tanto ,é de produzir muito mais alimentos, especialmente muito mais carne, o que equivale a dizer que precisamos de criar muito mais gado.

E como já afirmei, um aumento sensível nos efectivos pecuários é capaz de proporcionar trabalho a muita gente, no seu cuidado directo e na laboração dos subprodutos que os animais fornecem para as indústrias. Aqueles a quem parecer divisória a aplicarão de braços nas indústrias animais eu direi, a titulo de esclarecimento, que a indústria de prepararão de carnes, por exemplo sustentava, não obstante a sua desorganização, só no distrito de Portalegre 413 oficinas em 1944.

E não é segredo para ninguém que a estes problemas se dedique o facto de as indústrias dos têxteis e dos curtumes -indústrias animais, em grande parte- utilizarem, proporcionalmente, muito mais braços do que a dos carburantes. Por exemplo.

De resto, isto é apenas um parêntese que já fechou porque não me interessa agora tratar da aplicação de braços, mas das satisfação das bocas.

Para termos mais gado formoso é ter com o que sustentar e teremos nós à nossa disposição a soma de alimentos exibida para um acréscimo substancial nos efectivos pecuários;

Vale a pena fazer um inventário, mesmo sucinto, porque, com a toda certeza não faltaram surpresas.

Segundo os cálculos do ilustre agrónomo A. Ruela, e aos quais já tenho feito referência em outros estritos, só nas províncias do Nordeste de Portugal se perdem por ano l 500 000 t de alimentos aquosos, os quais não podem ser ensilados nem fenados por nessa época as condições climatéricas serem adversas a estes processos de conservação. É na Primavera, quando as terras estão carregadas de pasto e a preparação delas para a cultura do milho obriga a enterrar, para transformação em estrume, a quase totalidade das plantas desenvolvidas. Na Beira Litoral perdem-se. Por idêntico motivo. 500 000 de erva. estes dois desperdícios dariam para o sustento de 100 000 cabeças normais de gado, e o que representaria isto de acréscimo em carne, em leite, em couros e nos restantes produtos de origem animal pode dizer-se que tem tanta importância como um alto forno ou uma central eléctrica.

Se tornarmos extensivo este cálculo às outras regiões, obteremos uma noção segura das possibilidades que nos são oferecidas e que, insensatamente, nos permitimos desprezar. Mas, há mais:

Todos os anos as plantas destinadas à fenação sofrem uma quebra enorme no seu poder nutritivo; por não serem ceifadas na altura mais favorável, aguardam que o tempo se mostre propício. Por outro lado, dezenas de toneladas de feno sofrem a putrefacção no campo, causada pelas chuvas, ou sofrem, pelo menos, considerável
diminuição no seu poder nutritivo, acabando os animais por rejeitar toda essa, massa, de alimentos tornados insípidos, os quais no fim só servem para camas.

Acresce a isto que nos locais de matança de gado impropriamente designados matadouros, se perdem no esgoto cerca de 6 milhões de quilogramas de sangue por ano, o qual, dissecado e farinado, daria óptimo produto pura enriquecer os alimentos grosseiros de que em grande quantidade dispomos, mas que são insuficientemente nutritivos, por si sós, para o perfeito sustento dos animais.

E ainda os milhares de toneladas de peixe que vão para o guano, em vez de serem transformadas em farinhas, de grande riqueza proteica, e, portanto, de elevado valor nutritivo.

Por último, como se estivéssemos a nadar em abundância, ainda nos temos permitido exportar o que tanta falta nos devia fazer. Não tive possibilidades de averiguar o valor actual da nossa exportação em produtos alimentares para o gado. mas posso dizer que antes da guerra cheirámos a vender por ano para o estrangeiro 12000 t de bagaços de oleaginosas, muitos milhares de toneladas de alfarroba e alguns de sémeas.

É perece que isto chega para tomarmos consciência do muito que desperdiçamos e para nos converter de que se impõe adoptar um remédio fácil-aproveitar.

Ninguém duvidará de que isto é fomento, e do menos dispendioso.

E como faze-lo? Vejamos;

O aproveitamento dos alimentos aquosos está dependente de uma propaganda e demonstrarão intensas da ensilagem, mas pensamos, e já o escrevemos algures, que a dissecação por meio de máquinas capazes de rapidamente fazerem baixar de 73 por cento para 2 por cento o teor de humidade da erva, respeitando a sua riqueza vitamínica e permitindo a sua armazenagem, a mesmo a tarinação, é processo preferível.

Não nos consta que no nosso país tenha já sido feito qualquer estudo sobre o rendimento destas máquinas, mas sabemos que se faz delas um uso cada vez mais largo na América e nos países do Norte da Europa.

Há muitos proprietários rurais que não possuem capacidade financeira para construir silos, os quais, por baratos que fiquem, não importam em menos de 3.000$, tomando como padrão um para 10t de capacidade. E se para estes a lei dos melhoramentos rurais poderia ser preciosa ajuda, outros há que, por serem apenas rendeiros, não estão dispostos a fazer construções em propriedade alheia.

Para os pastos produzidos por todos estes a dissecção é o método de conservação ideal, pois é possível a estas maquinas deslocarem-se às propriedades de cada um em regime semelhante ao das debulhadoras.

A aquisição pelo Estado de um certo número de dissecadoras, distribuídas por cada um dos postos zootécnicos, das estações agrárias, etc., poderia muito bem constituir o primeiro acto de fomento da nossa riqueza pecuária, com um dispêndio de 3:000 a 4:000 contos, números redondos. Mas os rendimentos destas máquinas talvez permitisse pagá-las logo no primeiro ano, pois a sua potência de trabalho está calculada em 1600 kg de erva verde por hora, ou seja, num dia normal de oito horas, a capacidade total de um silo de 12 t. E isto poderia ser o ponto de partida para novas aquisições por pariu dos grémios da lavoura, e mesmo por lavradores, desta maneira esclarecidos, os quais assim aproveitariam grandes mascas de forragens.

E até me recordei de outras aplicações que tais máquinas poderiam ter, ao ler em jornais agrícolas que este ano o trigo se apresentou em deficientes condições de conservação devido ao excesso de humidade com que saiu das eiras.