156 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 173
os bravos portugueses a quem as necessidades da vida forçam a este rude mister.
A soma de produtos e subprodutos fornecidos pela baleia é notável e justifica o especial interesse que esta indústria merece em todo o Mundo. E a carne, de grande valor alimentar, tão tenra como a de vilela, e consumível tanto em fresco como conservada. E o sangue os tendões, a pele, o âmbar, o marfim dos dentes, os ossos, o óleo, etc., tudo utilizável em vinte pequenas indústrias diversas.
Nos Açores, porém, o primitivismo dos processos industriais permite quase só o aproveitamento do toucinho para fazer óleo, perdendo-se quase todo o resto.
Presentemente, com o fim de dar caça aos cetáceos longe das costas, das quais eles fogem, devido à perseguição que sofrem, já se constróem navios apetrechados para a caça e para todas as operações do transformação, desde os óleos às farinhas alimentares. Há pouco a Inglaterra lançou ao mar um navio de 13 000 t destinado a fim, tendo a bordo tudo o necessário para a, conservação da carne, a industrialização de gorduras e de [...] e conduzindo uma missão cientifica para o estudo do aproveitamento da carne de baleia na alimentação humana, sua selecção e conservação. Antes deste já ela havia, enviado para os mares antárcticos outro navio, que, em alguns meses, caçou 1 600 baleias.
Estas produziram 15 000 t de óleo, que a bordo foi convertido em margarina, precioso alimento para o exército inglês em guerra.
Infelizmente do nosso lado faltam-nos até os estudos biológicos indicativos das regras que devem presidir a este género de caça, para que não se torne exaustiva e o desaparecimento da espécie seja motivo certo de falência da indústria.
Finalmente, a colheita de algas do gênero laminária, no Outono e nos períodos de defeso de certas actividades piscatórias, seria mais uma indústria ligada aos portos de pesca, depois de se fazer um estudo sério sobre a sua localização ao longo da nossa costa e do condicionalismo da sua apanha. Além de óptimo alimento para o gado, de valor superior ao da aveia, estas plantas marinhas são actualmente muito usados em indústrias de laboratório, de pastelaria, têxteis, plásticas, etc.
De muitos dos subprodutos citados se tem apossado a técnica moderna para a indústria de produção de farinhas alimentares ou rações compostas. Os bagaços, de oleaginosas, a alfarroba, a bolota, hoje consumida em bruto, adicionados à farinha de sangue, à farinha de peixe e aos alimentos grosseiros, também farinados, dariam milhares de toneladas dessas misturas de tão elevada digestibilidade, se racionalmente feitas e honestamente preparadas.
Entre nós essa indústria pecuária, que tão próspera poderia mostrar-se, está reduzida a poucas unidades, quando na vizinha Espanha, por exemplo, existem cerca de duas centenas de estabelecimentos fabris especializados. É que, durante anos, esta actividade foi deixada entregue, sem qualquer fiscalização ou responsabilidade técnica, a toda a fraude, à livra actuação dos oportunistas sem escrúpulos, e os produtos desacreditaram-se de tal forma que só uma campanha intensa de propaganda e de demonstrações poderá reabilitar no espírito do criador de gados esses produtos do mau conceito que deles faz à custa da própria experiência e dos logros em que caiu.
Seria outra indústria a fomentar, a qual, pelo seu carácter de utilizadora e valorizadora de inúmeros resíduos, é de verdadeira utilidade económica.
Poderá objectar-se que muitos dos problemas enunciados se situam no âmbito da iniciativa privada. Mas eu responderia que também no Plano são referidos inúmeros aspectos de fomento os quais ele próprio reconheço serem da competência, normal das empresas particulares, sendo, porém, prudente prever que o listado tenha de as auxiliar. São os casos da aviação civil, das empresas hidroeléctricas, da Sacor, das empresas de navegação, das Administrações dos Portos de Lisboa e de Leixões, etc.
Por último, nada se consegue de todo este labor se os gados, duplicados ou triplicados no seu número e no seu valor, ficarem entregues a uma variação zootécnica desordenada e desamparados quanto à actuação dos microrganismos patogénicos e dos parasitas, que muito os desvalorizam e menino os aniquilam.
É necessário reforçar a assistência técnica e sanitária, as quais em pouco sobrecarregam o erário público quando os técnicos são colocados em condições de poderem desenvolver livremente as suas aptidões e a sua cultura especializada.
Fala o Plano de Fomento no reforço desta assistência técnica, tão necessária mesmo aos actuais efectivos pecuários. Isso será já o bastante para fazer renascer a esperança na alma de tantos jovens recém-formados, que há muitos anos arrastam no desemprego as suas desilusões e a esterilidade profissional a que têm sido votados.
Por outro lado, não há dúvidas de que esse reforço se impõe, mesmo no aspecto estritamente económico. Cito, para exemplo, o caso de Timor, como poderia citar tantos outros. Há nesta tão remota quanto querida província portuguesa 100 000 búfalos, 50 000 cavalos, 130 000 porcinos, 110 000 caprinos e 50 000 ovinos, efectivo este com tendência a aumentar e a atingir, dentro de três a quatro anos, os quantitativos anteriores à guerra, superiores aos actuais em cerca de 30 por cento. Pois bem, Para velar pelo melhoramento zootécnico, pela sanidade de todo este armentio e ainda, para fiscalizar a salubridade dos alimentos de origem animal de destinados à alimentação humana existe em todo o Timor português um veterinário. E isto é agora, porque há pouco tempo não havia nenhum!
Em resumo: a preocupação do arranjar trabalho para todos os portugueses deve ser das mais prementes para todos os que suportam encargos de governação, mas deve ser acompanhada de outra: a de lhes proporcionar simultaneamente alimentação suficiente e ao alcance de todas as bolsas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Da efectivação deste Plano que estamos apreciando há-de forçosamente resultar uma melhoria do nível de vida do povo português. É uma das primeiras consequências dessa melhoria será naturalmente alimentação mais substancial.
Tudo aconselha, por isso, a enveredar-se paralelamente pelo caminho do engrandecimento da nossa agricultura - fonte natural dos produtos capazes de corresponder àquele melhoramento económico.
No ramo animal - o fornecedor da maior soma de alimentos nobres e de uma série riquíssima de subprodutos que são novas fontes de trabalho para numerosas indústrias subsidiárias - este engrandecimento poderá basear-se nas seguintes medidas:
1.ª Adopção de métodos modernos de conservação para as grandes massas de alimentos para os gados, tanto os aquosos da Primavera, perdidos na sua quase totalidade, como os grosseiros, também perdidos quando as condições climatéricas se mostram adversas à fenação;
2.ª Construção e apetrechamento de matadouros industriais, onde se possa fazer um aproveitamento total dos subproduto, da matança como