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16 DE DEZEMBRO DE 1952 395

acção nesse campo poderia ser tão eficaz como o era no campo científico.
E assim se perdeu durante estes anos para o ensino e para a investigação um dos mais brilhantes e estudiosos médicos dos últimos tempos ...; que pena, que pena.
E assim se perderam os melhores mestres na Medicina e na Cirurgia, por uma razão de ordem política, com prejuízo para o ensino e até para a Situação, quando tantos outros, nos vários sectores, continuam nos seus lugares. Ainda se poderia objectar que quanto mais sobrelevante é o valor no exercício das funções mais prejudicial seria a sua acção política, mas a objecção nada vale quando ponderarmos que neles muito mais sobressai a sua personalidade científica do que a sua personalidade política, o que é regra quase geral nos bons médicos, sobretudo quando chegam à altura científica dos demitidos.
A severidade das sanções sofridas por estes estimados professores, tanto em desacordo com a nossa apregoada brandura, em desacordo também - penso eu - com os constantes apelos para uma união nacional, bem oposta ao procedimento com tantas outras situações e pessoas, fez que estas demissões se tornassem motivo das críticas que venho a apontar.
E vem a propósito a citação do nome de uma figura da oposição elevada por boa política a professor duma Faculdade - enfraquecimento no campo oposto e aquisição vantajosa no nosso, boa política quanto a esse, exemplo a apontar.
Mas se havia delito político que levasse a tão severa sanção, o País merecia que lhe fossem dadas explicações claras.
E como não aparecia a explicação, e como não aparecia nota esclarecedora, vá de medrarem os mais desconcertantes boatos, alguns de uma maldade baixa, atingindo outros professores, malsinando reputações sérias, enlameando os melhores valores universitários da nossa época, atribuindo-se-lhes maldosamente interferências indignas para atingir determinados objectivos.
Teriam sido ouvidas por espíritos mesquinhos algumas apreciações irreverentes sobre política feitas por esses professores ou por médicos da sua entourage?
Se isso é crime de pedir sanção severa, eu não sei que português estará imune. Essas s«graças», muitas vezes salpicadas de espírito irreverente e mordaz, estão na moda, entram na conversação de todos os dias e de todos os lugares, até mesmo nos mais frequentados por adeptos da Situação.
Encaremos agora essas demissões sob outro aspecto:
Esses professores teriam sido prejudicados nos seus interesses? Parece-me que não. O tempo que gastavam nos hospitais, nos laboratórios, a observar doentes, a estudar problemas, a discutir teses, dedicaram-no agora às suas clínicas particulares, imensamente mais rendosas.
E é ver os seus consultórios repletos, não lhes faltando entre as suas clientelas dedicados e fervorosos situacionistas.
Quem perdeu? O ensino - a medicina portuguesa.
E ganharam os inimigos da Situação, porque muitas vezes nos apresentam o argumento dessas demissões violentas, sem que lhes possamos responder.
Podia pensar que seria eu, por falta de argumentação, por amizade por alguns dos atingidos, que perderia possibilidades de defesa; mas não. Tantas, tantas vezes em conversa com colegas médicos, com pessoas de outras profissões e categorias tão situacionistas como eu tenho encontrado a mesmo discordância com essa? demissões.
Mesmo aqui no Parlamento, a médicos e não médicos, tenho ouvido discordâncias com essa deliberação do Governo.
Não cito nomes, excepcionando apenas o de um grande português, médico também, político experimentado, pessoa de bem, que todos nós apreciamos - o Dr. Antunes Guimarães -, que se mostrou, em várias conversas, discordante das demissões, considerando-as um erro para a Situação.
Mas se governar significa rectificar, porque não rectifica o Governo a sua deliberação?
Ao Governo da Nação, ao Sr. Presidente do Conselho, ao Sr. Ministro da Educação Nacional, desejaria que chegasse a minha intervenção na Assembleia Nacional.
Poderá parecer arrojado atrevimento apontar um serro» uma vez tão apagada; mas o que lhe falta em vibração, sonora sobra-lhe em seriedade de intenções.
Na política, como na clínica - permita-se-me o símilo -, um modesto médico rural pode fazer em certas circunstâncias, por observação, cuidadosa, um diagnóstico mais perfeito, apresentar uma terapêutica mais eficaz do que um consagrado mestre, que não acertou por mal informado.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador fui muito cumprimentado.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Peço a palavra para me referir ao antigo Presidente Sidónio Pais.

O Sr. Presidente: - Dada a importância do assunto, convido V. Ex.ª a vir à tribuna.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: passou ontem mais um aniversário da trágica morte do ~«comandante» Sidónio Pais.
Nunca, como agora, em que tão graves apreensões dominam os espíritos não perturbados pelo brilho aliciante do efémero e que sentem a possibilidade duma viragem profunda na história da humanidade, desejei possuir dotes de eloquência que permitissem mostrar a esta Assembleia de ilustres representantes do País os sentimentos da geração a que pertenço ao recordar a alta e nobre figura de Sidónio.
Desejaria poder retratar, gravar nos corações que me escutam esse símbolo inconfundível da nossa raça em toda o plenitude da sua grandeza de soldado de Portugal, como o mais esforçado cavaleiro, que foi, do Ressurgimento.

Costuma louvar-se quem já não existe. Resta saber se, pelo vosso valor, vós lhes sereis, senão equiparados, ao menos considerados num plano imediatamente inferior. Despertam emulação os merecimentos dos vivos, ao passo que a virtude que deixou de lhes fazer sombra se torna objecto dum culto universal.

Assim falou Péricles, num discurso célebre, numa cerimónia que, desde os tempos de Sólon, era costume realizar em Atenas, em honra dos cidadãos mortos na guerra.
Sidónio bem merecia um Péricles a falar dele, bem merecia que lhe fossem tributadas as maiores honras, até porque onde assim se procede se criam também os Homens mais valorosos.