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396 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 184

Pensando nele, cruzam-me a mente as palavras de Alves Mendes, quando afirma:

Sobre cada um dos seres levanta-se uma ideia, sobre o conjunto das ideias levanta-se um ideal, sobre todos os ideais levanta-se Deus.

Ninguém rumo Sidónio personificou as mais surradas ansiedades da Nação e até, não querendo identificar a segurança, do País com a sua própria, ele representa o glorioso espírito da cavalaria, do desprezo pelo perigo, tão genuína, tão tipicamente português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas eu não desejo, e não me seria fácil, projectar a figura de Sidónio e da sua obra de forma a poder emocionar uma Assembleia, como esta.
Deixem que fale o soldado na sua linguagem simples e despida de altos conceitos. Por muito feliz me darei se me sentir acompanhado no pensamento que me domina quando chamo «comandante» a Sidónio Pais.
É que tal classificação traduz para mim, soldado, o conjunto de atributos que mais podem enaltecer o homem, e não vejo que seja possível haver alguém que melhor possa assim chamar-se.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Uma geração inteira o seguiu e, mais de um quarto de século passado depois da sua morte, firmemente, teimosamente, continua a obedecer à sua voz de comando.
Já muitos têm ficado pelo caminho, os vazios da ala não estão de todo preenchidos, mas a batalha continua.
E embora o «mar tenebroso» se estenda ainda à nossa frente, cheio de mistérios e de fantasmas, embora não se aviste, por mais que a vista se alongue, o «cabo da Boa Esperança», os seus soldados não recuam e continuam a bater-se sem desfalecimento.
Já poucos restam, é certo, mas não esmorece neles a certeza da vitória, a qual, como disse Foch - tenham-no todos bem presentes -, se ganha sempre com os restos.
A lição da vida de Sidónio Pais, da sua morte e das horas de duro batalhar em que vivemos logo a seguir a 14 de Dezembro de 1918 está gravada no coração e no espírito de todos os que com ele serviram. Não a esqueceremos jamais, como também sempre dentro de nós ecoarão as suas últimas palavras:
«Salvai a Pátria!».
Como preito de homenagem à memória do homem que foi o chefe incontestado da minha geração desejo afirmar aqui hoje mais uma vez que não recuaremos, que não nos renderemos e que os restos da sua hoste - estes restos sobre que tanta obra se tem erguido e muitos, na sua estultícia, julgam ser só para queimar - continuarão a dura refrega, animados pela fé nos destinos da Pátria, impulsionados pela sua voz de comando e seguros desta certeza:
A vitória final há-de ser nossa!

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Colares Pereira: - Sr. Presidente: há poucas horas, num templo de Lisboa, cheio de luzes, morreram os acordes de uma orquestra, perderam-se as últimas notas do clangorar estridente dos clarins no levantar a Deus - e deixou de ouvir-se a derradeira (palavra latina do ritual litúrgico da encomendação.
A meio da igreja uma essa ...
Em volta dela rezava-se, e todos recordavam, alguns chorando, a hora trágica desse dia 14 de Dezembro de 1919, em que tombara ensanguentado, vilmente assassinado, o Chefe do Estado, o Presidente Sidónio Pais.
Desde a igreja até aqui, e com aquela insistência com que a memória - como num filme - nos faz às vezes, por instantes, ter tempo de recordar uma vida inteira, eu vim a lembrar-me - triste e saudoso - desses, tempos já distantes.
Depois assaltou-me a ideia de pensar se teríamos, tido culpa na sua morte e se o havíamos defendido bem. As faltas aumentam quando de longe a consciência as fita.
E assim, buscando as razões por que ele fora morto, por que havia tombado, vim afinal a recordar sempre a nobre e gentilíssima figura do Presidente ... E isto explica porque estou aqui, nesta tribuna, onde não deveria estar.

Vozes: - Não apoiado.

O Orador: - Eu era nesse tempo um primeiro-sargento graduado cadete do exército português. Era um aluno da Escola de Guerra. Hoje, tantos anos volvidos, e depois de votada a lei do amnistia, tenho a honra de voltar a ser primeiro-sargento do exército português, mas agora reformado e com 53 anos! Não, não esqueço o tempo em que eu era cadete e em que eram VV. Ex.ªs, alguns dos que me estão escutando, já oficiais de Sidónio Pais. Penso na minha geração, no meu tempo de cadete, nessa geração que só os homens da nossa idade compreendem o que ela sofreu e o que foz de meritório neste país. Nós vimos duas vezes baquear e cair, com a pequena chaina de um tiro, os dois homens que tinham querido fazer da Pátria o que nós queríamos que ela fosse: el-rei D. Carlos e Sidónio Pais.
E, só na vida duma nação esses dois tiros pusessem mancha de vergonha à pobre geração que a ambos assistiu, tinham de trazer cruciante desespero!
Esta geração nunca poderá esquecer esses tiros!
Não pode esquecer que respeitar o rei e a Igreja e ter fé nos destinos da Pátria era nesse tempo um precoce sentimento de inteligência e patriotismo, pois o rei era livremente ultrajado por aqueles que o deviam defender e a Igreja, essa era para quem, amando-a, a quisesse frequentar apenas um motivo para ver aumentada a sanha de escândalo e perseguição.
Neste ambiente vivemos os primeiros anos da nossa vida.
Quem nos ensinava e ajudava a nós, os desta geração, a combater o mal e a lançar os alicerces para a construção de uma vida melhor?
Eu julgo que foi a recordação dos nossos maiores: o pulsar atávico desse sangue tão rico através das nossas veias de moços ainda fortes!
Quando tínhamos 20 anos vimos soprar, com alegria e espanto, uma lufada de patriotismo!
Vimos surgir perante nós um Homem que trazia em si um sonho e uma fé, que era afinal a nossa esperança de dar à Pátria, envilecida e cansada dos desmandos, os dias novos que ela merecia e que valessem a pena ser vividos!
E foi assim que a mocidade do meu tempo se entregou a Sidónio Pais. E foi assim que ele contou mais com os cadetes, que estavam junto dele, do que com os velhos, a quem a política da época já corrompera.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi com os seus cadetes, com. os seus jovens amigos dessa altura que ele tentou a tarefa heróica de salvar a Pátria! Neste país, que vivia no maior