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578 DIARIO DAS SESSÕES N.º 197

rebeliões, que cia orienta, arma e comanda, a Rússía, dizemos, encontra-se sempre presente.

Nas comissões encarregadas de vigiar e fiscalizar a execução de mandatos coloniais são constantes e impertinentes as suas exigências sobre informes relativos à maneira como se exerce a administração, como são tratadas as massas trabalhadoras, como se reprime, enfim, aquilo que ela classifica de exploração capitalista.

Ela não perde nenhuma ocasião de desmoralizar, de enervar, de irritar quer os países mandatários, quer aqueles para os quais se prevê a possibilidade de amanhã trocarem a sua situação actual por outra idêntica à daqueles. Ao mesmo tempo, naquelas zonas em que as possibilidades se lho oferecem mais favoráveis, ela não deixa de, directa ou indirectamente, fomentar toda a espécie de agitação, quer sob a forma de simples movimentos colectivos, quer de revolta armada.

Agitadores russos ou recrutados, nos países mais diversos, mas especialmente naqueles em que se exerce acção tão deletéria, infiltram-se em todas as manifestações, em todas as conjuras, em todos os combates, visando umas vezes a independência desses povos, outras a sua integração mais ou menos disfarçada na União Soviética e ainda outras a simples desordem é criação de dificuldades aos países colonizadores.

O ambiente anticolonial criado por todos estes factores é tão denso, tão ingrato e tão antipático que quase todas as nações que até agora têm vindo desempenhando uma função que sempre foi considerada de grande nobreza se sentem desmoralizadas e quase envergonhadas do seu papel.

E pouco tem faltado para que elas peçam desculpa de terem arriscado vidas, dinheiro e esforços em trazerem para a civilização povos mergulhados na maior selvajaria, com as suas práticas de antropofagia, com as suas lutas diárias, com as suas hecatombes humanas, resultantes da falta de medidas sanitárias e de aproveitamento de recursos alimentares.

Parece que a obra formidável de cruzar os territórios coloniais com caminhos de ferro, estradas e carreiras aéreas, de cavar portos, de arrancar à terra alimentos ou matérias-primas para as indústrias, de apresentar ao Mundo, enfim, milhões de homens que ontem se cobriam com cascas de árvores e que hoje vestem como todos nós, parece, digo, que tudo isso os envergonha, só porque de todo esse esforço colheram por vezes nem sempre certos lucros, que na generalidade dos casos foram sol de pouca dura.

Desses países que há séculos conduzem o movimento colonizador, a sua quase totalidade não tem sabido reagir contra a campanha interesseira ou pseudofilan-trópica que foi lançada: deixaram-se desmoralizar perante ataques sem autoridade; curvaram-se, humildes, perante os acontecimentos; abdicaram, enfim, da função que devia ser o seu timbre de glória, e não terão deixado mesmo de se admirar da posição portuguesa de altivez e resistência à onda subversiva, que há-de passar.

a) Assim, à África do Sul, cujo Governo já em 1989 pusera ao seu Parlamento a questão de saber se o país devia entrar na guerra ao lado da Inglaterra ou manter-se neutral, põe-se agora, por vezes, o problema de saber se deve proclamar a república ou manter-se dentro dá comunidade britânica, eufemismo com que se procura disfarçar uma crítica situação. E se a questão não tomou ainda maior acuidade é isso talvez devido aos dissídios internos que agitam o país. dilacerado por antagonismos entre ingleses, boers, indianos, mestiços e negros, cujos ecos nos chegam diariamente.

Por sua vez, a Austrália, a Nova Zelândia e o Canadá negoceiam acordos com os Estados Unidos da América para efeitos da sua defesa militar, e isso bastante à margem da Inglaterra, que não comparticipou, pelo menos oficialmente, em tais reuniões.

As duas Rodésias e a Niassalândia intensificam as negociações entre si e a Inglaterra no sentido de se constituir um forte bloco, ao qual sejam dadas as regalias inerentes à posição de domínios, o que as conduzirá a uma situação de independência igual à dos que atrás se mencionaram.

Outro tanto se esboça com o Tanganica, o Quénia e a Uganda.
A índia, que de entre os grandes países que constituíam o império inglês era o que desfrutava de menores regalias, de um salto força os acontecimentos, coloca-se à cabeça e encontra-se hoje numa situação de privilégio em relação a qualquer deles, com o seu presidente da república, Parlamento, Governo e serviços públicos, donde expulsou é o termo o inglês.

Na Nigéria e na Costa do Ouro o movimento de libertação não é tão acentuado, mas quem visita aqueles países e compara a antiga atitude de sobranceria do inglês com a actual de deferência para com o indígena - contraste resultante da concessão de poderes bastante amplos no capítulo de administração - não pode deixar de se impressionar com a mutação dos acontecimentos.

Isto no que se refere ao capítulo da actividade meramente política, pois no que respeita à manutenção da ordem são numerosos os focos de luta no Quénia, na Malásia, em Hong-Kong e na África do Sul.

Eis, meus senhores, o panorama político dos países sob o domínio inglês.
6) Quanto ao daqueles que pertenciam à Holanda, a atitude dos seus habitantes criou a esta pequena metrópole uma situação desesperada. A Indonésia insurrec-cionou-se e, perante as atitudes hesitantes do Governo dominador, que não ousou servir-se a fundo dos fortes núcleos militares holandeses de que dispunha localmente, ganhou a independência de facto, disfarçando-a, porém, com a sua integração numa comunidade improvisada à última hora.

Pressões externas orientadas no sentido de se condicionarem auxílios financeiros ao compromisso de se ir para fórmulas de transigência, que redundaram em abdicação, levaram a Holanda do príncipe de Nassau e de Stromp a trocar um riquíssimo património pelo conhecido prato de lentilhas concretizado no auxílio do Plano Marshall. O negócio vem revelando-se já mau para quem o aceitou e mesmo para quem o propôs, e cada vez se há-de ir mostrando pior.
b) A França - saída da guerra com um moral baixíssimo, devido aos dissídios internos, que a desmoralizaram e enfraqueceram, trabalhada a fundo pelos agentes do comunismo interno e principalmente externo - mostrou-se nos primeiros tempos incapaz de aguentar o embate de forças centrífugas tendentes a desmembrar um império colonial formidável.

Por isso ela curvou-se perante a exigência por parte dum país estrangeiro, a União Indiana, do plebiscito nos seus enclaves asiáticos, onde realizou o de Pon-dichery, que perdeu; criou a fórmula de confederação dos países da Indochina, que, tendo um significado de fraqueza, incentivou o movimento insurrecional; tolerou e suportou as manobras de comunistas metropolitanos no Norte de África e permaneceu durante anos abúlica e desmoralizada perante os acontecimentos.

Com o tempo, porém, ela foi-se recompondo; o sentimento nacional ganhou ânimo; as forças internas da desordem a soldo do comunismo russo foram perdendo terreno, e então o espírito gaulês, equilibrado, claro e preciso, voltou a impor-se e efectuou a viragem.
Em lugar de evacuar a Indochina, como fizera a Holanda na Indonésia, dá ordem aos seus exércitos para se baterem e não dá sinais de arredar pé dali.