18 DE MARÇO DE 1953 885
liosas conclusões da endocrinologia e da psicanálise, motivo por que a escola se escalona, se desdobra, se diferencia, consoante se trate de normais, subnormais esquizofrénicos ou idiotas.
Estou a ouvir os comentários de alguns para quem tudo o que se disse (e que não é mais do que a repetição do que se tem escrito) é jogo de palavras e me perguntariam: é assim que se procede hoje na escola? Não se trata antes da complicação nos dados de um problema que afinal se resolveu sempre singelamente com mais ou menos puxões de orelhas, o melhor dos métodos, o finais eficaz, o mais proveitoso? Essa mesmíssima escola antiga não foi o centro de onde saíram melhores homens, melhores profissionais? Ao contrário do que se expõe da escola moderna, temos ouvido dizer que é fértil em produtos inferiores, ignorantes, com visíveis deformidades ...
Outros atribuem os escassos resultados dos estudos secundários à turba-multa de incapazes e atrasados que invadiram os liceus. Os melhores alunos ver-se-iam abafados pelo grande número de ineptos, que, entorpecendo as aulas, lhes matam o ardor. (La Cité Nouvelle).
Dito e redito por pedagogistas e mestres, tudo isto é afinal velho.
Para nós, o baixo nível cultural, ao contrário de se atribuir ao sistema, antes se deve considerar como resultado do modo como esse ensino se realiza.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Nalguns desses institutos - e a alusão, por vaga, conterá uma insinuação injusta, pelo seu carácter de excessiva generalidade, que, aliás, não posso remediar ou sequer evitar- o ensino que se pratica visa predominantemente o exame, e todos os professores sabem como no domínio de certas ciências a atitude de aprender é substancialmente diferente da atitude de adquirir automatismos de respostas e perguntas, a fim de lograr a nota tangencial de passagem.
No decorrer dos anos lectivos, e sobretudo após o segundo período escolar, nós sabemos como é grande o número dos que se afastam dos liceus, procurando outros «climas» onde a vida escolar, de arrastada -não sabemos mercê de que elixires -, passa a desenvolver-se numa harmoniosa euforia de satisfação e de aproveitamento. Continuemos, pois:
Se à escola, na sua concepção obsoleta, fosse exigido o que hoje se lhe exige, seria capaz de suportar o desenvolvimento da vida actual sem totalmente se subverter e ruir?
Mas, se assim se pensa, porque se exige então que a escola instale o seu pupilo em edifício amplo, arejado, luminoso e confortável, onde haja o banho e a cantina, a biblioteca, o amplo pátio de recreio, a piscina e o salão de festas?
Há dias, o Ministro da Educação do Governo Francês, inaugurando o Liceu Central, dizia:
Este elegante e vasto edifício, dotado com as mais modernas invenções da técnica, é, meus senhores, uma resposta triunfante aos pessimistas que, há vinte anos, declaravam insolúveis os problemas que se iam pôr ao ensino secundário.
Para o espírito humano não há problemas insolúveis.
Ninguém ignora a revolução que se operou no ensino a partir do momento em que a rádio, o cinema e a televisão, depois, possibilitaram transmitir conhecimentos fecundos que deixaram de ser simples abstracções.
Aqui se esboça um antagonismo entre aquilo que a pedagogia científica e a escola moderna consideram como útil e a nova estrutura do lar, que a cada momento se revela em mais ampla evolução.
O acesso da mulher às escolas médias e superiores, a sua arrumação na vida em competência com o homem, tornou o lar diferente do que era: casa de pais, escola de filhos. Não queremos denegar à mulher a prerrogativa de se instruir no sentido intelectual, e antes reconhecemos que a sua conduta é uma inevitável defesa na procura de meios de vida que a emancipem economicamente, uma vez que, se a mulher de há anos tinha no casamento o seu futuro, a de hoje só pode ater-se ao seu trabalho.
Nalguns países o Estado começa a apropriar-se da criança logo quase após os primeiros anos: é a chamada socialização da juventude. Acerca desses Estados disse o Prof. Serras e Silva: «... não se deve confundir o Poder forte, concentrado, com o Poder extensivo, intervencionista, que perturba a vida privada». Não pode haver dúvida sobre a vantagem que há em se ter sempre a autoridade forte - a força é em todas as condições uma vantagem e a fraqueza é sempre um defeito -, mas o ser forte não significa absorção, e muito menos opressão, nem diminuição desnecessária da liberdade significa tão-sòmente capacidade para fazer respeitar as suas decisões. Em certos países a autoridade paterna é muito forte e, contudo, as suas intervenções na vida dos filhos são muito limitadas. Desde que o seu vigor seja pressentido, isso basta para que a ordem se mantenha por si, sem abalos e violências. A autoridade fraca, sem prestígio, é que se perde em intervenções múltiplas, tão variadas como ineficazes. Dizia-se em Roma: «muitas leis, péssima república».
A escola assume nesses países o carácter de moeda que se cunha para se tornar o instrumento de utilização política, suprimindo, por nivelação, a individualidade dos educandos.
Ora na escola é impossível negar a realidade e a importância das aptidões que dão fisionomia ao adolescente. O respeito pela individualidade do aluno, o cuidado no seu desenvolvimento e orientação, não tendem, contudo, para o feiticismo individualista do século XIX, mas para a associação dele com o espírito colectivo, de modo que, apoiando-se no respeito comum, a liberdade possa consentir em servir sem totalmente abdicar.
O grave problema do ensino é principalmente de afluência. As escolas, em especial nos grandes centros, são frequentadas por massas compactas de jovens, e em tal ambiente não é possível ensinar nem aprender. Não há assim ensino possível, quanto mais educação.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A própria Universidade não pode, em muitos casos, ir além da leccionação teórica, critério memorista de pouca flexibilidade, tendendo para a estandardização, causadora de deformações mentais e limitando o próprio horizonte científico.
A substantividade dos centros universitários parece consistir numa pura obra cie secretaria, isto é, na concessão de títulos académicos, a maior parte dos quais, hoje, como se sabe, desprovidos de valor económico.
A desigualdade de tratamento do investigador e do erudito destrói quase, por assim dizer, o gosto da investigação, a qual, bem como a ciência, carecem de um valor prático que seduza, convença e alicie.
As bases que se propõem quanto à educação física não as apreciarei em pormenor.
Consigno que a educação física, inseparável da ginástica metodizada em qualquer dos graus de ensino, é um importante elemento de formação geral.
Vozes: - Muito bem!