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886 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 218

O Orador: - A educação física constitui um meio positivo, escrevia Spitzy, de conformar de um modo orgânico o corpo humano, influindo de maneira apropriada sobre o desenvolvimento e crescimento naturais.
O estudo do homem nos períodos de infância, adolescência e maturidade conduz à fixação e adopção de métodos próprios, em vista a aperfeiçoar as condições morfológicas e fisiológicas, aumentando o coeficiente de resistência e de energia.
Quais são os fins da educação física?
O professor Serras e Silva, antigo director-geral da Saúde Escolar, afirma:

O fim da educação física é dar a saúde, o vigor, a resistência à doença, à fadiga, às intempéries. Saúde, vigor físico, resistência são os fins que a educação física procura atingir. Estas são capacidades, não se confundem com a força muscular, com a flexibilidade das articulações, com a rapidez, a precisão, a elegância dos movimentos, etc., que são capacidades físicas, mas não definem nem a saúde nem a resistência e vigor do organismo.
A saúde, disse um mestre da medicina portuguesa, é uma soma que pode estar errada de maneiras diversas, mas que não tem senão uma maneira de estar certa.
Há no organismo uma hierarquia de valores, como em toda a sociedade bem organizada. Ao lado de pequenos valores há os grandes valores, representados pelas vísceras, de que dependem a vida e a saúde. Podemos viver sem esta ou aquela articulação, sem tal osso ou aponevrose, mas não se vive sem coração, sem pulmões, sem cérebro, sem rins, sem fígado.
As vísceras e as glândulas de secreção são os órgãos essenciais à vida e à saúde: a sua integridade funcional - que implica a integridade anatómica - e a sua harmonia é que definem a saúde e o vigor.
Da integridade e do equilíbrio das funções viscerais endocrínicas é que dependem os fins da educação física, porque estes consistem precisamente em realizar e manter esta integridade e este equilíbrio.

E depois, comentando Ling:

Ling correu com a rotina e olhou o problema pelo lado visceral, procurando:
1.º Desembaraçar o organismo das peias e entraves que impedem o funcionamento regular das vísceras;
2.º Vitalizar, avigorar o corpo pela educação da função respiratória.
Como o método é o caminho que deve seguir-se na constituição de qualquer ciência, em ciência de educação física, o caminho é composto de duas vias: a remoção dos obstáculos que se opõem ao bom funcionamento dos órgãos e dos aparelhos; o avigoramento do organismo pela educação de função respiratória, para boa ventilação pulmonar.
Ling teria visto com intuição e clareza de visão o que era preciso fazer, mas não foi feliz na técnica.

Todo o bom exercício com vista a desenvolver as forças da alma e do corpo é uma educação, e não se percebem por isso as amputações que se operam no sistema escolar do nosso país.
A ginástica e o desporto desaparecem nalguns horários, quiçá por desnecessários e inúteis, como se os exercícios activos e variados - variatio delactat -, de efeitos fisiológicos sobre o sistema nervoso, ou psicológicos, intelectuais, morais e sociais, não ajudassem o desenvolvimento integral orgânico pelo exercício, bem orientado, das funções musculares.
No relatório da proposta se historia: ao introduzir os exercícios ginásticos (1894) nos programas do ensino secundário salientava-se «que a fadiga cerebral, que estudos aturados e a longa permanência nas aulas inevitavelmente acarretam, tem a sua correcção na ginástica, nos jogos e nos trabalhos manuais».
Apesar de todas as tentativas para se estabelecer uma metodologia da ginástica dos jogos e desportos, sempre associados à higiene prática, a verdade é que se sente a falta de um comando com prestígio, que oriente com eficácia e ordene com decisão.
Aplaudo, por isso, a Câmara Corporativa quando alude à necessidade de reorganizar a Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, criada em 1942.
Foi notável, com efeito, nalguns aspectos, a acção de certos organismos particulares de índole desportiva, pois criaram e desenvolveram, como se diz no parecer, o gosto pelos jogos e pela vida ao ar livre no campo ou no mar. Foram, na verdade, os fomentadores da educação física nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-O desporto moderno, porém, desprovido do seu carácter lúdico, debate-se hoje em constantes choques emocionais de verdadeira excitação histérica, que deformam o espírito desportivo, gerando tendências exclusivistas, violentas, perigosas e, por isso mesmo, deseducadoras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na base IV estabelece-se que o Instituto Nacional de Educação Física continue a promover o revigoramento físico da população portuguesa nos seus aspectos individual e social e a formação dos respectivos professores, tanto do ensino oficial como do particular, e na base V estipula-se que «o curso de habilitação será constituído pelas disciplinas que assegurem, a par da preparação social, a formação biopedagógica e técnica, tendo em vista as condições mesológicas do nosso país e as capacidades fisiopsicológicas da raça».
A Câmara Corporativa, concordando que a escola do educação física deve ser escola única civil e militar, embora, evidentemente, a preparação para os corpos docentes no Exército e na Armada tenha características diferenciadas exclusivamente castrenses, sugere a adopção de três categorias de agentes de ensino: professores, instrutores e monitores.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Isso que V. Ex.ª está a dizer é rigorosamente exacto.
A Câmara Corporativa não reparou que o problema é posto na proposta do Governo, que, em vez de dizer que se organizam desde já os cursos de monitores ou instrutores, estabelece a possibilidade de eles virem a organizar-se.
Não há, portanto, nenhuma contradição.

O Orador: - A preparação dos professores de Educação Física tem variado muito
através dos tempos, e ainda de país para país, com evidente superioridade dos das regiões escandinavas. A ilustração e a proficiência dos professores de ginástica suecos são o motivo da sua excelente reputação.
Foram também célebres as escolas de Berlim, Dresden e Estugarda. Menciono - perdoe V. Ex.ª, Sr. Presidente, a divagação no passado - o aplano de estudos» do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, omitindo a transcrição dos horários, citado por H. Spitzy