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19 DE MARÇO DE 1953 901

As normas estudadas e lançadas de meio tão prestigioso e autorizado permitirão pôr a educação física no justo plano e em condições de desenvolver-se nele, com inteligência, método e ânimo, de modo a despertar as consciências para um movimento ascensional e fecundo em realizações e resultados do que estamos necessitando.
A preparação dos agentes de ensino continuará a fazer-se no Instituto Nacional de Educação Física, a remodelar nos termos das bases IV a XI, dispostas para dar ao ensino da Educação Física os fundamentos científicos e as condições materiais e espirituais, para o elevar e colocar no lugar que lhe compete entre os estabelecimentos da sua categoria.
É fora de dúvida que o Instituto Nacional de Educação Física está na base de tudo o que se desejar fazer de sério e de seguro para melhorar a mentalidade dirigente da educação física e renovar o ar onde ela se pratica, como elemento capital para a formação de uma firme consciência pedagógica que transforme o nosso sistema de cultura física. Que assim é revela-o a importância que se lhe deu no projecto de proposta de lei, reservando-lhe oito das suas onze bases.
Só é de desejar que a sua reorganização, inspirada nelas, tenha a felicidade de dar ao ensino da Educação Física maior categoria e mais autoridade, tornando-se o Instituto Nacional de Educação Física, na verdade, o «cérebro da acção educativa e pedagógica unitária» da educação física em Portugal, como se deseja, para que a sementeira desta seja anais vasta e de melhores frutos.
As bases a que já me referi e que reorganizam a subsecção de educação física da Junta Nacional da Educação e o Instituto Nacional de Educação Física não levantam problemas de fundo, mas sim de pormenor, que melhor se localizam durante a discussão na especialidade.
Só a base m provoca uma série de considerações que atingem um dos princípios que o projecto de proposta de lei deseja assegurar - a unidade de comando.
A questão é levantada, com certa razão, pela Câmara Corporativa no seu parecer.
E fora de dúvida que será vantajoso ligar de certa maneira e coordenar o que se está a fazer em educação física nas escolas, na Mocidade Portuguesa, na F. N. A. T. e nas colectividades particulares, encaminhando tudo para que os esforços se conjuguem e completem e se aproveitem bem os recursos de que dispomos.
Procura-se localizar na Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar o posto de comando para dirigir a batalha da educação física.
Que poderes devem ser conferidos à Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar na sua prevista reorganização para levar a bom termo tão espinhosa missão?
Até onde deve ir a sua acção intervencionista, no vasto e movimentado terreno em que habitam os factores que influenciam as coisas da educação física, sem contrariar as leis naturais da espontaneidade e da iniciativa e a liberdade de que necessitam para respirarem, e moverem-se sem peias burocráticas, entorpecedoras e desmoralizantes?
Apesar de o meu espírito se sentir predisposto a ter como bom o princípio da unidade de comando, também me sinto tocado pelas objecções feitas pela Câmara Corporativa no seu parecer.
Eu vou dizer porquê.
Entremos com o pensamento no mundo da educação física, cheio de condicionalismos, e detenhamo-nos aqui e acolá, só para fazer uma ideia, neste momento, que ajude a esboçar uma sugestão fundamentada.
Comecemos por pensar nos meios específicos em que se decompõe a educação física, fazendo um ligeiro apontamento para cada um. São eles:

A ginástica de formação;
Os jogos educativos;
Os desportos.

A ginástica de formação está na base da educação física e é imprescindível para o desenvolvimento racional e harmónico do homem, fazendo mover o seu complexo organismo com equilíbrio, elegância, capacidade física e saúde no labor normal da sua vida e na prática bela e salutar dos desportos. Assim, tem de ser tida como essencial na formação do indivíduo e, consequentemente, generalizada pana poder algum dia chegar a toda a parte e a toda a gente, solicitando, para tal, uma campanha bem estudada e decidida, como a que foi recentemente lançada pelo Ministério da Educação Nacional contra o analfabetismo.
O analfabetismo da educação física não é menos prejudicial à valorização da nossa gente.
Os jogos educativos são exercícios de iniciação desportiva e meios fáceis e eficazes de dosear, para aumentar a resistência física e fomentar a aplicação de princípios morais num clima expansivo e alegre, onde se revelam instintivamente qualidades; e defeitos, proporcionando a oportunidade de se exercer uma acção educativa, estimulando as qualidades e corrigindo os defeitos.
Os desportos são a continuação dos jogos educativos e da ginástica de formação para eles é atraída a gente moça e em sua volta movimentam-se interesses nem sempre compreensíveis e grandes massas populares apaixonadas, que tantas vezes lhes tiram a beleza e a sua utilidade, por excesso de entusiasmo. É através deles que os povos manifestam em exibições e competições públicas em terreno nacional ou internacional a virilidade, lealdade e nobreza de uma raça.
A estas ligeiras notas sobre o esquema geral da educação física há ainda a acrescentar a diversidade de actuações que a ginástica, os jogos e os desportos exigem para que os exercícios tenham a sua aplicação óptima, o que implica uma prática metodicamente escalonada, tendo em atenção o estado de desenvolvimento psicofísico, as idades e os sexos e os factores da natureza cósmica e moral que
rodeiam os elementos humanos a abarcar e a educar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outro aspecto. Não se pode também deixar de pensar na origem, natureza e constituição dos agrupamentos onde se pratica a educação física, com a sua fisiologia e psicologia próprias e possibilidades materiais limitadas.
Encaminhemos agora o pensamento para esse lado e consideremos o nosso mundo da educação física compartimentado em três grandes sectores.
O da Mocidade Portuguesa, o da F. N. A. T. e o das colectividades desportivas particulares, orientado pela Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar.
Não considero para o caso o sector militar, por ter ficado fora da alçada do projecto.
Cada um deles é caracterizado por certo número de particularidades, que requerem sistemas e métodos diferentes de direcção e acção, o que tem sido reconhecido pelo próprio Estado, tomando posições diferentes perante cada um deles.