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19 DE MARÇO DE 1953 907

Reforma que consiga levar mais mocidade aos ginásios e mais e melhores atletas aos campos e às pistas.
Reforma que contribua para elevar os records nacionais e obter mais lisonjeiros resultados nas competições internacionais.
Reforma que crie no público que lhe assiste um entusiasmo são e um verdadeiro espírito desportivo.
Na sua feitura não se deve desprezar a experiência e os resultados práticos obtidos durante a vida intensa já vivida pela Mocidade Portuguesa, F. N. A. T., Direcção-Geral da Educação Física. Desportos e Saúde Escolar e Instituto Nacional de Educação Física, colhendo nos seus êxitos e insucessos os ensinamentos necessários para não estragar o que é bom e não insistir no que se tem tornado inoperante e prejudicial.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: ao estudar a proposta de lei n.º 237, que agora se discute, relembrei o admirável discurso de S. S. Pio XII dirigido ao Congresso Científico de Educação Física em 8 de Novembro de 1952, todo ele com base no princípio que, em poucas palavras, definiu:

Tudo o que serve para a consecução dum fim determinado devo tirar do mesmo fim a regra e a medida.

E, para sequência das suas claras e seguras deduções, acrescentou o Santo Padre:

A educação física tem como fim próximo educar, desenvolver e fortificar o corpo sob o ponto de vista estético e dinâmico; como fim mais remoto n utilização, por parte da alma, do corpo assim preparado para o desenvolvimento da vida interior e exterior da pessoa; como fim ainda mais profundo contribuir para a sua perfeição; por último, como fim supremo do homem em geral e comum a todas as formas de actividade humana, aproximar o homem de Deus.

Segue-se, assim, acrescento, que deve aprovar-se tudo o que é útil a estes fins o rejeitar-se o que a eles não conduz ou dos limites fixados se afasta.
A educação física deve pois ser considerada como um elemento primordial da educação geral ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-... tendo em vista manter e melhorar a saúde, colocar o homem nas melhores condições de receptividade intelectual, contribuir para a formação do carácter pelo desenvolvimento das qualidades morais, enfim, alcançar o alto ideal sintetizado na divisa espartana da escola de Salerno (Mens sana in corpore sano) ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-... a que muitos têm emprestado o significado, que nem entre os pagãos teve, de só em corpos sãos haver almas sãs.
Mas, face a esta finalidade, que define a sã doutrina, ditada pelas Escrituras, colhida nos ensinamentos dos apóstolos e nas palavras dos mais autorizados valores intelectuais, ergue-se muitas vezes quem procura emprestar ao corpo a categoria de primado do composto humano. Todavia, a história de todos os tempos e de todos os povos mostra bem que tal divinização degrada o homem, enfraquece a raça, cava a ruína das pátrias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Por outro lado, tem havido também quem julgue dever desprezar-se o corpo, para só nos ocuparmos da alma. A tal respeito, Bickel, o grande apóstolo do desporto cristão, no seu livro Para além da Bola, esclarece perfeitamente o assunto:

São tentados a confundir a preguiça e o desinteresse da saúde do corpo com duvidoso ascetismo cristão, dando pouco valor ao andrajo, ao desprezível invólucro da alma que é a nossa carcaça carnal.
Há quem se permita, até autorizar-se com o exemplo de numerosos santos, que visivelmente desprezaram, senão torturaram, o miserável companheiro de infortúnio sobre a terra - o corpo -, para só se ocuparem da alma, a única digna de interesse aos seus olhos.
Estes desconheceram manifestamente as leis da prudência ordinária. Mas acautelemo-nos de julgar os santos pelas leis puramente naturais.
As suas obras, as suas penitências extraordinárias, inteiramente penetradas de amor divino, são eficazmente sustentadas pelo auxílio de Deus, que não raro decuplica as reservas da sua saúde. Se Deus espera muito dos seus amigos santos, dá-lhes também muito.
Ninguém poderia, contestar que a força divina, capaz de formar profetas como Moisés, santos como S. Francisco de Assis, num plano heróico, possa dispensá-los da inquietação do culto do corpo. Mas o comum dos mortais não pode impunemente afastar-se dos caminhos vulgares, seguros, da prudência. Ela ó a via ordinária estabelecida por Deus, e só ele pode sancionar excepções, que revestem carácter de milagres.

Mas não é para aqueles que entendem dever desprezar-se o corpo, não o respeitar e estimar como dádiva de Deus, que se torna necessário legislar. São poucos os que esquecem que cuidar do corpo é um dever derivado do 5.º mandamento, que manda guardar a saúde e a vida.
O que urge é tomar todas as medidas possíveis para evitar ou reduzir os perigos da vaga de materialismo que assola o mundo do hoje ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- ... e que, ao fim e ao cabo, se traduz na idolatria do corpo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-É sobretudo através do desporto, que tão forte sedução exerce na juventude da época que vivemos, que muitos são arrastados ao culto, à divinização do corpo.
Cai-se, não raro, num desporto agnóstico e ateu, como diz Mons. Avelino Gonçalves, num desporto onde o espírito cavalheiresco, a dignidade humana, a elegância moral, a função educativa são sacrificados à paixão cega do grupo, à mira única do campeonato (traduzindo, quantas vezes, grossos proventos), à predominância do animal sobre o humano, à deslealdade, à «rasteira», à brutalidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!