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1070 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 226

Dando-se mais afincadamente ao estado do problema, chegou à conclusão de que o gado transportado de longe para ser abatido nas cidades chega a perder, em alguns casos, 25 por conto do seu valor.
E foi para uma solução revolucionária pela novidade, simples como a própria verdade, mas eficaz, porque baseada nos mais rigorosos ensinamentos e aperfeiçoamentos da técnica.
Dirigiu-se com os técnicos às regiões da França em que se cria o melhor gado e do carne mais saborosa e, de acordo com os lavradores e associações agrícolas, montaram-se aí matadouros rurais devidamente apetrechados e em condições técnicas de se poderem aproveitar todos os subprodutos da carne.
Esta era metida em pequenos sacos de celofane, com peso certo o indicação da qualidade, saquinhos esses colocados em caixas de alumínio e o transporte feito em camiões.
Nas cidades havia casas de venda, com pessoal irrepreensivelmente limpo e com balança para o consumidor verificar, querendo, o peso exacto da carne que estava no saquinho.
O resultado foi conseguir-se por este processo o que os marchantes diziam impossível: carne ao preço estipulado pelo chefe do Governo e ainda com a promessa da parte dos lavradores associados de se baratear o preço da carne em 25 por cento, desde que as populações citadinas soubessem compreender este esforço das populações rurais em favor dos meios urbanos.
Porque não há-de ser possível em Portugal o que tão recentemente e com tanto êxito se realizou em França? Só o não será se os técnicos, os governantes - com subsídios - e a organização da lavoura - para uma economia mais justa e mais ao serviço da Nação - se não derem as mãos, como é indispensável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E digo que é indispensável porque sem isto as populações rurais não terão interesse em criar gado e as citadinas continuarão a pagar a carne a preços exorbitantes. A experiência feita está dentro dos melhores princípios da produção e distribuição da riqueza e da crítica salutar feita no notável parecer das contas públicas.
Sr. Presidente: é com iniciativas destas e olhando a sério para o abandono das populações rurais que a técnica mostra praticamente o seu valor e se faz, a bem da Nação, uma política económica de produção, circulação e consumo justa, equitativa e útil a todos.
Pena é que entre nós os interesses criados sejam tão fortes e certas posições ocupadas tão injusta e obstinadamente defendidas, e assim se não tenha feito em matéria de gados e de carnes a política nacional que se impõe e nos indica a experiência feliz realizada em França pelo Governo Pinay.
Mas o que se passa com gados e carnes acontece também com a fruta.
Que o diga o nosso ilustre colega Dr. Manuel Vaz, relatando-nos o que acontece com a da veiga de Chaves e sua região.
É ela ali excelente, e, contudo, não passa de uma riqueza nacional que se perde ou de um valor quase por completo desvalorizado.
Há nas grandes cidades procura de boa fruta; mas, sendo de região de pequena propriedade, a fruta de Chaves, por falta de cooperativas de lavradores, apodrece ao abandono ou é destinada aos animais, porque nenhum produtor está em condições de a colocar no mercado de Lisboa e muito menos de a exportar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Amares é no Minho, terra de excelente laranja, que pela estação de Braga é enviada para os mercados de Lisboa. Só o distrito de Braga vende para Lisboa mais laranja do que todos os outros do País.
Mas aproveitam a lavoura regional o as populações rurais na proporção do valor das laranjas?
Por falta de organização de crédito e de cooperativas de produção e venda de laranja, a economia familiar do lavrador é vitima da exploração mercantil de endinheirados e intermediários, e a laranja é vendida em Janeiro de cada ano ao desbarato, ainda com o encargo de o lavrador a defender dos rapazes e dos ladrões.
Por estudos recentes parece ter-se chegado à conclusão de que as laranjas do Minho não devem ser enviadas para Lisboa cedo, mas nos meses de Verão.
Amadurecendo mais tarde que as laranjas do Centro e Sul do País, não têm nos primeiros meses do ano a doçura das provenientes de regiões mais quentes, mas nos meses de calor possuem a frescura que noutras se não encontra. Fala-se agora muito em aproveitar os terrenos mais pobres do Minho para laranjais, numa cultura associada com oliveiras, que é a forma tradicional no Norte do País e tom a vantagem de defender as laranjeiras das geadas e dos estragos dos vendavais.
Mas nada disso resultará em proveito dos pequenos lavradores se a estes faltar crédito, cooperativas e organização. Cada vez se põe com mais urgência a imperiosa necessidade do dar à lavoura uma organização que mereça tal nome.
Há semanas prestou a lavoura da sua região uma justa homenagem ao nosso ilustre colega Melo Machado, pelo entusiasmo e brilho com que a tem defendido. E quando os homenageantes e o homenageado se dirigiram ao Sr. Ministro da Economia foi para reclamarem de S. Ex.ª cooperativas, como meio indispensável da valorização agrícola e da necessária elevação do nível económico das populações rurais.
Têm os reclamantes toda a razão. Mas o problema é tanto mais grave e crucial quanto mais se caminha para as regiões de pequena propriedade. Nessas é que, ou se criam cooperativas, ou o lavrador, sem nível económico de vida decente, emigra ou procura nas cidades o que elas tantas vezes lhe não podem dar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Com razão e muito a propósito se afirma no parecer das contas públicas que a emigração pode ser um mal social grave se se fizer em excesso, e que a fuga para as cidades já está a ser combatida em muitos países como mal que sob muitos aspectos se considera de gravíssimas consequências.
Mas nem é possível travar a emigração, reduzindo-a às proporções de facto social inevitável e natural expansão dos meios populacionais do País ricos em vidas, nem obstar à debandada para as cidades sem que se dê à vida rural mais desafogo e aos rurais mais justa compensação do seu esforço.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Porque tudo isso falta é que as aldeias se despovoam e só fica no trabalho agrícola quem dele não pode fugir, porque em qualquer outra espécie de actividade em que empregue o seu esforço há melhor salário, mais horas de descanso, mais assistência e mais vantagens.
O problema é sério e tem como causa primária e inicial a desorganização da lavoura. Para se sair deste mal económico e social, que conduz à perda de muita riqueza nacional ou, em muitos casos, a uso dela que aproveita, injustamente, a poucos, com prejuízo de muitos