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5 DE ABRIL DE 1957 563

(ver tabela na imagem)

Um aumento de 64,7 por cento em vinte anos pode não espantar um americano, mas não deixa de revelar um progresso apreciável em país tão fracamente industrializado e onde os capitais para investir foram sempre escassos.
Ora este progresso evidencia, ou devia evidenciar, acréscimo geral de riqueza e se dela não comparticiparem alguns grupos sociais então há que averiguar as causas da sua defeituosa distribuição e corrigi-las. É este um problema que requer atenção, firmeza e coragem e espero que não faltem a quem deva intervir para travar certo capitalismo tentacular que por aí vai alastrando, impante de lucros. Não que seja contra o capital, mas apenas contra o capitalismo, sua deformação. Por mim, entendo que o capital deve suposto ao serviço do homem e dos seus fins, mas é possível que fale uma linguagem ultrapassada e de poucos entendida.
Volto ao rendimento nacional só para fazer um confronto e tirar uma conclusão:

Anselmo de Andrade escreveu, em 1902 (Portugal Económico, l.ª edição, p. 29):

Actualmente o rendimento bruto da produção agrícola não pode ser inferior a 110 000 contos.

Ora basta pensar que só a exportação de resinosos ultrapassa o dobro daquele rendimento bruto.
Fixemos, por último, que. sendo a contribuição da agricultura para o rendimento bruto nacional de cerca de 27 por cento deste, acharemos que tal contribuição atingiu, em l956, 12 402 000 contos. Daqui não ser ousado afirmar que a agricultura tem correspondido, até onde as condições naturais o têm permitido, às exigências decorrentes do crescimento demográfico.
Volvamo-nos agora para a população citadina e o seu problema alimentar.
Aceita-se geralmente que a ração alimentar para um adulto em actividade média deve fornecer 3000 calorias.
Todavia, nota Bolet-Gercout: «Na Suíça, aquando da última, guerra mundial, a ração calórica foi muitas vezes inferior a 2000 calorias por dia mas manteve-se equilibrada; a saúde dos indivíduos não foi afectada».
Este facto experimental vem corroborar o valor relativo que temos de atribuir aos números standard em matéria de dietética. O equilíbrio da dieta sobreleva à quantidade.
Na falta de inquéritos recentes adequados que nos esclareçam o problema quantitativo e qualitativo da ração alimentar da população citadina não é possível ajuizar da sua suficiência ou insuficiência em relação a certos grupos sociais de orçamento limitado. Sabemos todos que há uma zona populacional subalimentada, mas ignoramos, de todo, o valor da sua pobre dieta.
Não vale a pena fechar os olhos a essa realidade viva de que os pobres dão conta diariamente e sobre a qual se debruçam tantas vezes para honrar o nome de Deus. Digo os pobres, porque os ricos, pelo geral, não têm tempo para se ocupar destas pequenas grandes coisas ti passam demasiado absorvidos e distantes. Reconheçamos, pois, a existência do problema e confessemo-lo sem vergonha. Não é um caso português, mas tão vasto como o Mundo e que os povos ricos não eliminaram ainda totalmente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E posto isto, tentemos saber, por aproximação, o que de verdade se passa.
Recentemente o Dr. Salviano Cruz, que em Lisboa se ocupa do pesquisas económicas, realizou um inquérito aos hábitos alimentares da população citadina do País, inquirindo directamente quinhentas e sessenta e uma donas de casa de vários grupos sociais.
Quero deixar aqui uma palavra de agradecimento ao Dr. Salviano Cruz pela amabilidade de me facultar a leitura do seu trabalho, ao qual farei algumas referências.
O inquérito abrangeu as cidades de Lisboa, Porto. Aveiro. Viseu, Draga. Évora s Portimão e por ele se averiguou que 95 por cento da população come às refeições sopa ou caldo e um prato.
As sopas e caldos mais frequentemente cozinhados escalonam-se pela ordem seguinte:

1.º Sopa de carne com legumes;
2.º Sopa de feijão verde;
3.º Caldo verde;
4.º Sopa de feijão com legumes e hortaliças:
5.º Sopa de legumes e hortaliças.

Quanto ao prato complementar, apurou-se também que é cozinhado com base em peixe ou carne. Os pratos servidos com maior frequência são: peixe frito com salada e arroz, carne variada, bifes com batatas, arroz ou ovos. Foi pena que se não tivesse averiguado da quantidade do cada um dos alimentos componentes das sopas, caldos e prato. Isso permitiria determinar com bastante aproximação o valor calórico de cada refeição, mas como essa averiguação foi apenas parcial, nada de positivo consegui apurar.
Quanto ao consumo de protidos, averiguou-se, porém, que se come muito mais peixe do que carne. E antes que alguém se lembre de subestimar as proteínas fornecidas pelo peixe, apresso-me a recorrer novamente a Boulet-Gercourt. Escreveu este dieteta (Manual de Diéctétique, p. 14): «O valor nutritivo da carne não é superior ao do peixe ou dos ovos: 100 g de peixe